sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Do corpo

Porque é que nos preocupamos tanto com o corpo? Porque ele é o meio através do qual nos expressamos, responder-me-ão. Contudo, esta não é a verdade completa. É apenas uma parte dela, uma vez que, é muitas vezes apenas o aspecto exterior desse corpo que nos motiva e não a forma harmoniosa como funciona.
Explico-me: conheço muito boa gente que gasta mensalmente balúrdios em cremes caros e não faz, por exemplo, um check-up anual. E, não entrando sequer pelas práticas invasivas de retirar o que está a mais ou colocar, falso, o que está menos, assiste-se ao crescimento de uma nova área da dermatologia, cuja prática era ainda há duas décadas muito mal aceite pelos médicos da especialidade. Hoje a cosmetologia é um domínio em franca expansão, que deu origem às práticas mais variadas e de que as injeções cutâneas dos mais diversos produtos - cujas fórmulas secretas são apenas dominadas pelos mais hábeis -, são o expoente máximo na matéria. 
Abrem-se as revistas cor de rosa que pululam em qualquer cabeleireiro e lá aparece o médico indiano que trata as rainhas do povo e as rainhas mediáticas e que tem listas de espera de vários meses. Aproveitando a onda, os médicos nacionais também tomaram o combóio. E hoje já não há dermatologista que se preze que não injecte um cocktail de sua autoria para rejuvenescer uma pele cansada ou não venda os seus próprios produtos que, sem recurso ao bisturi, nos devolverão a eterna juventude.
O corpo deixou de ser a máquina que se deseja funcional e saudável, o instrumento de sensibilidade e prazer, para ser um esteriótipo geracional, que não envelhece e tem de se manter jóvem a todo o custo, mesmo que no seu interior a chama dessa juventude se tenha extinguido há já muito tempo!

HSC

10 comentários:

TERESA PERALTA disse...

O tal proverbio antigo que diz:"quem vê caras não vê corações" passa, agora, a ter uma conotação mais moderna.
Beijinho

Miss Smile disse...

Partilho completamente da sua opinião. São as incongruências da incansável procura do elixir da eterna juventude – compram-se cremes caros, mas não se fazem exames médicos, veste-se o corpo com as roupas da moda, mas não se come de uma forma saudável, faz-se lipoaspirações, mas não se faz exercício, fazem-se tratamentos estéticos, mas não se cultiva o espírito e a inteligência. Porque, afinal de contas, de que serve eliminar os pés de galinha se o cérebro perde a sua elasticidade?

Anónimo disse...

E por vezes estragam tudo. Há dias reparava numa atriz que, pura e simplesmente lembrou-se de colocar os lábios aos papos. Era tão gira, mas estragou tudo.

bea disse...

Prefiro ficar velha. Pelo menos sou diferente. Com rugas, pescoço duplo, papada de perú, manchas nas mãos e tudo que pertence noutros lugares que se vêem menos mas existem e não causam menos dano. Só a morte me tira esse estádio. Garantidamente. Se existe, é que é de viver. Mais nada.
BFS

Virginia disse...

O provérbio inglês : Don't judge the book by the cover" ( não avalie o livro pela capa), é cada vez mais falso. As pessoas são cada vez mais avaliadas pelo seu aspecto físico, pela sua juventude aparente, pela correcção dos seus atributos e cada vez menos pelo seu carácter. Os efeitos secundários desta moda são enormes: uma insatisfação geral pela nossa ( deles e delas) imagem, desejo permanente de mudança e de correcção que à nossa vista parece menos bonito.

Nunca dei importância ao meu aspecto, excepto nos quilos a mais que sempre me atormentaram. Felizmente gosto da minha cara e não modificaria nada , ne que me pagassem.

Encaro o envelhecimento como alo natural e mesmo quando os meus netos me observam dum modo crítico ( eles conseguem ser mauzinhos, à vezes... ) , levo para a brincadeira e digo a idade que tenho....

Quanto aos check-ups nunca fiz nenhum....e tenho medo do que possa encontrar.....

Maria do Porto disse...

De facto é um exagero. Em cada esquina pululam clinicas e consultórios para estética.
Mas para algumas mulheres,é um caso necessário para a sua auto-estima, quando há problemas graves de afectos. Resolve? Claro que não. Mas ajuda um pouco...

Fatyly disse...

Realmente é um negócio em franca expansão e por mim iriam à falência, porque respeito demais o meu corpo, aceito as modificações e marcas feitas pelo tempo e valorizo muito o já ter chegado à idade que cheguei!

Bom fim de semana

Beijos

Paulo Abreu e Lima disse...

Não tenho nada contra plásticas, acho inclusive sobranceiro criticar quem as faça (um parêntesis para dizer que com isto não estou a criticar nem a Helena nem outro qualquer comentador). Uma pessoa tem o direito de se sentir contente com o seu próprio corpo (provavelmente a única coisa nossa), pelo que se se achar mal com qualquer aspecto deste, deve mediante avaliação psicológica e tendo a oportunidade de o corrigir, fazê-lo sem pruridos. Lembro-me de dois casos que me aconteceram. Uma namorada que me escondeu que tinha feito uma intervenção ao nariz antes de me conhecer por desvio do septo nasal e "não só". Uma outra, que nunca chegou a ser minha namorada, que à minha pergunta "estes seis não são todos seus?" respondeu-me: "são, sim, fui eu que os paguei". :-)

Compreendo quem sinta um desfasamento enorme entre a idade do corpo e a da alma e entenda adequar aquela a esta. Se gosto? Depende, principalmente se não modificar as feicções e todos os aspectos físicos mais identitários. Outra coisa, há quem pense que o termo "cirurgia plástica" tenha de alguma forma a ver com o aspecto plástico com que algumas pessoas ficam. Não é assim, tem a ver com a plasticidade das células, sendo este termo exclusivamente anatómico (médico).

Por fim, muitas das beldades com uma certa idade fizeram intervenções cirúrgicas com um importantíssimo pormenor: estas foram tão bem feitas, tão "ao de leve", que ninguém suspeita. Nem elas revelam, claro.

Paulo Abreu e Lima disse...

Errata: seios em vez de seis, claro. Ou usando o termo médico, mamas. :-)

Anónimo disse...


Bom dia Helena!
Todos os anos faço check-up é algo que não dispenso. Confesso, o que mais provoca ansiedade é a eco mamária, é um alivio saber que está tudo bem.
Não descuido os cuidados diários da pele, há 4/5 meses descobri o marca Angelif, adoro, os preços acesseveís, e duram muitos meses. Ensinaram-me que não é a quantidade de creme que se coloca mas sim um conjunto de regras, desde a alimentação, à protecção solar.
As cirurgias, botox, não fazem parte dos meus planos, quem as faz fica diferente, sem expressão, parecem todos iguais.

Carla