terça-feira, 30 de julho de 2013

Um novo léxico

"Portugal é um país muito dado à semântica". Assim começa, hoje, a crónica de Tiago Freire no Jornal Económico. Com base nesta afirmação séria, decidi tecer algumas considerações sobre sinónimos especiais para uso publico, de modo a ajudar aqueles que tenham de discursar no exercício de funções oficiais, mas não queiram ser vaiados.
Dando corpo ao exercício fiz uma pesquisa das palavras mais utilizadas na actual oratória, às quais entendi dar um cunho pessoal de modo a que, quem necessite, possa ir mais longe na utilização das mesmas.
Assim, sugere-se que a mentira seja apenas uma inverdade, e a miséria uma questão de ajustamento económico. Continuando, teremos a salvação nacional como sinónimo de simples acordo entre partidos do arco da governação e os swaps uma encrenca financeira que utilizada em certos contextos é uma excelente opção e noutros uma péssima escolha. O problema aqui reside na definição do dito contexto, como deverão ter percebido. Já a expressão saber deve significar, sempre, o conhecimento atempado de tudo e não apenas de uma parte, excluindo portanto daquele conceito o estar informado. Finalmente austeridade será, pelos tempos mais próximos, sinónimo de rigor e seriedade. E, para não ser criticada, irrevogável será tudo o que, a seu tempo e por motivos alheios à vontade de cada um, se torne reversível.
Acredito que com este novo léxico ninguém ficará mal visto nas diversas ocasiões em que for chamado a pronunciar-se sobre o que quer que seja!

HSC

15 comentários:

Anónimo disse...

Minha querida senhora, está a falar de política ... ai ai ai essa coerenciazinha ! Abraços e beijinhos nessa cara fofa e gostosa, da Maria Andrade.

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Maria
A interpretação é sua. Era o que faltava que estas palavras fossem património exclusivo dos políticos...
Servem para advogados, gestores, economistas, banqueiros e muitos mais.
A cara comentadora é que está focada na política!

Isabel Mouzinho disse...

Ahah! Muito bom!...
Post e comentário. Adoro esse seu espírito ;)

Beijinho
Isabel

Alcipe disse...

The purpose of Newspeak was not only to provide a medium of expression for the world-view and mental habits proper to the devotees of IngSoc, but to make all other modes of thought impossible. It was intended that when Newspeak had been adopted once and for all and Oldspeak forgotten, a heretical thought -- that is, a thought diverging from the principles of IngSoc -- should be literally unthinkable, at least so far as thought is dependent on words. Its vocabulary was so constructed as to give exact and often very subtle expression to every meaning that a Party member could properly wish to express, while excluding all other meaning and also the possibility of arriving at them by indirect methods. This was done partly by the invention of new words, but chiefly by eliminating undesirable words and stripping such words as remained of unorthodox meanings, and so far as possible of all secondary meaning whatever.
(...)
So did the fact of having very few words to choose from. Relative to our own, the Newspeak vocabulary was tiny, and new ways of reducing it were constantly being devised. Newspeak, indeed, differed from most all other languages in that its vocabulary grew smaller instead of larger every year. Each reduction was a gain, since the smaller the area of choice, the smaller the temptation to take thought. Ultimately it was hoped to make articulate speech issue from the larynx without involving the higher brain centers at all. This aim was frankly admitted in the Newspeak word duckspeak, meaning ' to quack like a duck'. Like various other words in the B vocabulary, duckspeak was ambivalent in meaning. Provided that the opinions which were quacked out were orthodox ones, it implied nothing but praise, and when The Times referred to one of the orators of the Party as a doubleplusgood duckspeaker it was paying a warm and valued compliment.
(...)
nd it was to be foreseen that with the passage of time the distinguishing characteristics of Newspeak would become more and more pronounced -- its words growing fewer and fewer, their meanings more and more rigid, and the chance of putting them to improper uses always diminishing.

George Orwell "The Principles of Newspeak", adit. a "1984"


Teresa Diniz disse...

Excelente!

Helena Sacadura Cabral disse...

Alcipe meu caro, aqui está um texto que eu desconhecia e devia conhecer. Consigo aprendo sempre alguma coisa. E com o Orwell também...

Francisca Oliveira Martins disse...

Novo acordo ortográfico (que me recuso a utilizar!)... Novo léxico...
Bem, bem... Ainda nem da faculdade saí e já me sinto incapaz de interpretar a realidade actual, com os valores que (pelos vistos...) lhe's são devidos.
Precisarei de alguma reciclagem, antes mesmo de a faculdade me dar as bases originais de iniciação a uma vida activa? Efemeridade a quanto obrigas!


Sempre grata pela a ajuda nesta "missão"

Teresa Peralta disse...


Eheheh!.. Mas que lógica semântica tão apropriada.
Este Blog é sempre um poço de sabedoria, e, ainda por cima, vindo de todas as frentes...
Boa noite com um abraço para si :)

Anónimo disse...

O seu novo léxico poderá ser enriquecido, substancialmente, se lhe acrescentarmos algumas palavras ou expressões muito em voga no discurso actual, principalmente o proveniente de políticos.

Meramente a título de exemplo acrescentaria, sem lhe apor nenhum significado, os seguintes:
- Paradigma,
- Narrativa,
- Sociedade civil,
- Massa critica,
- Escrutinar

Quantas vezes os oiço, não conseguindo ligar o “nome à pessoa”.
Reconheço que quem os usa deve fazê-lo, seguramente, com propriedade. Contudo, eu tenho dúvidas.

Atentamente

Rui Carlos

João Menéres disse...

Como lhe fico grato, HSC !...
Situo-me no grupo dos e muito mais.

Melhores cumprimentos.

Anónimo disse...

Querida Helena,
Vi-a hoje na SIC, como sempre adorei.
Parabéns por ser quem é.
Um beijo.
Maria Duque

Pancho Roble disse...

Boa tarde D. Helena.

Limpo como água :).

“(…)Dando corpo ao exercício fiz uma pesquisa das palavras mais utilizadas na actual oratória, às quais entendi dar um cunho pessoal de modo a que, quem necessite, possa ir mais longe na utilização das mesmas.(…)”

Outros cunhos…
http://atentoaomalandro.blogspot.pt/
Atentamente

olinda silva disse...

Que forma tão divertida de ver a actualidade.
Obrigada minha guru.
Um beijinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Mario Carmo
Muito obrigada. A minha editora irá responder-lhe a meu pedido.

Anónimo disse...


Excelentíssima Senhora D.Helena

Fico a aguardar e muito obrigado pela sua atenção

Mário Carmo