sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Silêncio


Quando se está de luto, por norma, pouco ou nada apetece fazer. Eu não gosto de ter comiseração por mim própria, pelo que entendi que devia tentar sair do casulo e fazer algo que me pusesse a "girar". A decisão foi a de ir com amigos ver o Silêncio, filme de que de que me tinham dado muito boas referências. Como costumo fazer a minha escolha pelos realizadores, o deste, Martin Scorcese, era, para mim garantia suficiente.
Pois bem, não aconteceu bem assim. É claro que se trata de um filme importante, com grande qualidade cinematográfica e que se ocupa de um tema - as atrocidades cometidas contra os missionários que foram evangelizar o Japão no século XVI - que interessa aos católicos e a todos os que se preocupam com determinados valores. Mas o conteúdo desiludiu-me um pouco, porque Scorcese parece filiar-se naqueles que só vêm no cristianismo uma rota de dor para alcançar Deus. 
Ora eu ando a pregar, há muito, que o meu Deus é dor e sofrimento, mas é também alegria e prazer. Deus fez-se Homem para nos mostrar isso mesmo. O filme aponta, apenas, para a redenção através da via dolorosa. Não há uma pinta de alegria naquela película e isso é deliberadamente feito através de vários flash back em que a violência é a tónica dominante. Numa palavra, saí do cinema estafada com tanta amargura, tanto tormento, tanto conflito, tanta ansiedade.
É evidente que se trata de uma película que faz pensar. Em nós e nos outros. No papel das religiões na História dos povos. Mas aqui, neste Silêncio, não há uma réstia de esperança, não há a mais pequena chama de ânimo. E, creio, foi isso que o realizador pretendeu dizer-nos.
Eu não sou ninguém. Não tenho quaisquer competências especiais nesta matéria. Também tenho os meus conflitos com a Igreja e não são poucos. Mas esperança foi algo que até hoje nunca me faltou. Por isso é que o filme me incomodou!

HSC

9 comentários:

Maria Eugénia disse...

Para mim Deus é também Esperança e Amor...
Procuro não me martirizar com coisas que me amarguram, que me causam ansiedade. Coisas sérias que nos façam pensar NÃO têm que ser necessáriamente tormentosas e causadoras de sofrimento. Dispenso-as.
Bjs da Maria do Porto

Dalma disse...

Sim, não é seguramente o filme para quem tem dor na alma!

Cristina Moura disse...

Querida Helena,

Tem toda a razão...Deus é verdadeiramente um Pai amoroso,Ele é o Amor que gera em nós a fé que conduz à esperança.
Jesus instantemente no-lo diz!

Um beijinho

Cristina

Anónimo disse...

🌷

Virginia disse...



Não vou ver. Já me basta o sofrimento real a que assisto todos os dias. Mais vale ir ver outra pelicula mais leve. Já a Missão me impressionou imenso e era menos violento, julgo eu.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Também já tinha decidido não ir ver
e agora depois de ler as suas palavras
não vou mesmo.
Os meus cumprimentos
Irene Alves

Tété disse...

Fui ver hoje. É claro que incomoda a violência e a falta de uma réstia de esperança em toda a história. Mas é mesmo de história que se trata e pelo que nos é dado saber, parece-me que não foi exagerada e que retrata as realidades de uma época.
Porque estou plenamente de acordo que:
"Mais ou menos nos anos em que decorrem as atrocidades contadas no filme a Inquisição perseguia os judeus em Portugal e Espanha de forma mais extensiva e sem razões de concorrência imperfeita que ameaçava os monges espirituais no oriente. Em nome de Deus foram, são e continuarão a ser, porque nenhuma mudança desta índole humana se perspectiva para o futuro, cometidos os mais bárbaros e irracionais comportamentos"(SIC - blogue ALIÁS).
E já agora ai de quem não dê um ÓSCAR ao padre Rodrigues (Andrew Garfield) que para mim tem uma interpretação para além do excelente.
Abraços e muitas melhoras

Helena Sacadura Cabral disse...

Tété
A complicação reside exactamente aí. É que não há um pingo de julgamento moral no filme. Nada nos mostra uma crítica. Essa fica à consciência do espectador faze-la...
É claro que a Inquisição fez o mesmo. Mas isso não nos impede de ter um olhar crítico sobre ela. Neste filme conta-se, nos dias de hoje, uma história do sec 17 em que apenas se tenta mostrar que os padres missionários queriam tornar o Japão num local de cristianismo, como se fossem portadores da verdade absoluta e esquecendo a religiosidade própria do país.
Com que direito, perguntar-se-á? E porquê? Onde estão as respostas a estas questões no filme de Scorcese? Para mim a sua maior violência é esta e não as cabeças a rolar, mostradas por três vezes, e completamente desnecessárias a não ser para por em destaque o que os islãmicos fazem hoje em dia...
Minha querida, não gostei. Sobretudo, porque sendo cinematograficamente um belo filme, usa esse meio para nos transmitir o lado odioso das religiões. Digo-lhe mesmo mais, é um filme perigoso!

Anónimo disse...


Helena
Ainda não vi estava com vontade de o ver. Na 6ª quero ir ver o Divã de Estaline parece-me um filme muito interessante.
Ontem à noite na RTP1 deu um documentário sobre a vida de Estaline o pouco que ouvi foi arrepiante.

http://www.rtp.pt/noticias/cultura/o-diva-de-estaline_a978825

Abraço
Carla