sábado, 4 de janeiro de 2014

Vão, mas não voltam!

O texto que se segue é da autoria da Teresa Ribeiro que o postou hoje no blogue colectivo Delito de Opinião onde também escrevo. Ele diz tudo o que eu penso sobre o assunto.

"O que distingue os novos dos velhos emigrantes é o corte afectivo. A renúncia dos jovens, que agora partem, ao país que os viu nascer mas não lhes permitiu fazer planos, atingir objectivos, progredir na vida é uma novidade na nossa história de emigração. Esta nova geração não se vai rever nas canções de emigrantes que gemem de saudades pelo país solar que ficou para trás, nem vai fazer poupanças com o intuito de um dia voltar. Os seus filhos serão filhos de países bem sucedidos e aprenderão a falar as línguas que contam."
A globalização ajudá-los-á a descartar os sentimentos de pertença que sempre atrapalham na hora da despedida, mas será o sentimento de rejeição o principal responsável por todo este desprendimento. Ao contrário dos mais velhos não é com humildade que saem, mas com despeito. Na verdade, não partem, dão as costas. Dão as costas ao país que lhas virou". 

O que mais dói é o corte com o país. Os filhos destes novos emigrantes não tornarão a ele. E os seus progenitores irão, progressivamente perdendo o contacto com as origens. Morrerão portugueses, mas longe de Portugal. Será a nova diáspora nacional!

HSC

19 comentários:

Tété disse...

Querida Helena,
Mais uma vez lhe desejo um Ano cheio de saúde e da força habitual.
Ao ler este seu post fiquei com a garganta seca de pensar que os pais e as mães,como eu, vão deixando os filhos ao mundo sem que, no que resta da sua vida, os possam sentir presentes, como foi o nosso caso relativamente aos nossos pais.
Já uma vez aqui desabafei que o meu filho, que por sua vez já é pai de um rapaz de 9 anos e que tem duas licenciaturas e um doutoramento, e neste momento está no 4º ano de medicina, tem lutado com toda a força para ficar por cá; claro que para isso conta, como não podia deixar de ser, com o nosso apoio em várias vertentes.
Mas quanto tempo o poderemos fazer se as reformas têm sido sistematicamente cortadas (para mim roubadas pois descontei 46 anos tudo o que era devido para a Segurança Social).
Tem feito de tudo para completar os míseros ordenados que lhe pagam. Dá aulas (poucas e no particular, mas dá) tem trabalhado, através de uma empresa de Autsorcing, como vendedor de seguros de vida e viagem no Aeroporto onde lhe pagam 2,79 € /hora, menos de metade do que uma empregada doméstica). Isto é o que eu chamo de se lançar à vida sem pruridos de nenhuma espécie, uma vez que ficou sem dar aulas na Universidade Católica por encerramento do curso de Engenharia Biomédca. E devo dizer-lhe que com 40 anos e depois de tanto estudar, é triste e doi ouvir que um deputado de carreira, com 37 anos, foi promovido a secretário de Estado. Conheço-o desde criança e sei que não foram os estudos que o lançaram; foi sim, sabiamente o seu percurso no CDS, que o fez alcançar este prasenteiro lugar com os devidos honorários a que tem direito.
Não falo por despeito mas sinto que devo destacar as injustiças que cada vez mais são feitas neste país que demora em recuperar o caminho.
Desculpe este desabafo mas há dias em que me é extremamente difícil engolir estas coisas.
Um grande abraço. Toda a amizade.
Teresa

Helena Sacadura Cabral disse...

Tété
Creia que a compreendo muito bem.
No meu caso o facto de ser mãe de dois políticos tem sido um verdadeiro karma na minha vida profissional, porque todos têm receio que se diga que me contratam por isso. E assim vou vivendo, trabalhando que nem uma louca, com a idade que tenho...

Maria disse...

Simplesmente uma tristeza!
Bj
Maria

maria isabel disse...

Doutora Helena
Lamento que com a idade da Senhora tenha que trabalhar.Mas acredite numa coisa: ser mãe de 2 políticos qualquer uma pode ser,mas Helena Sacadura Cabral só há uma e essa tem muito valor

Fatyly disse...

Um magnifico texto sobre uma dura realidade.

Também as suas palavras são pertinentes e subscrevo, porque não há coisa pior que emigrar com o "sentimento de rejeição". Portugal não terá nada, mesmo nada destes quase 150.000 que já partirem e outros milhares preparam as malas.

40 anos depois...voltámos à mesma cepa torta...que coisa!!!!

Anónimo disse...

Quando tinha 18 anos lembro-me de me sentar na bibioteca de uma universidade estrangeira a ler literatura espanhola sempre que sentia saudades de Portugal. Era tudo mais distante e caro.
Hoje tanto a internet, como os telefonemas e transportes mais eficientes e baratos facilitam muito o contacto com Portugal.
L.L.

TERESA PERALTA disse...

Quem tem filhos sabe o que custa o investimento financeiro e emocional na sua educação para, no final de todo esse esforço, os lançar num mundo sem identidade, abrir mão de tudo, para outros, que vão recolher os frutos, das sementes que plantámos, e que, para além de tudo, nem os entendem muito bem...
A "utopia" da globalização é notória em todas as situações miseráveis que estamos a viver. Pagaram para não cultivarmos, e, agora, pagam para abrirmos mão de "tudo"...
Sabe, falo por experiência própria, que é, afinal, aquilo que nos pode conferir uma maior sabedoria. Sou mãe de duas filhas, uma já lá está, e, a outra, vai a caminho...
No inicio, cheguei a pensar que, tudo isto, não passava de uma situação temporária e que, até, se tornava salutar uma aprendizagem diversificada. Agora, tenho a certeza que vão, e que não têm condições para voltar...

Por muito que me doa fazê-lo, garanto-lhe Helena, vou lutar com todas as minhas forças, de modo a inverter esta situação; contra políticos, contra sindicalistas e grevistas, contra aqueles que, em nome de ideais fabulosos, têm subjugado a geração dos nossos filhos. Urge abanar o conformismo, através do inconformismo... Porque, até a liberdade se torna uma “utopia”, quando, em nome da mesma, se subjuga, e se retira a liberdade aos outros...

Abraços grandes.

Alcipe disse...

Minha querida Helena o que esta emigração significa é a descida de Portugal na escala de valor acrescentado do que produz, a redução ao mínimo do trabalho qualificado português e a consequente mudança para baixo do papel e do valor de Portugal na cadeia produtiva da economia europeia e mundial. É esse o modelo que tem para nós a realidade presente desta economia financeira que todo lo manda. Que ainda por cima tenhamos que dar gritos de alegria com este estado de coisas é que eu dispensaria. Talvez um pouco menos de euforia ficasse bem a quem tanto nos quer bem. Seu amigo

a) Alcipe

Pôr do Sol disse...

Muito preverso e inconsciente é um governo quando no seu País, o numero de imigrantes ultrapassa o numero de nascimentos e continua a achar e a dizer que estão no bom caminho.

Que visão tem esta gente?

Anónimo disse...

Tenho um filho que partiu, definitivamente, para fora, sem qualquer vontade de aqui voltar, visto aqui não ter futuro. O outro vai seguir-lhe, para breve, as pegadas. Partem para países de UE, como poderiam ir para mais longe. Têm qualificações universitárias, falam pelo menos, fluentemente, 3 línguas, também viveram e estudaram antes no estrangeiro, regressaram cá, com vontade de aqui ficarem, mas com este descalabro desde há quase três anos, decidiram partir – desta vez definitivamente. Três outros sobrinhos estão, também, desde há 2 anos, fora, pelas mesmas razões, seguindo-se-lhe um outro para breve. De amigos meus, conheço mais outros casos, filhos com qualificações que vão embora. Todos estes jovens que aqui refiro, filhos, sobrinhos e filhos de amigos e conhecidos, todos, são qualificados por universidades conceituadas deste país, ou no estrangeiro, que inicialmente acreditaram que aqui haveria um futuro para eles. Não havia. Relvas e Passos tinham razão em aconselha-los a partir. Lá sabiam porquê. Com as qualificações que possuem, falando bem línguas, sobretudo o inglês, estando bem pagos lá fora, vivendo bem, sem dificuldades, não há nenhuma razão para aqui regressarem. Até porque o horizante deste país é pior que mau. O meu conselho e dos seus pais é de que ali fiquem. E que não regressem. A não ser que, por quaquer passse mágico, este patético país mude rapidamente para melhor. Mas, já não acreditam em fantasias. Têm entre 24 e 33 anos. Inacreditável! E é assim. Vão-se embora, quando aqui eram necessários. Este fim de semana partiu mais uma filha de amigos. Qualificadíssima, trabalhava com um salário razoável, mas que não lhe permitia sair da casa paterna. Reduziram-lhe o salário em quase 40%, embora obrigada a trabalhar durante o mesmo horário. Aguentou até encontrar algo melhor e menos humilhante lá fora. Conseguiu. E vai, para, como nos disse, “nunca mais voltar. Este país não tem futuro!”. Não tem. Ela tem razão.
“Palmas ao governo e a este espantoso O.E 2014”. O Diabo que os carregue!
P.Rufino
PS: um outro sobrinho optou por um caminho semelhante ao que Tétè descreve. Está hoje, desde Março, acantonado numa Secretaria de Estado, como chefe de gabinete, ou assessor. Com todas as mordomias do cargo “a que tem direito”. 32 anos. Vindo de um escritório de advogados bem conhecido, para, depois de 2015 partir para outra “onda”. Uma “outra forma de dar a volta à crise”. Prefiro aqueles que emigram a estas “atitudes”. Mas hoje começa a valer tudo. Sobretudo na porcaria da Política que temos.

Anónimo disse...

A emigração no tempo de Salazar, como todos sabemos, era totalmente diferente da dos nossos dia. Até parecia que o Salazar lhes dizia: vão, vivam na miséria, poupem, mandem para cá o vosso dinheiro, façam aqui as vossas casas, assim dão trabalho aos que ficaram, etc. Pois é, mas os novos emigrantes já não pensam assim. O futuro vai fazer história com as características desta nova diáspora Portuguesa.

Anónimo disse...

Como eu a compreendo "Tété". Eu tal como o seu filho tenho mais de uma licenciatura (no meu caso 2).Tirei a Primeira achando que o meu futuro ia ser uma maravilha, porque como nunca tive medo do trabalho o futuro não me metia medo, sempre tinha ouvido "com trabalho tudo se consegue", santa ingenuidade a minha. Pois é trabalhar sempre trabalhei até porque tirei as minhas licenciaturas sempre a trabalhar em part-time, de dia faculdade e das 18 às 24h trabalho. Como não me correu bem a 1ª licenciatura parti para a 2ª, detonei as minhas parcas poupanças e continuando a trabalhar lá fui eu mãos à obra, sempre bastante determinada. Terminada esta minha 2ª aposta a nível profissional, continuo na mesma ( bem na mesma não me sinto, pois estou fracamente mais frustada e indignada). Olho para o lado e vejo alguém francamente menos habilitado e capacitado do que eu a arranjar grandes empregos a subir na carreira e de repente questiono-me o que é que me falha. Pois é não tenho os conhecimentos certos, ou não tenho meio palmo de cara bonito, ou não sou "lambe botas", etc...
Infelizmente vivemos num País onde não se aposta na qualidade e na competência (hà excepçoes, é pena é serem tão poucas e raras). Eu como o filho da "Téte" ganho por hora menos que uma senhora das limpezas (com todo o respeito por estas senhoras e pelo seu trabalho, pois todos somos necessários à sociedade), mas bolas eu investi tempo, dinheiro, horas de sonho, abdiquei de coisas da minha vida para quê ?
Para ouvir que tenho curriculo a mais, ou que tenho um curriculo invejável mas que não me podem dar emprego. Eu só quero trabalhar, dar o meu melhor com um ordenado digno, acho que não é pedir muito.
Gostava tanto de ter respostas, de saber que o nosso País vai mudar, porque assim não vamos parar a bom porto !!!!

Anónimo disse...

Teresa Peralta,
Acho admiravel a sua promessa de inconformismo e luta! era bom que mais gente fosse assim.
No entanto, fiquei um pouco arrepiada quando diz que - nem os entendem muito bem- porque julgo que cabe ao imigrante adaptar-se ao pais de acolhimento.
No caso dos enfermeiros, por ex, sei de casos de pessoas de idade que se sentem frageis e desamparadas nos hospitais quando deparam com enfermeiros que, tanto do ponto de vista linguistico como cultural, nao as entendem bem. Alem disso,nunca se deve esquecer que por vezes ha jovens desse pais que nao entraram nos cursos de enfermagem pura e simplesmente porque se torna mais barato empregar estrangeiros ja licenciados e habilitados.
L.L.

rmg disse...


Confesso que este é "peditório nacional" para que não dou , a maior parte das vezes não nos leva a lado algum , o mundo é outro e nós continuamos a achar que talvez não (ainda que ninguém o admita , claro).
A globalização não é só um tema de telejornal .

Tudo isto é igual ao que se passa por toda a Europa (excepto Alemanha e países nórdicos), a menos que até a França e a Itália se tenham tornado países de pobres coitados como nós :

http://www.lenouveleconomiste.fr/la-france-pays-demigration-18942/

http://www.repubblica.it/economia/2013/04/06/news/fuga_dall_italia_2012_pi_30_per_cento_iscrizioni_aire-56063938/


Dirão alguns : "mas que raio de conversa a deste gajo!" .
Pois este "gajo" (eu) teve 2 dos 3 filhos emigrados , um deles muito antes da "crise" e de 2008 .

Um deles continua a passar 4 a 5 meses por ano fora do país , dando formação (em sítios tão pertinho de casa como a Austrália , por exemplo) e o outro , altamente qualificado , voltou de vez porque
finalmente percebeu que devia lutar de outra maneira aqui (o que só se percebe quando se constata lá fora que afinal as coisas não são mais fáceis)e está melhor do que alguma vez esteve .

Mas também é verdade que eles tiveram uma experiência que a maior parte nunca teve : eu próprio fiquei "pendurado" aos 43 anos (andavam eles pelos 18 a 20) e trabalhei os 22 anos seguintes até me reformar em 4 distritos diferentes de norte a sul do país, a vir a casa em Lisboa quando calhava e podia .
Pouco viram o pai mas aprenderam cedo que a vida não é ír todos os dias tomar a bica no mesmo café.

Que há problemas e situações gravíssimos que só apontam como saída a emigração é um facto , como já se percebeu que eu sei bem.
Que muita gente nova não prepara a saída como deve ser e acaba a fazer trabalhos "precários" que cá nunca aceitaria também .

Portanto permito-me um conselho a pais e mães como eu : que eles vão mas se possível com um contrato debaixo do braço (para a América Latina é essencial!) ou pelo menos com um contacto sério do outro lado e não uma vaga promessa (inclusivé no caso da Europa) .

E depois sorte , muita sorte ...

RuiMG

PS - Mais uma vez agradeço à Drª Helena as questões que aqui levanta e o espaço que nos disponibiliza para as debatermos de forma séria e franca .




Helena Sacadura Cabral disse...

Meu querido Alcipe
Milagre seria se a descida fosse apenas na emigração. Infelizmente, não é...

Helena Sacadura Cabral disse...

rmg
Eu própria trabalhei fora. O que diz é verdade. Mas os que agora saem são os futuros cidadãos do mundo, para quem a nacionalidade já tem um valor diferente. E isso é que talvez custe mais a deglutir.

TERESA PERALTA disse...

L.L.
Quando escrevi que "nem os entendem muito bem", não me referia à linguagem. Queria dizer que, a maior parte das vezes, a diferença de culturas provoca algumas incompreensões, de parte a parte. Quando a emigração dos nossos jovens passa de "temporária" a obrigatória e "permanente", esta condição, torna-se muito mais complicada, porque a adaptação é forçada, sem possibilidade de escolha, originando uma revolta interior, que pode gerar situações de maior conflito pessoal.


Diana disse...

Os nossos filhos são do mundo. Já não é como antes, tem razão.
Estou emigrada mas deserta para voltar. E os meus filhos também.
São outros tempos.
Beijo grande e bom ano.

Ailime disse...

Dra Helena, não se sabe como tudo isto vai terminar e quando!
Um dos meus filhos com média de 19 no curso e distinção e louvor no doutoramento em Biologia do Desenvolvimento emigrou há já sete anos, porque aqui já nao havia lugar para ele. Está em Toronto. O meu outro filho tentou emigrar para Inglaterra. Embarcou no domingo a tarde e foi tão mau tudo o que encontrou que já está no aeroporto de Londres para vir de novo para Lisboa engrossar as listas do desemprego. Desculpe o desabafo. Um Beijinho. Com muita consideraçao. Emília