terça-feira, 2 de setembro de 2014

Aguardemos, pois!

"... como no Inferno quando se entra pela porta maldita e se deixa a dita esperança à entrada. Agosto é um bom mês para percebermos tudo. Milhares e milhares de jovens que não lêem um livro, passam o mês em festivais no meio do lixo, do pó, da cerveja e dos charros. Milhares e milhares de adultos vão meter o corpo na água e na areia, sem verdadeira alegria nem descanso. Outros muitos milhares de jovens e adultos nem isto podem fazer porque não tem dinheiro. No interior, já que não há correios, nem centros médicos, nem tribunais, proliferam as capitais, da chanfana, do caracol, do marisco, do bacalhau, dos enchidos, da açorda, as "feiras medievais" de chave na mão, as feiras de tudo e mais alguma coisa desde que não sejam muito sofisticadas. Não é uma Feira da Ciência, nem Silicon Valley. 

As televisões, RTP, SIC e TVI “descentralizam-se” e fazem arraiais com umas estrelas pimba aos saltos no palco, mais umas “bailarinas”, nem sequer para um grande público. Incêndios este ano há pouco, pelo que não há imagens fortes, ficamos pelo balde de água. Crimes violentos “aterrorizam” umas aldeias de nomes entre o ridículo e o muito antigo, que os jornalistas que apresentam telejornais com tudo isto gostam de repetir mil vezes. Felizmente que já começa outra vez a haver futebol, cada vez mais cedo. O governo, com excepção das finanças e dos cortes contra os do costume, não governa, mas isso é o habitual." 

Este é um excerto do retrato que José Pacheco Pereira faz no seu blogue Abrupto, no dia 29 de Agosto último e que titula "Porque é que não vale a pena ter esperança".
Não é que a foto seja falsa. Ela é verdadeira. Mas incompleta. O autor pretende, apenas, olhar para um dos lados da moeda, porque é ele que lhe garante sucesso e leitores. As virtudes e o lado positivo da vida, sabe-se - e ele sabe - não rendem, nem vendem. Sobretudo, cá.
Pacheco Pereira assume-se como o mentor da verdade nacional, o arauto dos trágicos caminhos pelos quais os portugueses, coitados, foram obrigados a enveredar, o homem que pode escrever estas linhas, mas nelas não está retratado.
Acontece que é aqui que ele vive. Daí que seja natural que o país aguarde o seu activo envolvimento na construção da nova sociedade portuguesa. Aguardemos, pois!

HSC

25 comentários:

Virginia disse...


Este texto faz-me lembrar o outro sobre a banalidade. Este é pior, mais radical e negativo. O outro ainda permitia alguma esperança, este acaba com ela duma vez por todas.
O que sentirão os jovens que trabalham todo o mês de Agosto em tribunais para deixar as comarcas ( que vão fechar) em dia, como o meu filho que nem uma semana de férias gozou e saiu duma comarca no sabado para entrar ontem noutra a mais de 200 kms de casa?
O que sentirão outros jovens que passam noites em hospitais fazendo "bancos" para receberem uma ninharia por horas que roubam ao sono e à família?
O que sentiremos nós, aposentados, que trabalhámos toda uma vida ( ainda este ano) e que sonhamos com um fim menos penoso e ainda acalentamos sonhos?

Homens como este, por muito inteligentes que sejam só destroem. São os velhos do Restelo sofisticados e longe da praia.
E a ele pode-se juntar o Pulido Valente e o Medina Carreira e outros do mesmo quilate. São eles que acendem o fósforo para atear os fogos que fazem arder a nossa floresta social. Nada constroem....e ainda há quem os leia, oiça e até compre jornais para conhecer os seus vis pensamentos!

Desculpe, Helena, mas não aguento mais estes senhores....

Anónimo disse...

Que choque! Sair do País das Maravilhas e "aterrar neste inferno",cruzes!... :-(
Venha a Alice e o Enigma. :-)))

Célia Maria disse...

Quando leio a sua opinião sobre "coisas destas" gosto tanto de si.

Célia Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Alguém falou de futebol? E de praia!
Pois é! Este Sr andou Mesmo afastado da praia...é que durante o verão disputou-se o Campeonato de Futebol de Praia.
Alguém ouviu falar? As televisões transmitiram?
É verdade,garanto! Jovens que treinam várias vezes por semana e disputam vários campeonatos estiveram imparáveis.
Mas esse sr podia fazer alguma coisa e empenhar-se em reparar nesta expectacular modalidade e conseguir que mudassem o horário para horas decentes.
Conseguir patrocínios para os jovens que ainda têm de pagar para estar nos clubes.
Perguntem ao Nacional da Madeira,que tem de fazer viagens e precisa estadia no continente.

Foi este fim de semana a Final em Espinho a horas vergonhosas - 14:15 e o jogo do 3 e 4 lugar ás 13 h.
Admite-se isto?

Pergunto eu?
Para um jovem jogar ás 13 h a que horas almoça?
Vai jogar sem almoçar? Pois,serve só o pequeno almoço?!

Pergunto eu?
Por que tem a assistência,adeptos,familiares com séniores e crianças de estar ao sol escaldante a ver um jogo a essa hora?
E quando almoçam?

Porque será que quem manda e decide faz isto?
Não consigo entender!

Mas tenho esperança que um dia mude...pois nem todos andam nos charros,nem no pó,etc etc.

E temos Madjer campeão Mundial por 3 vezes.Já merecia uma entrevista como o Grande Ronaldo.

Orgulho Tuga

João Menéres disse...

A HSC está cheiinha de razão !

Melhores cumprimentos.

TERESA PERALTA disse...

Aguardemos sim Senhora!!… Mas, presumo que, a continuar com este espirito, só no dia de São Nunca ;)
Falar mal, de tudo e de todos, é fácil; Construir dá muito trabalho e torna-se muito difícil...
Beijinho Helena, ate amanhã :)

Anónimo disse...

É uma foto verdadeira, infelizmente:-(

Anónimo disse...

Andropausa.

Paula Ferrinho disse...

Adorei os seus comentários e os da Virgínia também...
Apetecia-me responder à letra a esse senhor "iluminado" e dar-lhe mais alguns exemplos que se juntariam aos da Virgínia, mas sinceramente, nem me apetece... Deixemo-lo...
Para si Helena, um beijo!

Fatyly disse...

Todos sentimos na pele "o estado do estado", é verdade o que diz...mas com toda a certeza que deve ter gozado umas férias bem melhores que as minhas e com o bolso mais aconchegado, e com a família por perto etc e tal, mas nem ele, nem ninguém consegue tirar-me a esperança de um futuro melhor porque todas as crises passam e até nós só estamos de passagem.

Falar/escrever é fácil, tão fácil...mas cadê a solução para travar este desvario político capitalista ou sei lá eu o nome mais adequado e pomposo.



Anónimo disse...

Goste-se ou não, o que Pacheco Pereira escreveu é o país actual. Sem tirar nem pôr. E pelo andar da carruagem, acrescentaria que um dia destes, lá mais para diante, a Província encerra, fecha as portas.
P.Rufino

Anónimo disse...

Parece-me não só uma opinião demasiado pessimista, arrasando com o esforço diário que muitos de nós fazemos, para mantermos uma vida digna e com sentido no meio de tanto sacrifício e austeridade.
Mas também uma perspectiva um pouco arrogante,pois dá a impressão de que o Sr. Pacheco está no alto de um pedestal dourado observando a patética plebe ...
Cumprimentos,
Cláudia

Anónimo disse...


Bom dia Helena!
Gostava de entrar no espelho com a Alice, viver no mundo da fantasia...
Não me identico com pessoas que só dizem mal, e a sem esperança que as coisas melhorem.

Carla

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 23:44
Já aqui se comentou essa inadmissível situação.

Anónimo disse...

O retrato que esse senhor faz do país entristece-me e o retrato que faz dos jovens repugna-me! Existem graças a Deus jovens com valor neste país que apesar do país sem esperança ainda lutam e têm objetivos.
Esse senhor que saia do seu pedestal, arregace as mangas e em vez de falar e escrever friamente, passe à ação e lute por um país e um futuro melhor!

Adorei o seu comentário, como sempre.
FL

Dalma disse...

Virgínia, parabéns pelo desassombro do seu texto!
Todos esses que os lêem e/ou ouvem, uns gostam de se auto-flagelarem, outros sentem-se bem no papel dos "coitadinhos" que ele lhes dá!

Susana Fonseca disse...

Falar é fácil, difícil é fazer....

Esse senhor pode ser um falador, mas não é com toda a certeza um fazedor!

...e a caravana passa....

Obrigada pela clareza de espírito, Helena!!

Beijinhos

Antonieta Barona disse...

Eu quando este senhor fala, tenho sempre na memória o tempo em que foi lider do grupo parlamentar do PSD no tempo do Prof. Cavaco Silva, em que defendia com unhas e dentes coisas que a mim me arrepiavam. Portanto agora, vou relativizando tudo o que diz e escreve.Não dou grande importância, não querendo dizer que algumas, muito poucas vezes, possa concordar com ele num ou noutro ponto

Anónimo disse...

É verdade Sra Dra!
E infelizmente continua.Uma coisa boa que o nosso país tem - bons atletas,desportistas - e não se lhes dá valor nem condições.Diz quem viu a final em Espinho que foi um bom jogo,mas queixam-se do horário.
Nem para os estrangeiros que visitam o país e podiam desfrutar desta alegre modalidade somos capazes de lhes proporcionar.

Gabo aos Artistas em campo o impressionável esforço,desempenho e entrega - correndo grave risco de vida - ao seu sonho.

Mas assim como eles têm esperança que o horário mude,eu vou fazendo por isso como posso.

Pena tenho eu que não esteja á frente das Federações alguém que pense nos outros como nós.

Obrigado por partilhar o meu comentário.Este ano acabou,mas vamos ver para o ano!...

Orgulho Tuga

Anónimo disse...

Desculpe a impertinência, mas quantos comentários absolutamente de acordo com o PP, de pessoas que reconhecem nele um grande pensador e historiador rejeitou ?
Pessimista, pois com certeza.
Brilhante....ai isso é.
O texto está de acordo com o país e a época do ano.
obrigada pela clareza de espírito.

Helena Sacadura Cabral disse...

Anónimo das 18:58
Só elimino comentários ofensivos. Até hoje foram quatro.
Seguramente não segue o meu blogue senão não faria este comentário...

Anónimo disse...


É verdade que não sigo, e por isso agradeço-lhe ainda mais a resposta.
(Na verdade, eu era uma seguidora do seu filho Miguel)
Foi o Diorissimo que me despertou a curiosidade, por ter ainda comigo uma metade de frasco que há bem poucos dias fui abrir, depois de anos fechado, e aspirei-respirei o tal cheiro demasiado doce de que fala.
Os meus cumprimentos, voltarei.
AP

Anónimo disse...

Boa noite,
sábias palavras as de Pacheco Pereira. É a triste realidade, em que a maior parte da juventude atual não trabalha nem estuda, vivem à custa dos pais e esbanjam o dinheiro dos mesmos na boa vida.
Felizmente, e apesar de ser uma minoria, há alguns jovens estudiosos e trabalhadores que fazem algo de útil. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Espectacular e não exp...
Org Tuga