quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Da vergonha

Fui, até aos oito anos, o que se pode chamar de uma criança envergonhada. Não exactamente de mim,  mas mais exactamente daquilo que certos adultos queriam que eu fosse, nomeadamente na escola. Por graça divina, tive avôs e pais maravilhosos, que sempre pretenderam inculcar-me segurança e me explicaram que me limitasse a ser aquilo que era autêntico e me dava prazer, porque, no restante, eles me ajudariam a discernir entre o que valia ou não a pena tentar ser. O que os outros - nomeadamente colegas ou professores - gostavam que eu fosse só seria importante se constatasse que ganhava pessoalmente algo com isso.
À medida que o tempo foi passando fui perdendo vergonha própria - direi mesmo que me tornei num ser ousado - mas ganhando vergonha pelos outros. Ou seja, não eram os meus actos que me envergonhavam, mas sim as atitudes tomadas por gente a quem eu atribuía grande importância. E, confesso, era um sentimento muito desagradável ver pessoas de tino comportarem-de de modo desatinado, fosse em que área fosse.
Com a idade o sentimento de vergonha altera-se e permite-nos avaliar comportamentos - nossos e dos outros - de forma diferente. Não é, sequer, uma questão de maior tolerância. É antes a experiência da vida a dizer-nos que nem todos somos capazes do mesmo, nem todos temos a mesma sensibilidade, nem todos temos a mesma coragem. Porque, afinal, é esta coragem ou a ausência dela que, muitas vezes, está na base da vergonha que sentimos. De nós e dos outros!

HSC

6 comentários:

Anónimo disse...

Ás vezes o dito popular, "A palavras loucas orelhas moucas",é precioso.Mas não deixamos de nos sentir incomodados.O decoro é como a liberdade,os limites variam de ser para ser...
E,claro que "Quem não se sente,não é filho de boa gente".Digo,educada.
Desejo-lhe uma boa tarde.
Ana M


Anónimo disse...


Helena,
não a imaginava envergonhada em criança, confesso que fiquei surpreendida.
A minha timidez, vergonha,fobia social prolongou-se até à minha idade adulta...
Hoje sou o oposto, a idade, com ajuda de um profissional,venci os medos irracionais, ainda estou na aprendizagem, a ser esculpida, preciso de limar arestas.
Tocou no ponto certo, a palavra mágica é "coragem", sem ela não existe mudança.
Hoje, vai ser o 2ª dia em que vou ter "coragem" de ir de carro para Lisboa em hora de ponta, um desejo meu de anos, que só foi possivel porque tive alguem que me incentivou.
A 1ª vez perdi-me, andei perdida mais de 1 hora, mas cheguei ao destino.
Logo, espero chegar sem problemas, e assim vamos conquistando vitórias, para uns são simples, para outros são o Cabo das Tormentas...

É antes a experiência da vida a dizer-nos que nem todos somos capazes do mesmo, nem todos temos a mesma sensibilidade, nem todos temos a mesma coragem. Porque, afinal, é esta coragem ou a ausência dela que, muitas vezes, está na base da vergonha que sentimos. De nós e dos outros!

Deixo na sua intuição, quem sou...

Anónimo disse...

2-) You Are Beautiful.

http://youtu.be/B93654pRMNw

:-)

Anónimo disse...

Caríssima Dra,eu julgo que o "tino" tem dias.Daí isso acontecer...pessoas tal e tal fazerem coisas que dá vergonha aos outros.E,penso eu,que isso pode acontecer por variadíssimas razões.Claro que há excepções e o respeito e a educação são fundamentais.Mas até com o melhor berço possível,há dias em que as pessoas descarrilam.Aí é passar ao lado! Os limites é que são os culpados,pois não têm fronteiras,é open space á vontade do frêgues.
Como diz e muito bem,que os políticamente correctos e muito certinhos enfadam,é sempre bom um pouco de loucura (saudável). O problema - ou seja,o nó górdio-,é que o que é saudável a uns,é,indigesto a outros.
É um gosto enorme visitá-la neste seu cantinho que tão bem me dispõe.

Sou o do Shelltox

bea disse...

Não sei bem se a vergonha é sempre falta de coragem. Penso é que as pessoas são diferentes umas das outras. Há as expansivas e todas viradas para o exterior, que não pensam sequer em timidez ou vergonha. Não existem para dar nas vistas mas dão e isso não lhes faz dano. E há as que suportam mal toda a gente a olhá-las, sabe-lhes melhor passarem despercebidas nos intervalos da chuva. Penso que é uma questão de carácter.

Tem vezes em que me envergonho de mim, sim. Mas não tenho vergonha pelos outros. É antes nojo. Repugnância mesmo.

Anónimo disse...

Da vergonha...
Se há caso que me envergonha é o do Rui Pedro.
Tantos anos sem solução para uma das grandes Mães coragem de Portugal.
Como eu gostava que ela visse o seu sonho realizado.
Isto sim,é um caso de Vergonha Máximo!

CS