segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Ser velho...



"Na operação "Censos Sénior 2019", realizada durante todo o mês de outubro, a GNR sinalizou em todo o país cerca de 42 mil idosos que vivem sozinhos e/ou isolados ou em situação de vulnerabilidade devido à sua condição física, psicológica ou outra que possa colocar a sua segurança em causa."
Quando se lê uma noticia destas surgem sempre duas questões. Uma é a de saber que sociedade estamos nós a construir. A outra é a de indagar que modelo familiar está por trás de tanta solidão.
Sei bem que o Estado pode criar instituições de apoio a este tipo de idosos. Mas isso é só uma parte do problema. A outra reside no nosso tipo de familia em que todos trabalham - na melhor das hipóteses - e não podem ocupar-se dos velhos.
Mas há uma terceira e inquietante questão que nos deveria fazer meditar. É que hoje os velhos são um peso para um tipo de vida familiar que pensa mais no "ter" do que no "ser". E que deusificou de tal modo a juventude que tornou quase uma vergonha a condição de ser idoso.
Pertenço a uma geração em que os novos se ocupavam dos mais velhos, pelo respeito e amor que estes lhes mereciam. Pertenço, também, à geração dos idosos que vivem sozinhos. E pertenço, felizmente, à geração dos idosos que têm o privilégio de continuar a trabalhar e a viver desse trabalho. 
Posso, por tudo isto, ficar triste quando leio uma notícia como esta. Mas posso e devo lembrar o Estado e as famílias que ser idoso é algo que irá acontecer à maioria das pessoas e que só isso deveria já obrigar-nos a discutir modelos viáveis para que tal não aconteça de forma tão brutal.


HSC

12 comentários:

João Menéres disse...

É preciso a reflexão necessária e EXIGE-SE a ACÇÃO do Estado !

Melhores cumprimentos, HSC.

Isabel disse...

Acredito sinceramente que muitas famílias, se pudessem, teriam consigo os seus familiares idosos, mas (digo-o com conhecimento de causa) não é fácil, manter um emprego e tomar conta duma pessoa idosa. Não é fácil e não é barato. Eu consigo, porque partilho as responsabilidades e despesas com os meus irmãos.

Quando as pessoas se reformavam com uma idade decente, conseguiam atender a netos e a pais, mas agora com as reformas quase na velhice, não é possível as famílias, por muito que queiram, tomar conta de ninguém.

Quanto mais as pessoas trabalham, menos tempo dedicam à família. Acredito que isso faz mal à sociedade.

Ouvi-a no outro dia no programa da Cristina Ferreira. Admiro a sua boa disposição e a sua lucidez.

Beijinhos e uma boa semana:))

Dalma disse...

HSC, há dias li um artigo interessantíssimo na NYTime newsletter dedicada ao Canadá. Refere um programa das comunidades First Nations promovendo a manutenção de tradições destas populações. O programa chama-se “The New-Elders”. Os jovens autóctones são instruídos nas suas tradições, na espiritualidade dos ancestrais, nos modos de vida... dando ênfase ao facto de os jovens de hoje serem os velhos de amanhã!
Evidentemente que os outros canadianos, que não os de origem indígena, tal como aqui e na generalidade do mundo ocidental, desculpe o termo, estão-se “borrifando” para os velhos! Porém podemos perguntar, quem são os responsáveis?

Silenciosamente ouvindo... disse...

Subscrevo totalmente as suas palavras, drª. Helena.

Eu tenho 73 anos e meu marido 77 anos e vivemos

sozinhos. Não temos filhos.

Os sobrinhos vivem na Irlanda.

As n/reformas são baixas.

Portanto é um tema que me diz muito e que muito

me preocupa.

Os meus cumprimentos.

Irene Alves

Pedro Coimbra disse...

O maior drama da minha vida - ter os meus pais e a minha irmã (deficiente) distantes.
Estou em permanente contacto com eles mas não evito essa sensação de estar fisicamente ausente.
No country for old men devia ser mesmo só o título de um filme.
Mas não é, infelizmente.
Até mesmo aqui estão a enviar os idosos para a Ilha da Montanha.

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

filhos emigrados, ou a viver longe dos pais é uma realidade crescente tal como é o abandono de idosos

Virginia disse...


Educámos os nossos filhos a terem a sua vida própria e a lutarem pelas suas escolhas, sacrificando se fosse necessário o apoio aos mais idosos, pais e avós. Isso não impediu que inculcássemos neles um respeito e um dever de zelar por nós. Qualquer dos meus filhos sente esse dever e a minha nora felizmente também se preocupa muito pela família dela, embora ainda não tenha chegado o momento da verdade, que é aquele em que os pais ficam dependentes dos filhos por razões de saúde. O meu marido viveu sozinho durante sete anos depois da morte da mãe, que ele nunca abandonou e que foi mais um motivo de discórdia entre nós dois. Eu vivo sozinha, mas consigo fazer tudo e saio todos os dias para almçoar no café do bairro, onde vejo pessoas, passeio pelos parques , vou ao cinema, as compras, ao ginásio, sempre sozinha. Adoro a minha independência e espero mantê-la durante muitos anos mais. Os meus filhos e netos moram aqui perto e volta e meia aparecem, sem grandes formalidades. Amealhei o suficiente para ir viver num desses lares , que não são mais que hoteis de luxo, onde se tem cuidados de saúde e todas as necessidades especiais. Considero-me privilegiada, mas nunca obriguei os filhos a sacrificarem-se por mim. Nunca o faria, ainda acho que é o contrário. A minha filha sofre de esquizofrenia, mas vive em Leeds, vindo cá de dois em dois meses. Já esteve intrenada tres vezes em Inglaterra, mas todos olhámos por ela nessas alturas. Todos os dias falo com ela pelo Duo , rimos imenso ao telefone, mandamos fotos e mensagens pelo whatsup e vivemos bem assim. Não lhe quero faltar enquanto puder. Independentemente disso, penso que a falta de dinheiro é talvez o principal entrave a que se tenha um fim de vida digno. O dinheiro ajuda na saúde e na qualidade de vida. É essencial para além do apoio da família.

Anónimo disse...

Os velhos, principalmente as velhas, são bons enquanto podem cozinhar, passar a ferro, tomar conta dos netos, serem criados dos filhos e netos e claro, darem todo o dinheirinho que puderem. Quando já não podem fazer nada, estão frágeis e doentes, é hora de os despachar para uma espécie de armazéns, onde ficam à espera da morte. Os filhos ficam à espera que morram depressa e não gastem muito da herança...

Anónimo disse...

Concordo com o anónimo de 19 Nov., 23:59.
É a verdade nua e crua. E é muito doloroso. Às vezes torna-se muito difícil vermos certas imagens e notícias e, muitas vezes, não consigo ver.
HSC sei que gosta de Sobrinho Simões, tal como eu, e é provável que tenha visto uma entrevista com ele, na televisão, em que ele dizia que a necessidade de cuidados médicos para os idosos vai aumentar muito, uma vez que o número de idosos e a longevidade também vão aumentar muito. E, embora Sobrinho Simões (que nem tem telemóvel, mas reconhece todo o imenso valor das tecnologias, e mais ainda no que à medicina diz respeito) a certa altura dizia que quando fosse muito velhinho e necessitasse de cuidados, por muito que as tecnologias e a inteligência artificial se desenvolvam, ele não ia querer robots para cuidar dele, mas pessoas, e que tinha a certeza que isso não se passa só com ele.
Mas eu já não sei, é melhor ser bem tratado por um robot, do que mal tratado por pessoas, mas é triste, sei lá eu o que é conviver com um robot, é ficção científica.

Anónimo disse...

HSC o que seria bom era um robot para ajudar e aliviar o cuidador nas tarefas, deixando-lhe mais tempo livre.
Mas o cuidador estava lá!
Só o robot é um bocado creepy.

Anónimo disse...

Boa Tarde
Concordo com retrato acima feito, pelo anónimo 23,59.Mas nós os velhos
(alguns)ajudamos a criar esta situação, endeusámos filhos e netos.

Agradeço à Helena S.C. o trazer a "debate" este tema. A lucidez na abordagem é de amor tal como já o fez com o tema netos.
Bem haja,
Velha = Mãe e Avó
Maria Helena

Anónimo disse...

🌹