terça-feira, 17 de junho de 2014

Estar preparado

Creio que todos pensamos estar preparados para a felicidade. E também julgo que só os santos estarão receptivos à infelicidade. No entanto, o que é difícil é ser feliz, já que infelizes, todos somos um pouco.
Vem isto a propósito das "perdas" recentes que tenho tido, de tantos amigos que cumprindo o seu destino, partiram cedo demais. Mas, ultimamente, por causa de um familiar próximo que está bastante doente, dei-me conta de algo muito doloroso, que nunca havia experimentado, e que é estarmos com alguém que não está connosco. Há doenças destas, terríveis, que para além de nos corroerem o corpo, nos roubam a alma. As pessoas estão cá, estão no meio de nós, mas nós não sabemos se quando as olhamos elas nos vêem, se quando lhes falamos elas nos ouvem, se quando as abraçamos elas sabem quem somos.
E, quando, no mais fundo do nosso coração, pedimos a Deus que as poupe ou as leve, descobrimos, afinal, que apesar disso, ainda não estamos preparados para a sua partida!

HSC

22 comentários:

Sandra disse...

Como a entendo! Vivemos isso na nossa família durante dois anos. Quantas vezes as lágrimas caiam ao olhar para ela e pensar, como é possível alguém que tanto amamos estar aqui e, ao mesmo tempo, não estar mais. Outras vezes, falava para ela como se ela entendesse tudo(relembrava todos os momentos maravilhosos que passamos juntas). Outras vezes, pedia a Deus que a levasse pois o estado dela era tão débil,nunca pensei vê-la assim. Lembro-me que, na noite anterior à sua partida, tinha pedido a Deus para a levar para o descanso merecido, mas quando isso aconteceu, senti o quanto a queria aqui. Não é fácil...nada fácil.Coragem.
Um abraço!

TERESA PERALTA disse...

Querida Helena, várias vezes tenho pensado nisso, porque já passei e passo por casos semelhantes, e chego sempre à conclusão de que é muito difícil estar preparada. Não por egoísmo, mas por ter medo daquilo que é desconhecido.
Beijinho para si.
Ate amanhã.

Virginia disse...

Grande post.

É assustador para quem sofre e para quem vê o seu Amigo a fugir-lhe.Nunca tive essa experiência, os meus pais partiram de problemas de coração, não de perda de identidade. Felizmente.
Só peço a Deus (?) que me leve rapidamente e sem fazer sofrer os outros pois é aquilo que mais custa no envelhecimento.

Anónimo disse...

Que a paz do Senhor esteja consigo e família.
http://youtu.be/Idm-dxbOe4o
A

Fatyly disse...

Nunca estamos preparados Dª. Helena e sei bem do que fala, como dói e sobretudo o sentirmos-nos impotentes.

Um abraço e força

Alcipe disse...

Minha querida amiga, os médicos saberão melhor do que eu, mas um AVC pode bem ser recuperável. Tenho um amigo médico que esteve um ano com um AVC e voltou agora a fazer medicina. Ele disse-me "cada caso é um caso e nunca se pode prever nada absolutamente". Claro que é importante saber a extensão da lesão. Tenho uma pessoa de família nessa situação, daí permitir-me esta conversa de leigo. Mas de leigo amigo

Alcipe

Carla Cascão disse...

Olá D. Helena! Como está? Deste lado vai-se caminhando....
Tenho seguido o seu blog, mas ainda não tinha tido o atrevimento de deixar o meu comentário....
Em relação ao seu post, deixe-me dizer-lhe que vai fazer dois anos em agosto que a minha mãe partiu devido a um avc,foi questão de meses,de abril de 2012 até agosto foi um buscar de forças que eu não sabia que existiam... ficou na cama e não se levantou mais.... olhava muitas vezes para mim e não sabia quem eu era,magoava tanto, tenho tantas saudades dela.... costumo dizer que é uma saudade corrosiva....eu sabia que mais tarde ou mais cedo ela iria partir, era demasiado sofrimento...achava que os meus pais só iriam partir quando fossem muito velhinhos....felizmente ainda tenho o meu pai,a caminho de 78 anos!
Espero muito sinceramente que o seu familiar se recupere depressa!
Se permite, deixo-lhe um beijo!
Cumprimentos
Carla Cascão

saudosa disse...

Queria Helena, foi exactamente esta a sensação que tive com a minha Mãe, quando ela entrou em coma.... Não saber se ela dava por nós, ou se sentia a minha mão a agarrá-la com toda a força....
E depois custou muito achar-me egoísta de querer que apesar de tudo isso, ela continuasse ali connosco, se calhar por conforto nosso e não dela... por isso reagi tão mal à expressão "pelo menos deixou de sofrer"... Ainda hoje sinto esta dor!

Fátima Costa disse...

Tranquilizaram-me as suas palavras na medida em que expressaram claramente uma duvida que de vez em quando me assalta: face a situações dolorosas como as que descreve penso se não será preferível Deus levar essas pessoas e, assim abreviar um sofrimento inútil Sinto-me a mais horrível das pessoas por ter um pensamento tão egoísta.Afinal não sou tão egoísta quanto penso é só uma questão de estar preparado ou não



ERA UMA VEZ disse...

Querida Helena

É bem verdade o que diz e cada um de nós conhece ou irá conhecer um dia uma situação dessas.
Um dia ouvi esta frase de Júlio Machado Vaz, pensamento que que guardei por sentir o mesmo: "o que me assusta é a possibilidade de sobreviver a mim próprio"
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Talvez por isso "os dias felizes" que a vida nos dá (ou que conquistamos) tenham de ser perfeitos.

Afastada que ando destes queridos espaços por razões de saúde, vou regressando...

Hoje muito especialmente para lhe dizer que na próxima terça feira, dia 24, no El Corte Inglês, ali mesmo no sítio onde temos trocado abraços, surpresas e gargalhadas, a ANA vai lançar o seu primeiro livro.

Fala de um tipo de amor que a Helena bem conhece mas é também um
espaço com muito humor.Como sabe, aqui por casa, ambos se confundem...

QUERIDA HELENA
Isto tudo para lhe dizer como seria um dia ainda muito mais feliz se a tivéssemos por perto.
Uma honra e uma alegria para a autora e para todos nós.

Um grande grande abraço.

maria isabel disse...

Coragem Doutora Helena
Um beijo e um abraço muito especial

Ana disse...


A minha avó esteve assim anos e foi muito duro para todos nós ver uma mulher maravilhosa que marcou a vida dos filhos/netos a "apagar-se".
E não, apesar do tempo em que não nos reconheceu, ninguém estava preparado para a sua partida.

Eu, tínhamos uma ligação muito forte, tinha a secreta esperança (até tenho algum pudor em escrever) que ainda iria olhar para mim e reconhecer-me!

Ana disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Helena Sacadura Cabral disse...

Minha querida ERA UMA VEZ
Já disse à nossa Ana que só se o avião não chegar a horas é que não estarei lá para vos abraçar.
Já tinha estranhado a sua ausência.
Bjo

Anónimo disse...

Bom dia Helena!!
Fiquei abismada quando vi a foto do seu post, por momentos pensei em mim, não em mim claro felizmente tenho o coração saudável, mas do meu pai foi esse o motivo da sua partida...
Numca estamos preparados para a partida de um familiar amado por nós, quando estão a sofrer muito talvez o desejo seja esse, atenuar o seu sofrimento com a sua partida, alivia quem os vê e de quem sofre.
Mas a dor fica sempre, o vazio... desejo muito que o seu familiar melhor...
A sua catarse foi escrever a minha foi ler, ler aprendi tanto nestes ultimos 2 anos, li Freud,Jung,Nietzsche e Coimbra de Matos ao ler estes livros aprendi a soltar-me, com psicoterapia a aprendi a pensar a suportar melhor a dor que bom é ter alguem que nos oiça...contar coisas numca antes contadas provoca em nós uma grande descarga emocional... deixou-lhe uma frase inspiradora e sábia.


O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o.

Carl Gustav Jung

Um beijinho
Carla

Anónimo disse...

Senhora,
neste dia triste e cinzento receba um carinho levado pelo vento.
Não estranhe se não o sentir em suas mãos,pois enviei directamente para o seu coração.

Uma caixa dos " tais especiais" Ferrero Rocher.
Ambrósio

Antonieta Barona disse...

Momentos dificeis todos passamos por eles, uns doem mais que outros.

noName disse...

Mulher guerreira!
Que nunca lhe falte a Luz e a Força!

Por vezes parece que o mundo está a derrocar e nós, sós, sob os escombros, sem conseguir respirar.

Um a um vamos cumprindo o nosso destino, e é bem verdade que nunca estaremos preparados para o vazio que fica de quem vai antes de nós, nem de quem nos fica entre os braços, por tempo indeterminado, já a viver noutra dimensão.

Abraço.

Isabel disse...

Já passei por tudo isso. Quando a pessoa parte, sentimos um "certo" alívio,o sofrimento acabou. Mas no meu caso não fiz o luto, na altura certa. E foi muito difícil, em suma não estamos mesmo preparados, para perder alguém de quem gostamos muito.

Isabel Amaral barbosa

Anónimo disse...

Querida Drª Helena:

É difícil ver partir aqueles que amamos mas, para mim, ainda é mais difícil vê-los sofrer.
Vivi essa experiência com um familiar próximo, uma tia-avó que era mais avó do que tia, há anos e chegou uma altura que já nem a conseguia visitar (o que mais me doeu foi ver o meu tio-avô perceber isso e, na sua ternura, mostrar-se compreensivo perante esta dificuldade que tenho.

Sei que é muito difícil este acompanhamento por isso, um beijinho, um abraço e votos para que o Senhor lhe dê força.

Vânia

Anónimo disse...

~
Como compreendo suas dores...

Como doi ler um desabafo de um filho

Não fique a morte retida,
Por muito que não seja amada
Que venha , que é bem tolerada
Que Amada foi o milagre da vida


Com carinho

Anónimo disse...

Nunca se está preparado...nunca,mesmo!
Nem mesmo quando se pensa que se pode estar.
É um enigma que um dia será nosso também.
Isso é certo.
E não há preparação possível.
Só resta aprender a viver com a dor da ausência.
Resta a luz das memórias.
A fé.
Fátima