sábado, 28 de março de 2009

O lado público do privado

A incapacidade que o actual governo mostra para lidar com a comunicação social é manifesta, o que surpreende num partido que sempre pretendeu dar de si uma imagem de transparência e tolerância. Pode argumentar-se que o jornalismo actual é por vezes excessivo. Mas quem escolhe ser político escolhe ser escrutinado muito para além das eleições periódicas. É um escrutínio diário a todos os aspectos da vida daqueles que optam por este caminho, muito em particular, aos que exercem funções governativas. Nestes, a distinção entre o que é vida pública e vida particular é tão ténue que me arriscaria a dizer que quase não existe. Talvez porque todos saibamos que há aspectos da vida pessoal que espartilham bastante o exercício das funções oficiais... Basta lembrar Sá Carneiro, que teve a "coragem" de apresentar Snu Abecassis como sua mulher, quando um casamento católico não lhe permitia o divórcio da mãe dos seus filhos.
Direi, mesmo, que a invasão de privacidade se estende - gostemos ou não - à família mais chegada. Que sofre, claro, as consequências de uma escolha que não foi sua. E, neste caso, ou há uma verdadeira "união familiar", que alguém tem de saber gerir, ou os resultados podem ser desastrosos para todos.
O que também impõe aos políticos em exercício de funções governativas, não usarem essas mesmas funções para tentar silenciar o que a comunicação social, no desempenho do seu papel, se esforça por descobrir para informar. Quando a informação publicada não for verdadeira, os Tribunais são a instância própria para a julgar. Se há crime de difamação compete ao cidadão recorrer à Justiça para repor a verdade dos factos. Tudo o resto só prejudica o próprio e os seus.
O que um Primeiro Ministro não deve fazer, ao sentir-se injustiçado, é usar justamente os meios de comunicação social para justificar os seus actos.
"Quem não deve, não teme", diz o povo e tem razão. Os media podem estar a incomodar muito o Eng. Sócrates e a sua Família. Estão com certeza. Mas o chefe do governo não deve publicamente perder tempo de governação para lhes responder.

H.S.C

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