Por uma qualquer razão o nível de exigência pessoal é baixo no nosso país. Parece, até, que os indivíduos que tentam sair dela, são marginalizados. Não falo, claro está, das elites. Falo das pessoas comuns que pretendem tornar-se melhores, mais competentes ou mais qualificadas. Nada em Portugal estimula a excelência. Acabaram-se os quadros de honra, os alunos não são obrigados a ter média positiva em todas as disciplinas para passarem de ano, a cultura aprende-se, agora, na ignorância das novelas e programas de entretenimento televisivos, os pais demitem-se do exercício de autoridade que acompanha a missão de educar e os filhos não sabem nem como nem quem respeitar.
Esta geração, quando chega à Universidade, tem evidentes dificuldades. Não está lá por vocação. Está lá a cumprir uma obrigação. Para, um dia, ter um emprego. Não uma profissão.
O quadro para a mediocridade proliferar não pode ser melhor. E aqueles que não querem viver neste caldo improdutivo acabam por sair. E, em grande parte dos casos, não voltar.
Portugal tornou-se, assim, um exportador de massa cinzenta. E, mau grado nosso, um importador de braços e de...revigorantes da nossa envelhecida pirâmede etária!
Se os responsáveis que nos governam não estiverem à altura de perceber estas realidades, dificilmente nos livraremos da nossa pequena mediocridade.
H.S.C
Gostei muito do seu texto :)
ResponderEliminarDireitinha ao cerne da questão!
Sim, porque não se emigra só por questões económicas, mas também para evitar entrar em esquemas de compadrio, de corrupção, e sobretudo, para evitar ter de vender "a alma ao Diabo", quando se quer pautar por certos valores.
Claro que há os que ficam e continuam a ser honestos. Mas a Dra Helena entende do que falo...daquilo que se ouve todos dias nas notícias.
Também se emigra à procura de mais organização, mais sentido cívico, mais respeito por procurar levar uma vida digna, porque não se quer recorrer ao chico-espertismo, mais confiança na sociedade (nenhuma é perfeita, sabemos nós).
Nós saímos do país já na casa pós-35 anos e prejudicámo-nos, claro.
Quisémos dar o nosso contributo ao país, sempre a trabalhar e à espera de dias melhores. Não vivíamos acima das nossas possibilidades.Não sobrecarregámos os nossos pais nem os bancos.Sempre com os impostos e segurança social em dia. Mas tivémos de sair. E continuamos a amar o nosso país.
Desculpe o desabafo, Dra Helena. Mas foi tão certeira a tocar na ferida.
Mais uma vez, os meus parabéns por este espaço!
Hum... Para fugir da mediocridade a auto-marginalização é essencial. É o preço a pagar, não vejo nisso qualquer problema. Quanto às elites... Quais? Parece-me que um dos principais problemas do nosso jardim reside precisamente na vulgaridade das nossas 'elites', aliás, estou em crer que se muitos cérebros fogem é porque as 'elites' nacionais estão fechadas sobre si mesmas e têm inclusive a tendência para considerarem que os que vão para fora, quando regressam, chegam com modernismos e manias que nada têm que ver com a realidade que essas 'elites' julgam compreender tão bem. Assim, não admira que eles partam de novo, porque no nosso jardim, de facto, a possibilidade de progressão é muito reduzida.
ResponderEliminarGostei do blogue.
sem hábitos de trabalho nem capacidade de concentração, sequer métodos de estudo, chegam à faculdade e é vê-los chumbar que nem tordos no 1º ano... e o que se faz?
ResponderEliminarinstitucionaliza-se uma forma de explicações que a universidade suporta, e um gabinete de acompanhamento, mais umas sessões de ensino de métodos de estudo, além de apoio psicológico aos alunos, tudo a expensas universitárias porque há dinheiro a rodos e o governo não tem cortado nos orçamentos para o ensino superior...
em vez de tratar do problema onde ele acontece, eliminando o deixa andar institucionalizado do ensino pré-universitário, o problema é transferido para a universidade que assume responsabilidades que não lhe competem... falta pouco para começarmos a ter que lhes ensinar também mecanismos de raciocínio elementares e formas de escrita em Português... e em três anos saem licenciados... e com mais dois anos saem mestres com teses feitas à pressão para cumprir metas de avaliação das universidades porque só contam as teses concluídas no prazo legal estipulado... vá lá que agora as teses passam a ser classificadas de 0 a 20, a ver vemos se as médias obtidas vão reflectir a "qualidade à pressa", digo eu, que nestas coisas tenho tendência para ser pessimista...
Eu acho que esse discurso do nosso colega Lúcio Ferro sobre a elite ser responsável pelas mazelas sociais que assolam um país, já está defasado.
ResponderEliminarA elite não é culpada sozinha por problemas sociais; a elite paga impostos e muito altos; a elite dá emprego, ainda que explore dentro de um capitalismo que chamam de selvagem, mas não vejo diferença do socialismo "financeiro" abominável que tomou conta da América Latina.
Quanto à mediocridade, aponto isso para falta de incentivo e investimentos em níveis educacionais que ocorrem tanto em Portugal quanto no Brasil. Nasci em 1978 e vários jovens que estudam comigo me acham uma mulher arcáica pelo simples fato de ser fã das obras de Villa Lobos. Muitos desconhecem quem foi Heitor Villa Lobos. Eu pergunto: é este o profissional que estamos formando ? A culpa não é da elite pelo fato dos jovens não se interessarem por cultura. A culpa também não é só do governo. A culpa também é da própria população que sente comiseração de si o tempo todo e não luta contra a fumaça que deturpa o conhecimento, o saber. É muito mais fácil o comodismo e a comiseração em jogar a "culpa" na elite e no governo. O povo está se acomodando e permitindo muitas atrocidades governamentais, intelectuais e administrativas. Mas ao mesmo tempo, temos que reconhecer que um país que não investe em educação terá como consequência um povo atônito, mas será que não é justamente isso que os governantes querem ? A meritocracia foi simplesmente extraída dos conceitos educacionais que norteiam as sociedades hodiernas, pelo menos na América do Sul. Eu posso afirmar...o que se tem hoje é um povo que quer dar um jeitinho brasileiro, ou um jeitinho à moda corte portuguesa. Esta aceitação já está se refletindo em consequências nefastas para a sociedade como um todo...trocaram a meritocracia pela mediocridade nefanda...
Helena parabéns mais uma vez !