sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Uma folha cai ao Céu

O ostracismo do idoso no primeiro mundo, arrepia mais do que as nossas próprias limitações. É por isso que, com crise ou sem ela, com Passos ou sem ele, Portugal que eu amo, ainda é o país onde isto acontece porque não há dinheiro. Ao contrário, na Dinamarca, isto acontece mesmo havendo dinheiro...

HSC 

21 comentários:

maria isabel disse...


Cada um só vai na sua hora, eu sei,mas prefiro ir mais cedo do que ter de ficar mais uns tempos sem qualidade de vida. tenho medo do pouco respeito como os idosos são tratados nos lares.Com um idoso não se brinca como se faz com uma criança e raramente há esse cuidado.
Principalmente se é um idoso pobre.

Mar Arável disse...

Na verdade
relativa de todas as coisas
mas na verdade

Anónimo disse...

Muito sentido e humano! Apenas não apreciei a cara de "tonta" da jornalista, muito similar a algumas que povoam os nossos canais de tv - expressividade cénica.

Da última vez que fui à urgência ao Hospital de Santa Maria fiquei ainda mais doente com a quantidade de idosos que vi abandonados nos corredores. É muito triste quando os filhos "jogam" os pais como se fossem objectos.

Como dizia o meu avô materno - "os pais podem cuidar de muitos filhos, mas depois os filhos não podem cuidar apenas de dois".

Isabel BP

Alcipe disse...

Em Portugal é diferente, Helena?

Isabel disse...

Não me pareceu muito diferente de Portugal, infelizmente!
Hospitais públicos que são uma vergonha, velhinhos abandonados, crianças todo o dia nas escolas, jovens ao Deus dará...
Não há tempo para cultivar a família, porque os pais/adultos estão demasiado ocupados a tentar ganhar o suficiente para sobreviver.
O nosso país está a morrer.

Um bom fim-de-semana!

Anónimo disse...

Mas, não percebo, o ostracismo é ainda pior em Portugal e com muito mais miséria e maus tratos.
Se é assim na Dinamarca considerada o país mais feliz do mundo e o menos corrupto, com o mais alto nível de igualdade, podemos ver como é mais terrível ainda em Portugal em que OITENTA E CINCO POR CENTO dos idosos têm reformas iguais ou inferiores a 409€ e no regime rural 224,60€. Portugal é um dos países em que os idosos são mais mal tratados, isolamento e solidão, maus tratos físicos e psicológicos. Os pensionistas portugueses são os que menos recebem ma UE.
PENSO QUE HSC QUER DIZER QUE A CRISE É MUITO MAIS DO QUE ECONÓMICA É TB CIVILIZACIONAL, A DITADURA MUNDIAL DAS FINANÇAS TRANSFORMA A NOSSA CIVILIZAÇÃO NUMA AUTÊNCTICA SELVAJARIA ARREPIANTE.
Mas Portugal é ainda mais arrepiante, uma percentagem elevada de idosos vive no limiar da pobreza. Só que em Portugal existe muita hipocrisia, ai somos muito quentinhos, muito solidários, mto comunitários, tretas, quem é capaz de fazer em portugal como este escritor dinamarquês? Existe muito não querer ver nem saber, deixa andar, enquanto não se sente na pele.
Vale a pena a nossa civilização ter conquistado maior longevidade se não é acompanhada de qualidade de vida?
Mesmo as famílias com posses, não conseguem em geral ter consigo os idosos que precisam de muita assistência. No topo estão as residências assistidas em que o idoso paga cerca de 2000€ mensais, acrescidos de medicamentos, consumíveis, atividades, extras.
No outro extremo estão os idosos que só conseguem SOBREVIVER com apoios de instituições. Se estas não têm verbas...

Anónimo disse...

Ui! o Portugal, que tb amo, tem imensas culpas no cartorio.
Sacrifica cada vez mais todas as faixas etarias! nos altares dos deuses do dinheiro.
Ainda assim, julgo que, felizmente tanto na Europa como em Portugal, existe muita gente decente.
L.L.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caros comentadores
Quando coloquei este post foi justamente para mostrar que um país rico, europeu e civilizado tem, afinal, para com os velhos o mesmo padrão que nós temos.
Porquê? Porque a crise de valores é muito maior do que qualquer crise económica e financeira.

Meu caro Alcipe
É claro que em Portugal não é diferente. Mas não o choca que a Dinamarca seja igual a Portugal?!

CF disse...

Actualmente fala-se imenso em Países como a Dinamarca ou a Alemanha, onde os idosos não têm a devida qualidade de vida, nas fases terminais. Trabalho maioritariamente nessa área há muitos anos, já acompanhei processos de demências como o relatado e já vi morrer muita gente nessas condições. Já tive idosos em corredores de hospitais dois dias, já tive outros um dia inteiro sem que lhes dessem de comida, já tive internamentos em que famílias atentas vinham de longe, na hora da refeição, caso contrário ninguém insistia para que comessem... Já vi, com os meus olhos, instituições onde se deitavam quatro pessoas em duas camas, com almofadas no meio, uns para a cabeceira, outros para os pés, alternadamente. Fechou não há muito tempo, depois de estar aberta anos suficientes para cometer atrocidades como a que refiro, e de ser denunciada inúmeras vezes. Não havia alternativas, não havia vagas para albergar de emergência, tanta gente... Foi aqui ao meu lado, Helena, bem perto de Lisboa. A questão da fase final da vida, infelizmente, é constantemente esquecida. Há um afastamento e um desligamento progressivo de muitas famílias, que por assegurarem um mínimo de condições adormecem tranquilas, com a sensação de dever cumprido. Cá, no nosso País, também, garanto-lhe, e em número assustador. A questão central, a meu ver, é da sociedade no geral. Curiosamente, e do que conheço, fico sempre com a sensação que nas culturas menos desenvolvidas o afecto é normalmente maior. Aí, ainda se cuida o idoso, ainda se sente responsabilidade, ainda existe a presença. Não há nada na minha profissão que mais me incomode do que quando um sai para morrer num corredor de um hospital, sozinho e vazio de tudo. Uma cultura onde o fim seja visto com olhos de ver e incluído no processo de vida, é que faz falta a toda a gente. E a nós também, claro, um dia saberemos disso.

( Perdoe-me o excesso de palavras, mas é que o tema está-me demasiado próximo para não me emocionar ao falar do assunto. E as emoções são propicias a excessos...)

Um beijinho para si.

Anónimo disse...

É chocante a atitude das sociedades europeias, perante a velhice e os idosos. Mesmo em Portugal, há cada vez uma maior indiferença para com os idosos - sobretudo nas grandes cidades. E os governos que temos tido nada têm feito para minorar esta situação. Tal como neste video, muitas pessoas, principalmente nos grandes centros urbanos, onde se concentra a maioria das populações, há muita gente que não cuida dos seus idosos, ou porque não quer saber deles, ou porque não tem meios, quer financeiros, quer logísticos, para deles se ocupar, como é sobretudo o caso português. As pensões e reformas vão sofrendo cortes atrás de cortes, deste modo destruindo a qualidade de vida da maioria desses idosos, os salários dos descendentes baixaram substancialmente, não lhes possibilitando cuidar dos ascendentes, o governo está-se nas tintas para quem é idoso, o desprezo por eles é patente nas medidas que sucessivamente têm vindo a ser adoptadas e deste modo nada mais resta ao desgraçado do idoso senão ou ter saúde até ao limite das suas forças, ou deixar-se morrer, algures num desses deprimentes lares, onde um familiar os colocará. Aqui há uns tempos, em virtude de um incidente com um cão que me atacou, que aqui relatei, fui parar ás urgências do antigo hospital de Cascais e uma das coisas que registei e me impressionou foi o ter presenciado vários idosos em macas, ao longo do corredor, a gemer alguns, perante a total indiferença de quem ali estava. Confrangedor! Recordo-me ainda de uma familiar nossa, cujos descendentes, após um forte AVC que essa familiar idosa tinha sofrido, optaram por a meter num desses lares (em Lisboa), uma coisa do Além, pelo que pude ver, quando fui visitá-la, sem nada lhes ter comunicado. Tinha afecto e respeito por essa encantadora parente, já velhinha, e chocou-me o abandono em que ali se encontrava. E recebia, ao que soube depois, visitas muito escassas dos descendentes. Lá morreu um dia – só. Precisamente quando me propunha ir, uma vez mais, visitá-la. Quando recebi o telefonema, entrei num café ali perto onde me encontrava e ali fiquei a reflectir e a pensar. Com saudades dela. Enfim, a vida é assim, cada vez mais. Infelizmente. Mas, temo, caminhamos para uma sociedade mais desumanizada, mais indiferente, mais egoísta, mais insensível. A insensibilidade é hoje uma das características deste governo, que julgo eu, se calhar reflecte aquilo que já somos, ou começamos a ser. A culpa de tudo isto e do abandono e desprezo pelos idosos é sobretudo nossa. Só depois dos governos.
P.Rufino

TERESA PERALTA disse...

Realmente, perante este panorama, cabe-nos lutar pela restituição destes valores, anestesiados até nos países do Primeiro Mundo. Se há Quinhentos anos fomos capazes de dar “novos mundos ao mundo” pode ser que o nosso papel contemporâneo tenha como base a sensibilização para estes valores perdidos. Divulgar, como a Helena exemplificou, será, certamente, uma enorme contribuição, pois, pode ser que os nossos jornalistas e políticos comecem a acudir à sensibilização mundial em vez de arriscarem a destruição de Portugal.
Um abraço Helena

Anónimo disse...

Dra. Helena,
Este vídeo dá que pensar. O autor é dinamarquês; os dinamarqueses são considerados dos povos mais felizes do mundo; no final da entrevista, quando o autor queria desenvolver mais a sua tese, a intervenção da jornalista é: "Lamento lhe interromper, mas o nosso tempo acabou"... Felizes, sim, os que morrem com ataque cardíaco, sem antes terem dependido de terceiros(...
Os meus cumprimentos,
MT

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Ze Maria
Já lhe mandei as indicações pedidas. Não publico o seu post por conter o seu mail pessoal.
Obrigada pela sua gentileza!

Anónimo disse...

A ideia que já ouvi várias vezes nos media portugueses de que nos meios desfavorecidos, nos países do sul, em Portugal o afeto é normalmente maior, de que ainda se cuida o idoso, não é um MITO?!
Que tendência que temos para criar mitos em vez de enfrentarmos a dura realidade.
Mas onde é que isso existe?
O que tenho sabido é de maus tratos e total negligência e muita mentira, pessoas que sob uma capa beata de cuidadores, pretendem apenas a magra reforma dos familiares. Não consigo acreditar nisto, e ouço tantas vezes que os povos do norte são mais frios e nós mais afetivos. Onde é que este dinamarquês é frio?!Para mim não passa de um MITO, para nos auto desculparmos.

Dalma disse...

Dos muitos livros que li, de como educar os meus filhos, várias frases me orientaram na forma de o fazer e uma delas, embora passado tantos anos não a saiba situar foi exatamente esta: "educar é dar-nos como exemplo"! E isto para o bem para o mal! Este desapego pelos pais tem a ver com a dinâmica das famílias quando os filhos estão a crescer. A ternura que lhe demos ou não ( o Dr. Benjamim Spock, pediatra americano dizia que "a ternura é a vitamina do crescimento no seu sentido amplo"), a forma como os respeitámos ou não, o equilíbrio da família... Os meus pais e sogros foram cuidados com todo o carinho e por isso estou confiante que os nossos três filhos quando chegar altura assim ajam connosco!

Maria disse...

Há 13 anos fui obrigada a tomar uma decisão difícil,a de colocar a minha mãe num lar! Tinha-lhe sido diagnosticado Alzheimer ...
Rebobinei a minha vida e senti que teria de ser eu a cuidar dela, da mesma forma que ela cuidou de mim. Tal não foi possível por variadíssimas razões. A verdade é que durante 13 anos, minha mãe mudou de lar duas vezes, tendo permanecido os últimos nove anos de vida sempre no mesmo local. Visitava-a todos os dias (às vezes mais do que uma vez) para me certificar que tudo estava bem com ela. Se tinha comido bem, se tinha tomado banho, se lhe tinham cortado as unhas, se lhe tinham posto pomada, se lhe tinham mudado a roupa da cama, se tinha roupa suficiente, se tinha frio ou calor, se tinha fome ou não, enfim... Minha mãe não tinha noção de nada, não me conhecia, não se reconhecia a um espelho, não conhecia as netas, e acabou por perder todas as suas capacidades, desde ler e falar até ao acto mecânico de engolir.
Faleceu há uns meses e por incrível que pareça, sinto-me serena e com a sensação de dever cumprido. O lar era bom e sei que foi sempre muito bem tratada e mais não pude fazer ...

Anónimo disse...

A tendência para culpabilizar as famílias por não terem em casa os seus idosos, é uma forma de os responsáveis sacudirem a água do capote pelas condições desumanas em que os idosos vivem em Portugal.

Não há estruturas de apoio, não há verbas para as instituições de solidariedade, destrói-se o SN Saúde, as reformas de 90% dos idosos são miseráveis mas quem tem culpa são as famílias que não cuidam do idoso e não lhe dão afetos...

Qual a família que tem meios e habitação para ter em casa os seus idosos quando necessitam de cuidados específicos e constantes. Quantos são os que podem ter em casa uma profissional que se ocupe do seu idoso, ou recorrer a apoio regular de profissionais.

Existem é certo casos raros alguns mostrados como avis raras na tv, em que um filho ou uma filha se dedicam em total exclusividade e sacrifício a um idoso. Mas é isso que se pretende, o peso ancestral duma tradição religiosa que incita ao sacrifício. É tudo muito bonito mas...um cuidador tb precisa de ser cuidado e de ter apoios senão não aguenta.

Estar em casa da família não significa em muitos casos estar a ser bem tratado, ter afeto, ter acesso a atividades e convívio, mesmo que o idoso esteja longe de sofrer maus tratos. Muitas vezes no seio da família existe um ambiente surdo que desvaloriza o idoso, que se sente um fardo.

Não vejo que os portugueses em geral demonstrem facilmente os seus afetos, em muitas famílias existem ambientes pesados de cortar à faca, elementos que não se falam durante anos, casais que dormem na mesma cama e mal se falam.

E mesmo quando não se chega a tais extremos, os portugueses têm dificuldade em demonstrar as suas emoções. Talvez se tenha evoluído nas gerações dos pais dos mais jovens. Mas mesmo assim tenho dúvidas se não será só fogo de artifício, sabendo nós que muitos jovens se isolam completamente no mundo da net, que os jovens portugueses não só bebem demais como usam práticas preocupantes e chocantes para obter efeitos mais rápidos do álcool, como introduzir tampões ensopados em álcool no ânus e na vagina. Sim é muito duro de ouvir.

O nosso problema é que temos tendência para dourar a pílula, para não conhecermos a realidade, para fecharmos os olhos.

Neste exemplo que HSC nos mostra podemos ver que mesmo num país como a Dinamrca, mesmo que os problemas monetários estejam resolvidos, o problema da desumanização (neste caso dos idosos) mantém-se.

Isso significa que temos de por de lado a hipocrisia e o preconceito e estudar e encontrar soluções para o que realmente se passa na nossa
crise civilizacional. E só se fala da monetária.

patricio branco disse...

mais que ostracismo, é como uma cruzada contra, algo que terá subjacente uma destruição lenta do idoso, uma crueldade feita politica, já vimos isso noutras épocas históricas tristes, dirigidas contra outras classes olhadas como não tendo lugar na sociedade ideal, etc etc

patricio branco disse...

nem de propósito, li estes dias um livro de contos dum jovem bom escritor, josé luis peixoto: "cal".
pois os velhos, os idosos, os avós, etc, são nele tratados com um carinho comovente

Marta Guerra disse...

Eu creio que existe uma Dinamarca mais solidária do que a relatada e retratada pelo autor.
Pelo menos já vi reportagens sobre o funcionamento dos lares lá e em alguns sítios consegue ser uma animação.

Sobre o mesmo tema, uma visão de vários idosos pelo Mundo fora...

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=662129


Manuela Silva Mergulhão disse...


Este é o mundo em que vivemos ou morremos novos e não o desejamos ou ter no horizonte dos nossos pensamentos o lar em que a grande maioria são empurrados para lá, por mim em que os anos estão a passar tão rápido sinto que mesmo sem querer é o que me espera, fazer o que?