terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Inovar Saúde: Cancro 2020

Hoje participei da 4ª edição do Think Tank que se ocupou do tema que dá titulo a este post e que tem sido uma iniciativa da Universidade Nova e da Escola de Saúde Pública, com o apoio da Roche. Quando me convidaram para fazer um depoimento tive muitas dúvidas em aceitar, porque considerava que nada poderia acrescentar ao que uma plêiade de especialistas iriam debater sobre a matéria. E falar de cancro continua a doer-me muito.
Pedi, por isso, um tempo para pensar. Acabei por aceitar, entendendo que com isso, faria um preito de homenagem à minha Mãe, que se debateu 18 anos com a doença, e ao meu filho Miguel cuja luta, infelizmente, pouco mais durou do que dois anos. E, confesso, por acreditar que se tivesse engenho e arte, poderia dar testemunho do caminho percorrido nas três décadas que separam estas minhas duas perdas. Se o consegui ou não, só os que me ouviram poderão avaliar.
Pelo meu lado, assisti a uma boa parte das mesas redondas e aprendi muito com o que ouvi, nomeadamente com a preocupação de centrar a atenção no doente, para quem se pretende não só o melhor tratamento clínico, mas também a humanização que a partir da descoberta  da doença ele vai necessitar de ter.
Pode muita coisa ficar pelo caminho, pode dizer-se que depois não há seguimento, que o interior se sente discriminado em relação ao litoral, que as coisas não passam do papel. Será verdade em muitos casos. Mas também é verdade que em Portugal os índices de saúde são melhores do que em vários países ricos e que a diferença entre o que havia no tempo da minha progenitora e o que houve no tempo do meu filho não tem comparação.
Três palavras finais de apreço. Uma para a Clara de Sousa, que conduziu de forma exemplar a moderação dos debates. Outra para o Ministro da Saúde que fez o encerramento com um discurso que me tocou e que me vai fazer estar atenta ao seu percurso no governo. Finalmente, outra à farmacêutica Roche, pela forma como tratou os seus convidados. Enfim, uma manhã que me enriqueceu e que por algumas horas me trouxe de volta a Mãe e o Filho.

HSC

8 comentários:

Unknown disse...

Estive presente e foi muito enriquecedor assistir a todas as intervenções.Como tive que saír mais cedo por questões profissionais não pude assistir à última.
É de louvar a iniciativa pelo tema e toda a envolvente.
Muito obrigado,

Silenciosamente ouvindo... disse...

Um momento que eu gostaria de ter assistido.
Os meus cumprimentos.
Irene Alves

Anónimo disse...


Helena
Fez bem em aceitar o convite, partilhar as suas experiências e sendo como é, só foi enriquecer quem a ouviu.

Abraço
Carla

Virginia disse...

Estou neste momento com o drama em mãos.

Só me pergunto como é que as pessoas sem dinheiro conseguem sobreviver, não só ao cancro, como a todas as sequelas que daí advém. Já li um livro excelente dum médico que teve um cancro aos 34 anos e agora estou a ler Anti-cancer do Servan-Schreiber. São ambos excelentes para quem acompanha os que sofrem, mas cada caso é um caso e as pessoas reagem de modos muito diferentes à situação. No caso do meu ex-marido, tento proporcionar-lhe o máximo de atenção e conforto possível, mas não posso suprir todos os danos psicológicos que a doença acarreta.
Bjinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Tem razão Virgínia. É sufocante pensar nessas situações. Mas felizmente com todos os defeitos que tem, houve um homem que teve a coragem de criar o SNS. Funciona mal em muitos casos mas é surpreendente o que os vários IPO's conseguem. Nomeadamente o do Porto que, ao que dizem, é modelar.
Faz muito bem Virginia em tentar aliviar a dor do seu ex marido. São pessoas que passam na nossa vida e com as quais temos elos para sempre, através dos filhos!
Um abraço

Teresa disse...

Ainda bem que foi! Todos ganharam! É uma doença que atinge muita gente, de todas as idades! Tenho acompanhado familiares e amigos e bem precisam do nosso apoio!

Virginia disse...


Não é tanto a hospitalização nem os tratamentos oncológicos que me preocupam, mas os cuidados continuados. Como é que as pessoas sem dinheiro fazem para cuidar de pacientes que nem sequer conseguem ir ao quarto de banho sozinhos, que não podem medicar-se a si próprios, fazer a sua higiene pessoal, etc? O pai dos meus filhos paga um balúrdio para ter companhia durante parte do dia e todas as noites. Mas é a única maneira de os filhos poderem continuar a trabalhar. Considero que somos uns privilegiados, mas aflige-me pensar nos que nada têm e sofrem tanto. Bjinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Percebo-a muito bem Virginia. É algo de semelhante ao que sinto quando vejo imagens de Alepo. Como é possível tanta miséria? Como é possível que a vida politica cause tal estado de deshumanização? Porquê aqueles e não outros?
Como seria no caso do seu ex marido se a Virginia e os seus filhos não ajudassem? É, de facto, dilacerante!