sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Da tolerância


Nos tempos que correm, somos todos pouco tolerantes. Não sei exactamente porque é que isso se tem acentuado, mas há quem diga que a intolerância vai sempre de par com a liberdade. Quando uma cresce a outra vai-lhe na peúgada.
Com efeito, como hoje cada um tem a sua verdade, a dos outros só pode ser irremediavelmente mentira. O que faz com que, no fundo, vivamos a meio gás, divididos entre verdades e o seu contrário. Situação que impossibilita pontes e acordos, mas facilita ditaduras. Aliás, as maiorias absolutas - sejam elas de direita ou de esquerda - são perigosas por causa disso mesmo. 
Em tempo de eleições, este é um tema que devia ser discutido, aos olhos, até, das maiorias absolutas que já tivemos. Essa análise seria proveitosa não só para os partidos que as pedem, como para os próprios cidadãos que lhas concedem.

HSC

10 comentários:

bea disse...

"Quando uma cresce a outra vai-lhe na peúgada."

se se refere a peúgas, nada a opor.

se está a referir a peugada, discordo. A liberdade - a verdadeira e não a sua aparência - é acompanhada de tolerância e flexibilidade em dose suficiente para aceitar diferenças e não o seu contrário.A intolerância é, aliás, uma falta de liberdade mental. Julgo eu. De que.

Anónimo disse...

D. Helena,
pessoalmente, não simpatizo muito com palavra tolerância nem com o seu significado.
No início deste século, houve um desgaste muito grande deste termo e do seu significado.
Para tudo e para todos tínhamos a obrigação de ser tolerantes ... dei comigo, a dada altura, a perceber que era tolerante com o que não gostava e simplesmente não me interessava, mas por força do peso da sociedade e se me queria ver aceite pela mesma, tinha que ser tolerante, tinha que aceitar e calar, porque a minha opinião, os meus valores, os meus direitos em nada interessavam!
Resultado, com tanto uso (obrigatório) do mesmo, sem se dar espaço ao direito de "discordar, mas respeitar", a tolerância acabou por perder a sua capacidade essêncial que seria o simples aceitar valores, ideologias, culturas diferentes dos nossos.
Aceitar e respeitar não é, para mim, o mesmo que prestar vassalagem e veneração como se todos fizessemos parte de uma peça de teatro!
Cumprimentos,
Cláudia

Helena Sacadura Cabral disse...

Claudia
Pode chamar-lhe respeito se quiser. Mas viver em sociedade é tolerar a diferença e aceitar que os outros tenham tanto direito como nós, a pensar como pensam.
Só que para governar e conduzir um país, há que fazer cedências toleráveis. Caso contrário o país torna-se ingovernável. Em democracia quem tem mais votos governa... Mas se esses votos forem muitos, talvez governe sem ouvir ninguém, porque não precisa!

Helena Sacadura Cabral disse...

Bea
Não me refiro a peúgas. Refiro-me ao mau uso da liberdade. Que é muito mais frequente do que se imagina.
E quem fez a afirmação foram sociologos que estudaram a relação entre liberdade e tolerância. Eu só repeti...

Virginia disse...

Não concordo nada com esta sua entrada, desta vez. Estou nos EUA onde a tolerância é evidente. Os meus netos andam numa escola internacional onde há umas 18 nacionalidades diferentes e eles dizem que não tem qualquer parecença com o colégio alemão do Porto, onde o preconceito e o snobismo eram reis ( no tempo dos meus filhos.....). Eles adoram a escola, têm montes de amigos e actividades com as classes todas...é uma maravilha....
Em Portugal acho que se caminhou para uma tolerância mesclada de laxismo, vemos fazer coisas horríveis e toleramos para não nos chatearmos ( desculpe). A tolerância deveria ser substituida pela integração....

Helena Sacadura Cabral disse...

Virgínia se não tolerar o que é diferente, como é que integra?
Se as mulheres muçulmanas quiserem ir à escola de burka como é que faz? Se os ciganos portugueses não deixarem as filhas ir à escola e as quiserem casar aos 13 ou 14 anos, como faz?
É que snobismo é uma prova de menoridade mental. Mas usos e costumes é coisa bem diferente...
Todavia, no post eu falava mais da intolerância de pensamento. Daquela que diz "se não pensas como eu és contra mim". Como viver numa sociedade em que a mentira e a verdade se não distinguem e valem tanto uma como a outra?!

Joaquim de Freitas disse...

Eu diria antes que combater a intolerância não é intolerância: é combater as ideias daquele que não dá ao outro o direito de existir na sua diferença.
A intolerância é não aceitar que um outro possa ter uma ideia diferente da sua. Consiste em exigir que o outro , quer queira quer não, tenha de aceitar as mesmas ideias que si mesmo.

Vivemos precisamente uma época, e já no século passado, na qual o fanatismo, o sectarismo, a intolerância religiosa, política, e filosófica são e foram um flagelo da humanidade.

O pensamento é a única coisa no mundo que nenhuma ditadura religiosa ou politica não poderá meter na prisão.

Sabendo que o espírito critico é perigoso quando ele só serve para maldizer, toda critica é louvável quando é pragmática.

Anónimo disse...

Ups...gaz ou gás?
Gás ;)
Francisca

bea disse...

Pois. D. Helena, sem ser socióloga nem coisa nenhuma além de ser eu mesma, digo-lhe que mantenho a opinião. Não há liberdade sem tolerância. E sim, também desgosto da palavra tolerância. Essencialmente porque tolerar é, em português corrente e na mente das pessoas, diferente de aceitar.Significa deixar que vivam, mas sem mistura.

Devo dizer que - e apenas em meu único e exclusivo entender, sem para aqui chamar seja quem for (também o poderia fazer)- que, em primeiro lugar há uma a liberdade tratada no seu abstracto e há a liberdade concreta. A liberdade em abstracto cinge-se ao seu tratamento genérico e a concreta à forma como nos fazemos mais ou menos livres através das decisões que tomamos. Ou seja, é a forma como actualizamos essa potencialidade que nos pertence de nos fazermos livres. A liberdade no seu abstracto eu diria que é a condição de liberdade - sempre limitada - a que estamos universalmente sujeitos (lá dizia o Sartre que estamos condenados à liberdade, né?) sujeição que só nos humaniza. Ora, a intolerância da razão não pode ser considerada liberdade; o dogmatismo racional é um erro da razão e um determinismo que se auto exclui do mundo da escolha.E, portanto, do mundo da liberdade. Porque fazer-se livre não é apenas escolher, a liberdade concretiza-se na ligação aos outros, escolhendo o bem para todos (agindo de tal forma que possamos desejar que todos o façam de igual modo).

Talvez os sociólogos entendam de outra forma; talvez queiram dizer o mesmo por outras palavras; talvez o contexto em que o digam importe. Ou talvez estejamos simplesmente em desacordo. Se o mundo inteiro concordasse, por exemplo os blogues eram uma grande de uma chatice. Que os améns são bons em número reduzido. Enjoam.

Um DIA BOM para si :))

Fatyly disse...

Só que para governar e conduzir um país, há que fazer cedências toleráveis. Caso contrário o país torna-se ingovernável.
.....................

O que há anos assistimos? Pois...para mal dos meus pecados. Fui educada que o exemplo deve vir de cima...mas já não sei nada, só sei é que cada vez mais nos vão aos bolsos e a despesa do estado aumenta.