terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Panteão nacional

Já nem sei que diga do despropósito das intervenções de grandes figuras com responsabilidades políticas. Agora, a segunda figura da Nação volta a embrulhar o seu discurso, ao pronunciar-se sobre a ida de Eusébio para o Panteão nacional. Ora para um correcto esclarecimento do assunto, deverá ter-se em conta que:
1. As chamadas honras de Panteão encontram-se hoje reguladas pela Lei nº. 28/2000, de 29 de Novembro, aprovada na sequência do falecimento de Amália Rodrigues. Esta legislação é bem mais clara do que aquela que até então se aplicava, datada de 1836 e de 1916.
2. Actualmente as referidas honras são da competência exclusiva da Assembleia da República que as aprova sob a forma de resolução, nunca antes de um ano após a morte do cidadão a distinguir.
Assim, tendo Eusébio ficado sepultado numa campa, deverão  decorrer os prazos legais para que o corpo possa ser exumado em condições de ser trasladado. Julga-se que serão, pelo menos, cinco anos.
3. Admitir reunir grupos parlamentares ou falar de custos cujos montantes poderiam justificar o recurso a eventuais patrocínios que reduzissem o impacto que tal honra implicaria no orçamento da Assembleia, não abona muito a favor de quem tem responsabilidades políticas ou de relevância pública.
4. Em clima de grande tensão emocional e envolvendo matérias delicadas, o caminho mais aconselhável é sempre o da contenção verbal.

HSC

19 comentários:

João Menéres disse...

Muita precipitação e o fatal pouco acerto generalizado.
Lamentável, uma vez mais, a menoridade mental de tantas pessoas de quem se exige outra postura.

maria isabel disse...

Também me pareceu pouco correcto,e pouco respeitoso, ainda o Eusébio a ser velado e a segunda figura de Estado já estar a falar nas centenas de euros a gastar com a possível ou não cerimónia para o Panteão. E porque não deixar o homem descansar em paz onde está ou levá-lo para uma capela no estádio da luz.Fazia sentido essa homenagem. Mas quem sou eu para dar opinião e muito menos numa altura de pré funeral estar a falar em dinheiro frente ao cadáver.Muito mau gosto

Teresa disse...

Acho um exagero um jogador de futebol ir para o Panteão!! E fico-me por aqui!!Fernando Pessoa também merecia lá estar!!

TERESA PERALTA disse...

Pode não acreditar, mas, nestes casos, fico com imensa “vergonha”, de ter como governantes figuras altamente impreparadas... Porque, como ocupo um grau inferior na escala hierárquica da Nação, o meu coeficiente de “ignorância” deve ser muito acentuado... :)

Obrigada pelo esclarecimento.
Bj. :)

Um Jeito Manso disse...

Parece que anda tudo doido. Uns inventam palavras para ver se enganam os outros, outros inventam para se armarem em especiais, outros querem fazer heróis nacionais à pressão, tudo à bulha por coisas parvas, tudo exacerbado, um empolamento de tudo, uma realidade alterada.

Que impressão que isto me faz.

A propósito deste assunto, parece que até houve um que comparou a importância de Eusébio à de Mandela. E depois todos comentam a parvoíce como se não houvesse outro assunto. Nem sei que diga a isto tudo.

Nem mesmo a chuva produz o efeito de um balde de água em cima de tanta cabeça desmiolada, credo.

Um abraço, Helena.



Carlos Duarte disse...

Cara Helena,

Nem mais, obrigado.

Nadinha de Importante disse...

Achei o comentáriopéssimo. Até pode ser verdade que o Panteão tenha custos elevados, para o orçamento da Assembleia da república,algo que também me custa a perceber (custos no quê, manutenção do espaço e respectivo interior ou em ordenados?!). Parece-me bem que exista o apoio dos privados, mas vir a público, no dia do falecimento de Eusébio falar disso é algo que me incomoda muito e de quem não tem grande sensibilidade.

nadinhadeimportante.blogspot.pt

Anónimo disse...

Luísa disse..
Errada é a pressão dos media. Quem se atrevia ali, naquele momento, a dizer não, não concordo que vá para o panteão? Quando as coisas adquirem a dimensão patética ocorrida naquele cemitério do Lumiar, que nos resta se não abrir a boca de espanto? Que se espere então um ano, ou cinco, a ver quem morre entretanto e depois escolher: quem vai para o Panteão? Quem devia lá estar? E um Panteão gigante para todos os que merecem essa honra! Era muito boa ideia, desculpai-me a ironia. E Fernando Pessoa, e Belarmino pugilista, e Agostinho da Silva, e Amélia Rey Colaço, e Fernanda Alves, e todos os nossos heróis favoritos. Não era giro? Quem se atreve agora, de esquerda ou de direita, a dizer que Eusébio não merece ir para o Panteão?

Anónimo disse...

Nem mais.
P.Rufino

Anónimo disse...

Qual é o problema de um futebolista ir para o Panteão?

O problema do Eusébio é que não foi apenas um futebolista. É um símbolo cultural, quer se queira ou não.

Fernando Pessoa também merecia, mas o Mosteiro também é um panteão nacional de prestígio. E está lá muito bem.

Lá por existir um Panteão por decreto não quer dizer que não existam outros, ainda mais sendo o país tão antigo.

"A nação Portuguesa tem sido notada como ingrata para com seus melhores Cidadãos."

Pois é.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caros comentadores
Eu não dei qualquer opinião sobre se Eusébio deve ou não ir para o Panteão.
Esclareci, sim. o que a lei determina para que tal aconteça.

Anónimo disse...

Em 12 de Agosto de 1984, Carlos Lopes venceu a prova de maratona nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, tornando-se o primeiro português a ser medalhado com o ouro nos Jogos Olímpicos. A marca atingida (2h9m21s) foi recorde olímpico, até aos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008.
O País vibrou, não faltaram justas homenagens, condecorações e o nome do grande atleta foi dado ao Pavilhão dos Desportos em Lisboa, no Parque Eduardo VII. O Primeiro-Ministro de então cumpriu a promessa feita antes dos Jogos. Se ele trouxesse uma medalha de ouro, daria um almoço, assando um boi, nos jardins da Residência Oficial de S. Bento e assim aconteceu.
Passadas menos de 3 décadas, o Pavilhão está decadente há anos, sem se saber bem qual será o seu destino, o que honra muito mal o feito memorável de Carlos Lopes. Infelizmente, estas declarações emotivas em cima dos acontecimentos nem sempre são de bom augúrio. A memória é quase sempre muito curta...
José Honorato Ferreira

telmo disse...

Depois que vi uma fadista salazarista ir para o Panteão, esquecendo-se este povo de quem arriscou a vida lutando pela liberdade e pela democracia, até lá podem pôr o ditador de Santa Comba Dão que dizia ser um democrata 'orgânico'. Se está lá o fascista Carmona, é mais um menos um...
Afinal, desde quando é que um Prémio Nobel da Literatura está ao nível de um futebolista melhor do que o comum dos seus colegas?
Desde quando é que um combatente antifascista durante décadas como José Afonso, está ao nível de uma fadista que mandava flores ao tenebroso ditador seu vizinho?
O Panteão deixou de o ser dada a mediocridade e falta de idoneidade política de dois dos seus ocupantes!
Oh, tempore; oh mores!

Teresa disse...

Peço desculpa de estar a responder a um comentário,mas tenho que o fazer! "Anónimo das 14:53" Eusébio foi um jogador de futebol,e nunca um símbolo de Cultura!Se Fernando Pessoa está muito bem onde está,Eusébio que pelo que ouvi,deixou escrito tudo o que queria que fosse cumprido após a sua morte,também está muito bem no Cimitério do Lumiar,escolhido por ele!!

AEfetivamente disse...

Subscrevo inteiramente. E o post abaixo, idem aspas...

Maria disse...

Drª Helena, mais uma vez obrigada pelo seu artigo.
Tudo o que escreveu, subscrevo,na íntegra.
Um abraço.
Maria

Maria disse...

Para desanuviar das declarações da senhora da AR, foquei-me no fantástico ângulo da fotografia do Panteão. Parabéns Dra Helena.

Anónimo disse...

Porque é que o título da notícia cujo link coloco suscita tanto espanto?

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=3625092

Anónimo disse...

"Eusébio foi um jogador de futebol,e nunca um símbolo de Cultura"

Pois eu tenho de responder e manter o que escrevi: Futebol é cultura. Chame-lhe popular, chame-lhe comum, mas é cultura.

Toda a actividade humana é cultural.

Os clássicos davam tanta importância ao desporto que faziam tréguas em actividades olímpicas e faziam dos seus heróis desportivos quase uns deuses.

Leia sociologia e história sobre o desporto por favor. Vai encontrar coisas curiosas.

O problema é que você reduz o futebol a uma coisa menor, uma coisa banal, feita por qualquer um, e que não custa nada, não carrega qualquer tipo de neurónio. Uma coisa circense, de estúpidos para estúpidos. Uma alienação que nada ensina, nada produz, nada cria.

O problema é que há páginas tão belas escritas no relvado, tão belas quanto o que o outro "amigo da pinga", provalmente neurótico e com problemas de personalidade, realizou.

Sabe, escrever poemas e jogar à bola envolvem o mesmo tipo de virtudes e de defeitos, isto é, são actividades humanas.

É exactamente o mesmo problema de Pacheco Pereira: ignora que o Eusébio é tão importante para as pessoas como Álvaro Cunhal, e assim comete um erro de avaliação historiográfico tremendo: acha que há "grandes" e "pequenos", e considera que os grandes são os intelectuais, enquanto as massas se limitam a segui-los como se fossem acéfalos.

Se o problema que vos causa comichão é o Panteão Nacional, então que se crie um outro Panteão para a cultura... popular.