quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um certo amor

" Corria o mês de Setembro quando fui saber os resultados do exame. Nervosa, tentei descobrir o meu nome nas dezenas de pautas espalhadas pelas vitrines que enchiam o claustro do edifício do Quelhas, como então era conhecido. Perdida naquele mar de classificações, não conseguia atinar com as minhas notas. In extremis decidi pedir ajuda.
Foi quando, ao longe, vi um vulto. Aliviada, dirigi-me para ele. O vulto virou-se e...que dizer, a sombra tornou-se dia. Fiquei tão siderada, tão deslumbrada, que não consegui articular um único som. A boca seca e o corpo imóvel faziam de mim uma boneca sem corda.... Só ao fim de alguns segundos, a garganta permitiu que articulasse umas palavras desencontradas.
Foi a única vez que tal me aconteceu com tanta intensidade. E foi, também, o início de uma longa história de amor que só acabou com a trágica morte do objecto da minha paixão."

(Excerto do livro "Porque é que as mulheres gostam dos homens" de Helena Sacadura Cabral)

A recordação deste meu primeiro amor de adolescente continua tão viva como se tivesse acontecido ontém. Hoje, descrevê-la nestes moldes, pode parecer ridículo. Não importa. Foi exactamente assim que a guardei dentro de mim todos estes anos.
Ao falar de amor é dela que sempre me lembro como uma das mais belas páginas da minha vida.
O António - era este o nome da minha grande paixão - morreu num 8 de Julho de há alguns anos. O que nos ligou foi tão forte, tão intenso, que eu acredito que, onde quer que ele se encontre, estará comigo neste dia.

H.S.C

12 comentários:

  1. Helena: a forma como o Amor desperta, é um dos mistérios da vida.No Amor está tudo inventado; tudo dito,portanto: só poderemos falar dele -amor- em função da nossa perspectiva e experiência pessoal. É o que acontece com este excerto, descrito no pormenor, na atençao ao detalhe. " A boca seca e o corpo imóvel faziam de mim uma boneca sem corda.." porra! já me senti assim! Tão sem jeito, pequenino: à procura de um lugar onde me esconder, mal dizendo a má sorte de não ter jeito nenhum, para conquistar seja quem for.
    Afinal não sou assim tão diferente ao ler o exto.
    obrigado Helena beijinho

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  2. num relance
    uma forma
    um momento
    suspenso

    um instante
    do tempo
    parado
    presente

    um voltar
    a olhar
    um rosto
    no ar

    o rosto
    a ver
    um olhar
    que vi

    pousei
    os olhos
    vi-te
    a ti

    Pedro
    2007-10-11

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  3. Joni e Pedro como é bom ter-vos ao meu lado. Um imenso abraço da Helena

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  4. São tão boas as paixões... E, mesmo que e quando acabam, continuam na eternidade das memórias que guardamos. Só por elas já é bom viver nos episódios das nossas vidas.

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  5. sim, todas as histórias de amor são ridículas... não foi isso que o escritor escreveu? mas, e então?

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  6. Querida Milady, essa forma generosa de partilhar a emoção é redentora. E cúmplice - já não sinto os meus rabiscos tão sozinhos... :)
    É tão bom levitar dessa maneira, mesmo que depois nos percamos...
    É tão... indizível...
    Abraço grande-grande!

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  7. Ah! E o Carlos Narciso!
    Que 'encontro' auspicioso!
    Há tanto que não ouço a voz dele - faz falta, a voz e a presença televisiva...
    Que bom 'tropeçar' nele por aqui, mesmo que "assim"... :))

    Com se desejava no antigo Egipto: "Vida, saúde e força!".
    (para todos, mas em especial para ele, aqui e agora).

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  8. Que bonito que é falar e escrever assim...
    miss you

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  9. Obrigado ... por se abrir. É uma grande generosidade para quem a "escuta" aqui no blog.

    Abraço

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  10. O Carlos Narciso ele mesmo. E que ele faz falta lá isso faz. E que a gente tem saudadades lá isso tem.
    Não sei como aqui veio parar. Mas que foi bom, lá isso foi.
    Foi Deus... como no fado!

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  11. Comprei o seu livro, um dia que fui a Viseu. Achei-o delicioso, como deliciosas são as lembranças das nossas grandes paixões.
    Quando tiver um bocadinho, convido-a a visitar o meu blog.
    Cumprimentos.

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