quinta-feira, 15 de agosto de 2019

O suficiente, mas não demais!


Há tempos, numa série televisiva que estava a ver, duas mulheres conversavam uma com a outra. A mais velha, tia da mais nova, queria antes de morrer saber como ia o noivado da sobrinha, a quem decidira deixar os seus bens. Queria saber se ela estava feliz.
E, entre sorrisos, estabeleceu-se  entre as duas o seguinte diálogo:
- gostas do teu noivo?
- claro que gosto, tia.
- mas gostas o suficiente ou gostas demais? É que é diferente.
- Não sei. Acho que gosto o bastante.
- E o que é "o bastante"?
- É o que eu sou capaz de gostar.
- O habitual é gostar demais 
- Então diga-me a tia, se o casamento nos dá, de facto, a felicidade?

A tia não chegou a responder-lhe, não teve tempo. Mas eu fiquei a matutar no que ambas, afinal, pareciam querer saber: é que o amor, quando é excessivo, pode matar a felicidade...

HSC


8 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Todos os excessos são prejudiciais.
Até o excesso de amor por muito paradoxal que isso possa parecer.

Meu_nome_Mulher disse...

E a partir deste texto, interrogo-me ainda mais confusa...
será que o amor é matemático (+ou-=) ?
Ou é simplesmente Amor ? Até quanto é o ...demais ?

Um abraço e bom final de semana !!

Silenciosamente ouvindo... disse...

Pois pode matar a felicidade…

Não deixa a capacidade de estar atenta

a toda a envolvência.

Os meus cumprimentos.

Bom fim de semana.

Irene Alves

Anónimo disse...

Lembrei-me do livro de Robin Norwood «Mulheres que amam demais», a tendência de algumas mulheres (infelizmente muitas) para ficarem obcecadas por homens frios e difíceis, muitas vezes agressores. Nesta forma de amar existe sofrimento e repetição, se conseguem terminar com um (o que, como se tem visto, é muito difícil, muitas pagam com a vida) acabam por arranjar um novo relacionamento, em que o padrão se repete. Quanto mais castigadores mais as mulheres se esforçam por lhes agradar, numa obsessão sem fim. As mulheres (e os homens) não devem aceitar nunca ser maltratadas. As vítimas de maus tratos ficam como que diminuídas nas suas capacidades, como que paralisadas. Mas isso é exatamente o que o agressor quer: vai humilhando, vai rebaixando e, mesmo que não exista agressão física, a agressão psicológica é tanto ou mais grave.

Embora exista um consenso nacional relativo à canção que ganhou o Festival da Canção, cantada por Salvador Sobral, com o título «Amar pelos dois», ninguém pode (nem deve) amar pelos dois. Gosto do Salvador S, da sua sensibilidade muito própria, mas a letra e sobretudo o título são muito disfuncionais. Lá fora, acho que ninguém se apercebeu, porque a tradução é «Love for two» o que é completamente diferente. Amar pelos dois, NÃO!

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu_nome_mulher

Ora aí está o grande problema. Na minha geração os ciúmes eram considerados prova de amor. Surpreende como 50 anos passados ainda haja quem pense o mesmo...
Demasiado amor, para mim, é aquele que tolhe a minha liberdade e inibe o outro de ser quem é, em nome de um modelo de mulher que é o dele mas não o dela. Falo da relação amorosa. Mas no amor paternal pode encontrar-se o mesmo padrão. Há pais que amam tanto os filhos, que quase lhes retiram a própria identidade.

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 13:06
Estou à vontade. Não aprecio Salvador Sobral e considero a mensagem da letra da canção um absurdo. Não sei de quem é. Sei que ninguém deve amar pelos dois, a não ser que seja um masoquista...

Anónimo disse...

O amor é importante mas não resolve tudo. Duas pessoas podem gostar uma da outra e terem dificuldades em estar, ou em viver, juntas. Uma coisa que mata qualquer relação (entre namorados, entre casais, entre pais e filhos) é uma crítica permanente, porque ninguém aguenta isso, menos ainda no seu espaço privado, de descanso, de à vontade. E muitas vezes críticas por dá cá aquela palha!
Além de amar, é preciso saber amar, e quem ama demais não sabe amar.

Virginia disse...


Diz Kahlil Gibran:

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um empecilho:
seja antes um mar vivo
entre as praias das vossas almas.

Enchei cada um o copo do outro,
mas não bebais por um só copo.

Partilhai o pão;
mas não comais do mesmo bocado.

Cantai e dançai juntos, sede alegres;
mas permaneça cada um sozinho,
como estão sozinhas as cordas do alaúde
enquanto nelas vibra a mesma harmonia.

Dai os vossos corações;
mas não a guardar um ao outro.

Porque só a mão da Vida
pode conter os vossos corações.

Mantende-vos juntos,
mas nunca demasiado próximos:
porque os pilares do templo
elevam-se, distanciados,
e o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.
.
Isto foi lido no meu casamento. É o que penso do amor conjugal.