sexta-feira, 18 de abril de 2014

A pieguice


Não sou piegas. Mas não me importaria nada de o ser, se isso fosse a exteriorização de algo autêntico na minha natureza. Porque é que ser piegas será pior do que não ser? 
No Grande Dicionário da Língua Portuguesa dá-se ao termo a seguinte definição: "pessoa considerada excessivamente sensível ou sentimental; pessoa que é considerada medrosa e assustadiça".
Há ideias feitas sobre a forma como nos devemos comportar e quem saia fora delas é sempre qualificado com um qualquer epíteto. Como este a que o próprio dicionário atribui sentido pejorativo. 
E agora pergunto eu, quem é que tem autoridade para definir o excesso de sentimento ou de medo? Onde está o gráfico padrão comportamental que permite definir a "normalidade" nestas matérias?
Vem este intróito a propósito de uma carta que, há quase década e meia, circula na internet, como sendo de Gabriel García Marquéz, e que constituí uma espécie de despedida da vida de um homem em estado terminal. O texto é muito bem escrito, mas foi considerado talvez demasiado "piegas" para ser do autor do "Cem anos de solidão" que, aliás, desmentiu a sua autoria.
Aqui está o exemplo do que acabo de referir. Não estava em causa a qualidade literária da carta que até se podia confundir com a de Garcia Marquez. O que estava em causa era o "grau" de pieguice que se tolerava ao escritor. Por quem, gostaria eu de saber. De certo, por especialistas - nada piegas - da "natureza humana"...

HSC

8 comentários:

Anónimo disse...

Senhora,desejo-lhe uma Sta Páscoa e deixo como sempre a caixa de Ferrero Rocher Especial,a que adoça a Alma.

http://youtu.be/atjhvU12GuM

Ambrósio

Virginia disse...

Para mim, uma coisa é ser piegas na segunda deifinição do dicionário e que associo a cobardia ou receio do risco outra é o tal excesso de sensibilidade, que como diz e bem, não se pode quantificar.

Serei sempre piegas emocionalmente, choro por tudo e por nada, hoje em dia muito mais do que dantes, comovo-me perante cenas de filmes ou da vida real, não consigo ouvir certas músicas sem me vir uma lágrima ao canto do olho...

Nunca serei piegas ou cobarde perante a vida.
Sei que sou capaz de enfrentar problemas gravíssimos com frieza, sem medo, sem certezas nem conforto ou segurança. Já as enfrentei. Daí não me considerar piegas nesse sentido, até me vejo destemida e precipitada por vezes.

Ficaria aqui a dissertar sobre o tema....mas a Helena tem mais que fazer do que me aturar :)
Bjinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Virgínia
E mesmo o medo tem razões mais profundas do que aquelas que possamos imaginar e que não são catalogáveis a bel prazer de quem o não tem.
Somos uma sociedade classista até nas questões de natureza psicológica!

Helena Sacadura Cabral disse...

Ambrósio, muito obrigada. Uma Páscoa rodeada de calor humano é o que lhe desejo!

Fatyly disse...

É tão fácil "catalogar" os outros quando nem sequer sabemos olhar para o que somos e fazemos.

Subscrevo o que diz!

patricio branco disse...

curioso, onde começa o grau de piegas considerado excessivo ou anormal ou ridiculo, etc? a carta, que nunca li, era demasiado piegas, portanto certamente apocrifa. nao sei se ggm alguma vez a desmentiu.
verdade que tambemn há uma média de pieguice nas suas novelas que para o leitor é perfeitamente aceitavel por nem excesso nem falta.
tambem há muita humanidade nos seus personagens, não são bonecos frios, mecanicos, não andam a chorar por tudo.
talvez agora se descubram textos escritos nos ultimos 20 anos e não publicados por decisão do autor, a continuação das memórias, esboços de novelas, diários, contos, cartas.
homem de esquerdas mas discreto, um grande trabalhador das letras com um estilo claro e impecavel, temas interessantíssimos, o caribe e as suas gentes e história ali dentro dos seus livros, vamos ler algo do gabo, sim, uns contos, uma novela, o amor nos tempos da cólera, uma outra peste do outro lado do atlantico, foi se um homem tranquilo e genial

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Helena: fui eu (e só eu) que escrevi quem no meu blogue que a (falsa) carta (atribuída a GGM) era demasiado "piegas" para ter sido escrita por ele. Porquê? Não porque a "pieguisse" seja um defeito, mas apenas porque achava (e acho) que não faz parte do estilo da sua escrita. Nada mais. Um abraço.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Francisco, lamento desiludi-lo, mas já tinha ouvido essa opinião antes de ter visto o seu post.
O que não surpreende, porque a carta tem muitos anos e há quem considere GGM, como refere Patrício Branco, um autor com novelas demasiado piegas/ românticas/oníricas.
GGM tem livros admiráveis e outros de que gosto menos.
Mas o que eu pretendia mesmo salientar era o direito que todos temos a ser piegas, se essa for a nossa natureza. E não ser desmerecido por causa disso!