sexta-feira, 29 de julho de 2016

Auschwitz


Nunca estive em Auschwitz. Nunca me senti capaz de lá entrar ,pese embora as tentativas que fiz. Arrumei o caso num dos escaninhos do meu cérebro, como já havia feito com a India, onde não penso voltar, por ter visto matar um homem à bastonada, sem que ninguém se indignasse muito com a situação.
Hoje, ao ver na televisão o Papa Francisco, numa visita pesadamente silenciosa, àquela mostra do que pode ser a brutalidade humana, senti que talvez devesse ter tido a coragem de vencer a minha repugnância. Não irei, decerto, lá de propósito porque, no meu caso, seria puro masoquismo. Mas se voltar a pisar terreno próximo, creio que me obrigarei a fazer tal visita. Afinal, nunca é tarde para aprendermos a superar as nossas fragilidades, como dizia a minha sábia avó Joana!

HSC

19 comentários:

Flor disse...

Também nunca fui nem penso ir.
Estava a ver o Papa a entrar lá com o rosto tão fechado.O mesmo aconteceu com o Papa Ratzinger. Ambiente pesado.

Perguntei-me o que se ouvirá durante a noite naquele sitio?
<3

Silenciosamente ouvindo... disse...

Por falta de condições económicas para tal, nunca estive perto
desses sítios. Não sei se teria a coragem que o Papa Francisco teve,
mas ele é um ser SUPERIOR!!! Por tudo o que li, por tudo o que vi
em filmes, o ser humano devia meditar no que ali aconteceu e prometer
a si próprio tudo fazer para que tal não voltasse a acontecer em mais
nenhuma parte do mundo. Todavia a vida humana, continua a não ser
respeitada todos os dias em muitos sítios.
O silêncio do Papa Francisco, deveria transpor para todos nós o
silêncio da reflexão e da importância de se lutar pela vida, pela
dignidade do ser humano.
Os meus cumprimentos.
Irene Alves

Virginia disse...



Nunca fui a nenhum capo, embora tivesse estado pertissimo de v´rios. Até em Jerusalém tive de sair a meio do Museu do Holocausto tais eram as imagens em tamanho gigante que cobriam as paredes de alto a baixo. Foi horrível. Já li vários livros e vi alguns filmes, mas não aguento cenas de tortura em velhos e crianças. Acho que vê-los não contribuiria em nada para a felicidade de outrem ou minha. Gosto mais de ler sobre os que sobreviveram e a sua coragem ( Etty Hillersum, por exemplo). Não acho obrigatório ver a miséria para fazer algo por ela. Gosto mais de ver actos heroicos e imitá-los.

Anónimo disse...

🌷

Ältere Leute disse...

"Repugnância", sim, é a palavra ! Tudo se convulsiona cá por dentro em cada canto daquele espaço...Nem os filmes e os documentários me abateram tanto...

Dalma disse...

O espaço mais próximo dessa realidade em que estive foi em Berlin há 8 anos- no memorial "Topografia do Terror", na altura disse que não voltaria lá, mas como nunca deves dizer nunca, voltei lá há um mês porque, levando a minha neta (16) comigo achei que ela deveria ter a experiência, no entanto neguei-me a ir ao Museu do Holocausto onde, segundo me disseram, até os cheiros estão presentes! Na minha idade já não me sujeito a essas emoções!

Dalma disse...

HSC, numa reportagem da TV foi dito que o Papá terá dito "onde estava Deus?". SE efetivamente ele o disse, então, pelo menos naquele momento também não acreditou na sua existência!
E já que a HSC, falou na Índia, diga-me, como se pode dizer como nos foi ensinado, que Ele é "pai de todos"?

Maré alta disse...


Concordo inteiramente com os vários comentários, mas subscrevo inteiramente o da Isabel Figueira.
Nunca lá estive e penso que não quero lá entrar.
Desculpem, mas vou falar com todas as letras: A carga negativa daquele local é brutal! Só de olhar me arrepio e provoca em mim uma sensação muito má.
Todavia, não deve ser esquecido e deve ser lembrado, para que não se volte a cometer crimes contra a humanidade. NUNCA MAIS!
Apesar de hoje continuarmos a cometer crimes contra a dignidade humana.
No meu caso, não necessito de visitar aquele local para me lembrar do que ali se passou, e que nunca mais poderá repetir-se.
Foi o extermínio de mulheres, homens, crianças, foi em nome de uma Ciência cega e absurda, foram feitas experiências horríveis tendo como cobaias os prisioneiros (mulheres e crianças).
Foi preciso ter acontecido tal tragédia, para que em 1947, com a elaboração do Código de Nuremberga, um texto com dez pontos que enuncia os requisitos éticos a que toda a investigação científica com a participação de seres humanos deve obedecer. Também em 1948 estabelece-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Termino com uma citação de Bento XVI, " O homem é capaz de produzir em laboratório outro homem que, portanto, já não seria o dom de Deus nem da natureza. Pode-se fabricar e, da mesma forma que se fabrica, pode-se destruir. Se esse é o poder do homem, então ele se está convertendo numa ameaça mais perigosa que as armas de destruição em massa."
O Papa Francisco como o Papa Emérito Bento XVI tinham que visitar aquele local chamar a atenção do mundo para o que ali se passou.

doida disse...

E o silêncio é a única coisa que nos apetece fazer. E reflectir, e indignar, mas acima de tudo admirar quem passou por aquele horror e sobreviveu sem rancor. E nunca esquecer!!!!!!!!!

Helena Sacadura Cabral disse...

Dalma
Seguramente que tive os melhores pais do mundo. Mas algumas vezes pensei "onde é que estava o amor deles", quando a infelicidade me bateu à porta.
A mãe estava longe e o pai tinha já partido. Foi nessa altura que percebi o que era o livre arbitrio. E que era eu e não eles que fizera más escolhas.
A minha sorte foi ter percebido isso muito cedo e jamais, a partir de então, ter duvidado do amor deles por mim.
Com Deus e para os crentes passa-se algo semelhante. Maus filhos que tratam mal os pais e até os matam, não faltam por aí. E têm toda a liberdade de fazerem o contrário. Porém, escolhem ser maus!

Anónimo disse...

🌹🌹🌹

free culture lisbon disse...

Eu fui a Buchenwald muitas vezes. Dizem que foi muito mais "leve" que Auschwitz mas foi um campo na mesma, com todos os horrores incluidos .

A verdade é que eu gostava de lá ir, nao sei explicar bem.
Um amigo meu Polaco diz que cada vez que vai á Ucranea vai a Chernóbil , ele diz que naquele lugar estranhamente sente-se o expoente maximo de humano, lá, naquela ausencia .
Eu acho que sentia o mesmo quando ia a Buchenwald, senti-me muito humana e muito ligada áqueles humanos, era mais do que uma sencaçao de "oh que pena" , era antes uma ligaçao transcendental. Mais uma vez , nao sei explicar, mas sei que realmente me senti muito humana e mais ligada aos humanos lá , e eu até me considero uma pessoa atenta e presente para as pessoas no geral, mas aquilo obriga a outro nivel de presença.

A ausencia de vida daquele sitio está cheia de vida, , e parece que era isso que o meu amigo tambem via em Chernóbil.

Deixo um video que me enche o coraçao.
de uma Senhora que começa com "je m'appelle francine christophe"

https://www.youtube.com/watch?v=s5zpv-JyBAk

Dalma disse...

HSC, obrigada pelo seu comentário.
À cerca do livre arbítrio em que se dá como exemplo, quero argumentar se me dá licença.
A HSC, é uma pessoa muito culta, já vem de uma família culta, certo? Por isso teve livre arbítrio na condução da sua vida!
Agora vejamos, esses milhões que nascem, vivem e morrem numa qualquer rua de Calcutá, por exemplo, esses mesmos que nem sequer conhecem uma coisa tão prosaica como uma sanita, acha que poderão ter livre arbítrio?! Por favor responda-me!
Dou este exemplo porque falou da sua experiência na Índia, mas infelizmente poderíamos encontrar muitos mais exemplos.

Helena Sacadura Cabral disse...

Dalma
Quantas famílias têm filhos que foram exemplarmente educados e seja pela droga, seja pelas má s companhias, se portam como verdadeiros biltres? Que fazer senão esquecer que eles existem, em lugar da amargura permanente de se questionar "onde é que eu falhei"?
Veja o meu caso. Odeio política. É o único ódio que me conheço. Jamais seria capaz de fazer parte de um partido, fosse ele qual fosse. Tentei educar os meus filhos o melhor que sabia e podia. Veja o resultado: ambos foram, por livre arbitrio, para o único caminho que eu não aceitava. Que fazer?! O que fiz: rezar para que um dia pudesse ter a alegria de os ver abandonar esse caminho. Num deles Deus concedeu-me essa Graça, seja qual for o preço que tenha ainda de pagar.
Agora pense ao contrário: quantos desses desgraçados não chegaram a ser gente de bem, que lutou por um mundo melhor, quando tudo os vocacionava para serem uns desgraçados.
Deus não se mete na nossa vida. Apenas nos pede contas sobre aquilo que fizemos. De bem ou de mal. É nisso que acredito e é isso que me fez aceitar a morte de um filho da forma como o fiz. Com uma imensa saudade dele, mas sabendo que um dia, cada vez mais próximo, o voltarei a ter seja sob que forma for.
Esta não é a resposta que a Dalma gostaria. A diferença é que eu acredito e a Dalma não. E nesse sentido pergunto como é que sobrevive num mundo como este.

Dalma disse...

HSC, aqui vai a resposta à sua pergunta que tb já outros me fizeram: NÃO FAÇAS AOS OUTROS O QUE NÃO QUERES QUE TE FAÇAM A TI ! E olhe que levo este meu propósito muito a sério!
Obrigada mais uma vez por este nosso diálogo.
Dalma

Anónimo disse...


Helena
Já vi reportagens sobre o campo, pessoalmente não consegueria visitar um local onde foram mortas tantas pessoas, crianças...
Há coisas que não se entendem, como pode um homem ter um poder tão grande sobre os outros,, não haver alguém que o deteve-se. Uma mente maquiavélica, doente, que deixou no mundo marcas inesquecíveis.
O semblante do papa Francisco mostra bem a tristeza que o lugar reflete.
https://www.youtube.com/watch?v=5ooSLA1K0l8#t=324

http://sic.sapo.pt/Programas/altadefinicao/2015-10-30-Especial-Alta-Definicao---programa-300-com-Henrique-Cymerman---legendado

Carla

Maria Rosa Afonso disse...

Estive em Auschwitz há dois anos, o que mais impressiona é a dimensão do horror e paradoxalmente a invisibilidade (no dizer de pessoas que viviam ao lado) do que estava a acontecer: ninguém sabia, ninguém via, ninguém se dava conta de tamanha barbárie, como se um mecanismo de defesa obrigasse a olhar para o lado.

Ana disse...


Eu também acredito que dificilmente irei visitar Auschwitz... com 25 anos visitei Dachau e senti-me, é difícil descrever o que senti... tão emocionada mas mais que isso, envergonhada pelo que se tinha passado ali e noutros.

Portuguesinha disse...

É curioso porque costumo contar que jamais iria à Índia. A miséria entristece-me e não me imagino capaz de compactuar, com a minha presença como turista, com as atrocidades que por lá são cometidas. O país emana falta de respeito pelos direitos humanos. Principalmente para com as mulheres. A sociedade dividida por castas, a miséria, a exploração infantil, a impunidade! O facilitismo com que basta acusar alguém para este ser condenado à morte... Por muito que me venham contar histórias de viagens, mostrar souveniers ou tentar me convencer do que imaginam ser o misticismo cultural que lá vão encontrar, nada nesse país me faz querer pisá-lo. Quase que sinto que não ficaria bem se o fizesse...

Vontade de ir a Auschwitz também nunca tive. Sinto-o como um lugar de respeito que não deve ser muito perturbado. Uma amiga quis mostrar-me fotografias da sua ida ao local e eu não quis ver porque sabia que tinha de me preparar «por dentro». Claro que já vi imagens variadas, li livros, vi documentários... Mas tocar nas fotografias de alguém que lá esteve e ouvir contar sobre a experiência torna tudo íntimo.

Uma pessoa tem de estar mentalizada ou espiritualmente preparada para uma «viagem» dessas.