quarta-feira, 9 de julho de 2014

A Justiça


Nem tudo o que posso, eu devo
Nem tudo o que eu devo, eu quero
Nem tudo eu quero, eu devo

Esta frase, bem conhecida, resume, afinal, aquilo por que passamos quase todos nós, quando nos debatemos entre seguir os nossos instintos naturais ou obedecer às regras que a educação, a instrução e a vida em sociedade acabam, em princípio, por nos impor. 
Reside, aliás, nesta distinção a forma como olhamos a própria Justiça. Se é verdade que todos os cidadão são iguais perante a lei, não será "justo" tratá-los da mesma forma. De facto, o meu grau de responsabilidade face a uma ilegalidade que cometa, é "maior" do que a de outro cidadão que, não sabendo ler nem escrever, caia no mesmo delito. No meu caso há o que chamo de "agravantes" e no caso dele, ao contrário, haverá "atenuantes". 
Ignoro se a lei consagra tal "diferença". Mas sempre me preocupou esta questão da igualdade, tantas vezes invocada, face à desigualdade que caracteriza a nossa vida comunitária.
Com efeito, nem todos somos iguais, nem a Justiça tem que ser "cega". Do meu ponto de vista, ao invés ela tem que ponderar muito bem as desigualdades existentes entre os cidadãos e "ver" atentamente que grau de ponderação deve atribuir a essas diferenças que distinguem os que tudo podem daqueles a quem quase tudo está vedado.
Não sou juíza, nem gosto de julgar quem quer que seja. Mas para além das leis que regulam a nossa vida, essas sim cegas, existem as pessoas. São estas que verdadeiramente interessam e deve ser em função delas e da sua diversidade que a Justiça se deve nortear.

HSC

8 comentários:

Anónimo disse...

Isto levou-me a pensar nas palavras, oportunas, que hoje li na imprensa digital, de Rui Rio, sobre o escândalo do BES.
De facto, embora, como diz, tenha de haver critérios distintos para cada arguido, pela parte dos magistrados, sobretudo dos juízes que em última instância condenam ou absolvem, em função e dependendo de determinados factores, alguns que aqui invoca e bem, a verdade é que há uns que não se livram das malhas da Justiça e outros que passam por entre essas malhas.
Como naquela observação, oportuna, de Rui Rio sobre o BES.
P.Rufino

Virginia disse...


Teoricamente está tudo muito certo, mas infelizmente, os juizes devido ao volume de trabalho ( 20 sentenças numa semana; isto é só um exemplo) e a necessidade de apresentar resultados em tempo útil, não podem estudar cada caso na base de factores como a pobreza, o analfabetismo, as carências sociais ou outros do mesmo cariz.
O meu filho trabalha 12 horas ou mais por dia, sem fins de semana nem feriados, as diligências e os julgamentos preenchem-lhe horas e horas, deixando muito pouco tempo para o estudo de cada caso e as suas nuances.
Quanto aos arguidos de topo, sabemos muito bem como os advogados manipulam as leis e como se servem delas para proteger os seus clientes. É uma falácia pensar que um ou mais juizes podem alterar o que quer que seja pelo facto dos arguidos serem doutores ou engenheiros. O seu ofício é aplicar as Leis e cumprir os prazos.
Só isso!

Fatyly disse...

Mas não Dª. Helena, a Justiça actual é tudo, menos justa e imparcial, e ainda conta muito o "status" de quem é julgado. Basta estar atenta para eu saber bem onde pairam as diferenças e são muitas!!!!
Hoje em Portugal a maioria do "povão" são meros números, infelizmente!

É na Justiça, na Educação, Na Saúde e no Apoio Social...não existe "justiça" alguma e foi tão fácil destruir tudo, o pior vai ser a reconstrução, mas já cá não estarei para saber e opinar!

Helena Sacadura Cabral disse...

Virgínia eu sei que o que diz é verdade. Mas também sei - e naturalmente é o caso do seu filho - o quanto isso os torna infelizes. Sobretudo, quando a escolha correspondeu a uma vocação e não a um emprego!

Dinada disse...

Cara Helena Sacadura Cabral, seguindo-a em silêncio não tenho por costume comentar. Fico-me por lê-la, sempre com prazer porque, além duma simpatia que nutro por si, lhe aprecio os escritos sobremaneira.
Hoje tocou num ponto nevrálgico para mim. Sim, sou uma injustiçada e não tenho pejo em afirmá-lo.
Porque fui vítima duma burla, duma usurpação de identidade e estou num beco sem saída, daqueles que o "arquivamento por falta de provas" genera.
E não pode ser.
Não pode!
É a terceira vez na vida que a justiça me vira as costas, despoduramente, com despachos mal escritos, incongruentes e ausentes de esperança...
Desculpe-me, mas só me sinto triste!

Maria do Porto disse...

Não confio na justiça, na maioria dos casos. Quando vejo um sem-abrigo a ser condenado por " roubar" um champô e uns "senhores" muito importantes a lesarem o Estado através de bancos, por ex.,em milhões de euros, serem ilibados ou pelo menos,com penas suspensas ( quando as há ), fico triste e desanimada com isto tudo.
Quem tem dinheiro vai-se safando e quem não o tem para advogados de renome está mal.
Cumprimentos.

Helena Sacadura Cabral disse...

Excelente concerto que eu conhecia do tempo em que Tom and Jerry encantavam pais e filhos!
Obrigada.

Anónimo disse...

Senhora,de nada,é um gosto.
E,para si,justiça lhe seja feita pois mereçe,aqui lhe deixo as ervilhas de cheiro.

Ambrósio