terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ainda a traição

Falei no post anterior que considerava a traição a nós próprios, como a pior de todas as traições. Porquê? Porque quando traímos outros, fazemo-lo no "pressuposto" de que eles nos terão dado razões fortes para o fazermos. 
Podem ser apenas expectativas que sentimos goradas, invejas, ciúmes ou até, quem sabe, mudanças na maneira de pensar. De facto, se um político passar do Partido Comunista para o Bloco de Esquerda, só os primeiros é que considerarão essa saída uma traição. A quem? A quê? A uma ideologia?
Sei do que falo, como calculam, e não foram poucas as vezes que discuti esta mudança com o meu filho Miguel...
Na traição a nós próprios, ela é dupla. Por um lado, renegamos aquilo em que continuamos a acreditar e, por outro, "mascaramo-nos" e interpretamos personagens fictícias, para que os outros continuem a acreditar que somos quem, na verdade, não somos.
Ou seja, na primeira traição - a do outro -, até podemos estar a ser mais fiéis a nós próprios do que antes. Na traição a nós próprios, a duplicidade que ela comporta é a meu ver, a mais lamentável de todas, porque nada a justifica ou atenua.

HSC


26 comentários:

Fatyly disse...

Inquietante e deixou-me a pensar...

Mas se eu deixar de acreditar "no quer que seja", e mudar a minha opinião e com isso seguir em frente, a meu ver não traio os outros e muito menos a mim, mas se quem me conheceu "assim" e agora ver-me "assado" problema deles. Estarei certa ou errada?

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Fatyly
Ser fiel a mim própria é o meu lema de vida.
Mudei naquilo que a vida me ensinou que devia mudar, para tentar ser uma pessoa melhor. E continuo!

Raúl Mesquita disse...

Mudar de opções aqui e ali não é mudar de princípios e creio que são estes a que a Helena se refere. Uma pessoa de bem nunca abdica dos seus princípios, punkt.

Raúl.

Anónimo disse...

Boa tarde,

hum, estou a pensar...

A palavra traição assusta um pouco, ninguém gosta de se imaginar traído e/ou a trair, porque logo à partida poderá significar "expectativa gorada"!

No exemplo que indica, mudar de partido não implica necessariamente uma traição, pois pode ter por base uma ausência de identificação com o rumo que “as coisas” levam.

E, em geral, mudar de opinião ou de posição ou de comportamento não é necessariamente negativo, por vezes, até pode ser sinal de sensatez.

Traição (ao outro) será, para mim, largar algo que “se grita aos sete céus” amar (e/ou) adorar (e/ou respeitar (e/ou) ser-se fiel acima de qualquer outra pessoa (e/ou) “coisa” e, de um dia para o outro, trocar por alguém (e/ou) algo que nos oferece/possibilita maior poder, maior riqueza, alguém ou algo que no fundo se anseia muito mais do que aquilo que se “jurava” amar, adorar, etc…

Agora, ainda não consegui abarcar totalmente o que sugere com “traição a nós próprios” … trairmos os nossos sonhos, as nossas ambições, os nossos princípios, os nossos sentimentos? …

Por vezes, colocamo-nos em segundo ou terceiro plano em prole de algo ou alguém que consideramos mais do que nós próprios. Será trair-nos a nós próprios?

Nunca vi desse ponto de vista … acho que preciso de (me) tentar “ver” por esse ângulo … porque, à partida, parece-me implicar sofrimento e desolação para o próprio a partir de certo momento.

Até breve D. Helena!
Cumprimentos,
Cláudia

Paulo Abreu e Lima disse...

Helena, permita-me que raciocine enquanto escrevo:

Para que haja uma traição, tem de haver uma relação em que o seu maior garante seja a confiança entre as partes. Pode ser escrita, verbal ou tácita. A traição de uma das partes é a quebra unilateral e sem pré-aviso dessa responsabilidade de confiança. Até aqui parece-me bem, sem escolhos, portanto.

Quanto à traição a nós próprios: implica, numa primeira fase, um conflito interno que se pode revestir entre razão e sentimento, entre o poder e o querer, entre o mundo externo (sociedade) e o interno, ou seja, só existe se surgir este conflito. As consequências são similares ao "efeito boomerang", qualquer dos interesses que se traia, irá afectar negativamente os dois lados em conflito, remetendo para a consciência o peso da culpa de cada um dos lados. Aqui, o efeito é anti-natura, logo, constante, interminável e auto-destruidor. Não?

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Cláudia
Quando nos refazemos - mesmo para sermos melhores - há sempre dor. De abandonar o que conhecemos para abraçar o que "iremos" conhecer.
Colocarmo-nos em segundo lugar pode esporadicamente aceitar-se. Por norma, para mim, isso é inaceitável!

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Paulo
A confiança é algo discutível. Eu posso confiar totalmente em alguém que nunca me disse que eu o podia fazer. Logo a confiança baseia-se em "expectativas" de que a minha confiança seja consentida e retribuída. Nem sempre é assim. Quase nunca é assim. Nós sabemos disso.
Na traição a nós próprios há conflito, claro, enquanto o prazer de ser for inferior ao prazer de parecer, Quando isso deixar de acontecer há um enorme bem estar e uma imensa paz interior!

Dalma disse...

HSC, um post muito filosófico!

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Dalma
De vez em quando faz falta...

zia disse...

Quando se representa fazemo-lo principalmente para salvaguardar-se alguma coisa que era necessário, se não o fizesse corria-se o risco de entrar em conflito com algo.
Não fácil expressar porque se faz!
Um abraço e continue a fazer-nos pensar...
lb/zia

Teresa Peralta disse...

Sinceramente, nunca me lembraria de reflectir sobre as traições que posso fazer a mim própria. Sempre coloquei essa realidade entre relacionamentos interpessoais. Essa auto análise, questionando os próprios sentimentos, deve ajudar, naturalmente, a destruir muitas traições... Vou tentar, mas, não sei se vou ter coragem para o conseguir.

Anónimo disse...

Vou deixar a correção política de lado.

Embora ache F.Pessoa genial, penso que a vida dele devia ser de uma imensa tristeza.

A sua sobrevalorização, merecida, acaba por abafar junto do grande público, outros grandes poetas portugueses, como Herberto Helder, o meu preferido.

Concordo que existe sempre em todos nós um canto de solidão, mesmo quando amamos.

Solidão essa que temos de aprender a aceitar e a viver com ela.

E aí concordo com Pessoa, quando nos iludimos para escapar a essa solidão, estamos a condescender, talvez a trair-nos, talvez a ser cobardes.

É um pouco como o insípido 'à falta de melhor'.

Mas a maior parte de nós não somos F. Pessoas. Amemos sim, como pudermos.




ERA UMA VEZ disse...

Querida Helena

Não cheguei a tempo de entrar neste interessante debate...mas hoje já é dia DOZE DE SETEMBRO.
Parabéns para "as mamães" deste dia.
Abraço e dia feliz.

Helena Sacadura Cabral disse...

Minha querida ERA UMA VEZ
Bem haja pela lembrança. Infelizmente este ano o trabalho leva-mo para longe daqui!

Anónimo disse...

Maria (publicamente anonima)
Bom dia Drª Helena! E parabéns!
Este ano, que posso estar aqui no seu fio-de-prumo - que bom poder fazê-lo - não quero deixar de a felicitar por este dia. Tenho algumas memórias desse tempo e tenho, perto de mim, alguém que conviveu de perto consigo nesse tempo de pre-mamã. Já lá vão alguns aninhos! Mas nestes dias lembramo-nos sempre e, “desfiamos” um pouco desse nosso passado.
Obrigada por nos proporcionar este contacto. Para mim é muito bom. Não tenho muita disponibilidade para comentar sempre que me apetece, mas faço-o sempre que posso e leio-a todos os dias.
Beijinhos e um dia feliz
Maria M

São disse...

Traição é sempre traição: uma coisa detestável, mas , concordo, pior quando é a nós que nos traímos.

Admirava imenso o seu filho Miguel (que esteja em paz!)

Pelo que percebi, seu filho Paulo completa hoje anos : parabéns a ambos e que Deus o ilumine enquanto membro deste Governo que , segundo li numa entrevista dada pela senhora, vos faz sofrer muito...mas muitíssimo menos, pode crer, que à esmagadora maioria do povo português.

Os meus respeitos.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caras São e Maria
Muito obrigada!

olinda silva disse...

Um beijinho de parabéns mamã!!

Isabel Mouzinho disse...

Eu sei que não vem a propősito do post mas não posso deixar passar esta data sem lhe dar um enorme beijinho por este acontecimento feliz cuja alegria partilho; e agradecer-lhe também por ter educado tão bem o seu Infante e no-lo ter "dado" assim maravilhoso. Mas como se costuma dizer:"Quem sai aos seus..."
Parabéns Helena e um beijinho enorme! :-)
Isabel Mouzinho

Paulo Abreu e Lima disse...

Um beijinho à Mãe e um abraço ao Filho. Muitos Parabéns!

Anónimo disse...

Parabéns dr.ª Helena pelo dia de hoje e que seja um dia Muito Especial e Muito Iluminado.
Que o dr.Paulo Portas continue o homem lindo que é com saúde,família,paz,sorrisos,música,luz,flores,Amigos e um manjar digno de deuses...
Tchim,tchim!que conte muitos anos de vida!
Desejo um dia de união á família e cheio de estrelas.

Anónimo disse...

Olá D. Helena,
Como Mãe, também está de parabéns, pois claro!
Uma grande amiga minha também faz anos hoje. :-) Domingo, faço eu. ADORO fazer anos :-) Raramente, os festejo, é certo, mas gosto do meu dia de nascimento.
Parabéns!
Cláudia

Teresa Peralta disse...


Parabéns pelo dia de hoje, à mãe Helena, minha bloguista preferida.
Beijinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Caros comentadores
Sou uma mulher cheia de sorte. Não tenho, infelizmente, o meu filho comigo, neste dia. Está em trabalho em Washington. Por isso os vossos parabéns deram-me alegria dobrar.
Bem hajam todos!

Anónimo disse...

Parabéns atrasados mas de coração!
Um beijinho
FL

Lia Noronha disse...

Ser fiel a si mesma..é ordem primeira..na vida de quem prima pela verdade...sempre!! Abraços meus a ti cara Helena.