sábado, 31 de agosto de 2013

A diplomacia

“Diplomacy is the art of telling people to go to hell in such a way that they ask for directions.” 
Winston Churchill

Enquanto espero um grupo de amigos para almoçar aqui em casa - ando numa roda viva de encontros que a doença e morte do meu Miguel haviam protelado -, dei uma espreitadela aos meus blogues de eleição e saíu-me esta "tirada" no Tintin no Tibet, que me deixou em alfas para a comunicar ao meu irmão mais velho, que foi diplomata. Julgo que nunca deixam de o ser e, por isso, o verbo adequando deveria estar no presente.
Telefonei-lhe e li a frase. Gargalhada enorme do outro lado e a pergunta imediata
- quem foi o marau que escreveu isso?
- Churchill, respondi
- não, o outro, que o invocou
- um colega teu, meu amor
- sim, mas quem?
- o poeta
- diplomatas poetas, há vários. Diz lá, anda
- o maior
- que chata, diz lá quem foi
- o Castro Mendes
- ah! ah! tinha que ser um dos teus amigos!
Depois desta risota, ainda liguei o Skype para a família de Moçambique, ou seja o meu irmão mais novo e cunhada. Os mariolas não estavam em casa. Apanham-se na terra deles e ninguém consegue vê-los, tanto mais que este ano, só eu é que não fui. Desde o meu filho, aos meus sobrinhos, tudo se juntou lá em casa relembrando a minha mãe e os bons tempos que lá sempre vivemos. Será para o ano, se Deus quiser.
Obrigada, Luís Castro Mendes, vulgo Alcipe, por esta bela definição da carreira dada por um político de gema!

HSC


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Para amantes de alta cozinha


Sabem todos os que me lêem, do meu gosto pela boa cozinha. Tenho, inclusive, cinco livros publicados sobre a matéria. E não escondo de ninguém que aprecio ir a um restaurante de qualidade. 
Eu sei que não é para todos os bolsos, mas também sei que os eventos gastronómicos atraem turistas e que estes fazem despesas que ficam no país.
Vou com alguma frequência ao Belém Altis, porque sou bem tratada e tenho uma oportunidade única de descansar um pouco do trabalho da semana, tendo o rio mesmo à minha frente.
Vem tudo isto a propósito de dois jantares de degustação, que a 13 e 14 de Setembro, irão decorrer no Feitoria Restaurante & Wine Bar, daquele Hotel, no âmbito da Rota das Estrelas, evento que sob a envolvência do tema dos Descobrimentos, reúne as criações de Chefes de restaurantes que receberam Estrelas no Guia Michelin 2013.  
O Chefe Executivo João Rodrigues e o Chefe Cordeiro serão os anfitriões destes jantares em que os convidados terão a oportunidade de degustar não só uma selecção de pratos da autoria de Chefes de renome, como os melhores vinhos nacionais e internacionais.
Se pode e se aprecia cozinha de alta qualidade, aqui tem uma ocasião de experimentar sabores e texturas do Oriente, mas preservando a autenticidade dos sabores tradicionais. 
A Dra Anabela Bártolo que dirige esta unidade hoteleira, está de parabéns por mais esta iniciativa.

HSC

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sonhar versus julgar

"Sonho que um dia os meus quatro filhos viverão numa nação onde não serão julgados pela cor da pele mas pelo seu carácter..."

Luther King expressou este sonho ao qual me referi no post anterior. Num outro havia manifestado a minha preocupação com uma sociedade em que se fazem juízos de caracter com a mesma facilidade com que se bebe uma bica. E não me refiro a políticos, entenda-se, refiro-me a gente normal, com uma vida normal, seja o que for que isso represente. 
Curiosamente ao passar os olhos pela blogosfera, dei com uma resposta do Pedro Correia, do Delito de Opinião, a um seu comentador - de que transcrevo abaixo um excerto - que, em palavras bem cruas, acaba por se ligar com o que então escrevi. Aqui fica:

...O mais chocante, para mim, é detectar a atitude dicotómica de tantas pessoas. Como refere um dos comentadores do teu texto, gente que ao vivo é afável e gentil, transfigura-se quando abanca nas chamadas "redes sociais". Um pouco à semelhança do tuga porreiro que se transforma no tuga besta selvagem quando se senta ao volante e se imagina o rei das estradas de pedal no acelerador.
As novas tecnologias vieram dar projecção pública - e até algum verniz social - àquilo que antigamente se escrevinhava nas portas das latrinas. Para este efeito, valha a verdade, muito têm contribuído as caixas de comentários das edições em linha de certos jornais (não todos), autênticas cloacas ou vomitórios em locais que tinham a obrigação deontológica de promover o exercício da cidadania.
Foi também por ter lido as tuas linhas que fiz a referência supra ao Luther King. Duas faces da mesma moeda, no fundo. Andamos necessitados, como de pão para a boca, de exemplos inspiradores. Eles existem. Falta-nos apenas, quase sempre, a capacidade de os ver.”

 E, por favor, não aproveitem para me enviarem mais comentários sobre António Borges. Esse tema, neste blogue, está encerrado, como já referi antes.
Do meu ponto de vista, os dois textos citados, revelam algo que justifica uma meditação pessoal por parte de quem acredita no ser humano. Merecem que olhemos para dentro de nós, friamente, e saibamos, também, questionarmo-nos a nós próprios. Seremos todos assim tão bons, assim tão impolutos, assim tão acima de qualquer crítica, que os julgamentos que fazemos, sejam sempre mais válidos do que os dos nossos semelhantes?

HSC


Meio século depois!

"...Sonho que um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos esclavagistas serão capazes de se sentar à mesa da fraternidade. Sonho que um dia até o Mississipi, um estado que sufoca sob o calor desértico da injustiça e da opressão, se transformará num oásis de justiça e liberdade. Sonho que um dia os meus quatro filhos viverão numa nação onde não serão julgados pela cor da pele mas pelo seu carácter...". 

Estas foram as palavras de Luther King, pronunciadas a 28 de Agosto de 1963, uma obra-prima de oratória política, que viria a revelar-se essencial na promulgação, dez meses mais tarde, por Lindon Johnson, da legislação que reconhecia os direitos civis a todos os norte-americanos. 
Passam hoje 50 anos sobre o sonho deste homem nascido num país que tem como Presidente um homem com a mesma cor da sua pele!

HSC

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Já descansou?



Se já se atirou para o sofá e está a dizer à cara metade que não tem idade para bailados destes, tenha vergonha e olhe para este par. 
Gordinhos? Talvez. Mas mexem-se. E bem!
E você? É intelectual? Poeta? Arquiteto? Advogado? Deixe-se de evasivas e de intelectualidades. Mexa o pezinho e bamboleie essas ancas. Não pode? Ai pode, pode. Porque eles também podem!

HSC

Dance!


Ria-se, esqueça um pouco as desgraças e mexa-se ao som deste disco de Zaz de que eu tanto gosto. Vá, venha daí e mexa esses pés. Está cansado? Não faz mal, no fim descansa atirando-se para o sofá!

HSC 

Uma sociedade justicialista

Confesso, agora que as semi-férias terminaram, que me dei conta de que algo preocupante se está a passar na sociedade portuguesa. Pode ter razões na crise, mas parece-me que vai muito para além dela. Apercebi-me que todos se sentem no direito de emitir públicos juízos de carácter sobre quem quer que seja, mesmo que só conheçam uma parte muito reduzida das pessoas que avaliam.
Há gente que me é indiferente, há gente de quem não gosto, há gente que representa modelos que não aprecio. Mas não há gente que eu odeie, porque considero que o ódio é o sentimento mais devastador que existe. 
As sociedades têm meios próprios de regulação. Mas se passarmos a utiliza-los de maneira sistemática, estamos a caminhar para o fim da democracia e a dar razão àqueles que pretendem acabar com ela. O que dá mais força ao adversário é fazer dele uma vítima.
Confesso que a sociedade que mais temo é a justicialista. Aquela em que não só os juízes comandam a nossa vida, mas aquela em que todos nós somos juízes uns dos outros. Ou seja é a ditadura de uma classe que se considera iluminada e que, a seu tempo, prepara a ditadura do líder dessa mesma classe.
Confio no nosso bom senso, talvez porque, com a idade que tenho, já vi coisas demasiadas. Mas sei que o ódio e o rancor nunca resolveram os problemas de ninguém. Nem sequer os daqueles que deles se servem...

HSC

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Nunca me tinha acontecido

Se não fosse trágico, ainda poderia sorrir. Mas nem isso consigo, tal a comoção que a notícia da morte de um amigo do peito - que afinal está vivo - me causou. Já chorei um bom bocado e não fossem os meus fiéis comentadores, ainda iria verter mais umas lágrimas.
Afinal quem faleceu foi o Pai do meu querido Jorge Pereira de Sampaio, de quem, indevidamente, comentei o desaparecimento.
Um nosso amigo comum mandou-me uma mensagem a avisar-me do acontecimento em moldes que eu interpretei mal. A todos aqueles a quem involuntariamente enganei, as minhas sinceras desculpas.

HSC

Nota: Publiquei todos os comentários daqueles que me alertaram para o meu erro. Mas como retirei o post, não sei o que aconteceu aos ditos que não aparecem. Muito obrigado a todos os que me avisaram.

Portugal a arder

Devia já ter abordado este tema. Mas no que respeita a fogos, tenho um traumatismo que me bloqueia se me não impuser a mim própria. Explico-me.
Deveria ter uns dez anos, quando a casa paterna, em plena Baixa lisboeta, foi repasto de um curto circuito, na ausência de todos nós. A imagem do retorno a uma habitação negra de fumo e muito destruída, acompanhou-me durante anos e condicionou, em muito, o meu desejo de viajar.
Já mulher e acabada de divorciar - felizmente os meus filhos estavam no Alentejo -, uma empregada minha resolveu reforçar o aquecedor, aceso, do seu quarto, com petróleo. Não vos descrevo o sangue frio que tive, para isolar a dispensa, onde se guardavam duas bilhas de gaz. Perdi todo o meu enxoval, toda a roupa pessoal e parte significativa do mobiliário. 
No dia seguinte tinha o exame médico de admissão no Banco de Portugal, onde apareci de kilt e meias de lã, que era a roupa que trazia no corpo. Valeu-me a compreensão imensa do médico que estranhou a minha tensão arterial elevada e me perguntou se, na véspera, tivera alguma emoção ou comera algo salgado. Abençoado seja pela qualidade humana então manifestada.
Parti do zero. Em tudo. Na vida afectiva perdera o marido, na vida doméstica perdera o recheio da casa, na vida profissional começava uma rota inteiramente nova. E os filhos, pequenos, choravam os brinquedos desfeitos. Sobrevivi, mas o temor das chamas permaneceu para toda a vida. Muito mais forte.
Chego ao que, agora, interessa. O abnegado trabalho dos bombeiros e a indesculpável incúria, pública e privada, na limpeza dos matagais. Este ano já perdemos três seres humanos, um deles, uma mulher. Acredito que a maioria dos pirómanos seja doente. Mas sei que há os que trabalham por conta de outrem, a quem muito convém o solo ardido. Para estes, a justiça deveria ser exemplar. E para os que não limpam as suas matas, também.
Saiba, ao menos, o governo ser justo a recompensar aqueles que ficaram sem os seus entes queridos!

HSC 

In memoriam

“... António Borges estava muito doente, como todos os que com eles trabalhavam podiam testemunhar. Isso notava-se de forma progressiva. E isso também tornava mais admirável, aos olhos dos seus interlocutores, a sua imensa coragem, o modo empenhado como continuou a dedicar-se às tarefas profissionais, a agudeza de espírito que revelava, o discurso impecavelmente articulado que desenvolvia. Não obstante a sua notória fragilidade física, nunca perdeu o sorriso. E até o humor...”
(Francisco Seixas da Costa in http://duas-ou-tres.blogspot.pt)


Segui, como muitos colegas meus, o percurso de António Borges. Ele, como Maria José Nogueira Pinto, pertenciam ao grupo dos católicos que eu admirava, por conseguirem manter uma coerência muito rara entre religião, vida pessoal e vida política.
Ambos souberam dar - concorde-se ou não com o que defendiam - um exemplo de coragem invulgar face a uma doença devastadora, trabalhando até ao último sopro de vida. Só posso estar do lado de quem vive deste modo, pese embora nem sempre ter concordado, no plano económico, com as suas propostas.

À Família de António Borges, os meus sentimentos e o meu respeito.

HSC