quarta-feira, 31 de julho de 2013

A silly season

Nesta época do ano era habitual o país entrar em notícias rendilhadas, ou seja, falava-se de tudo menos do que seria importante. Os interesses centravam-se nos amores recentes, nas trocas dos antigos, nos vestidos e penteados, nas festas daqui, dali e d'alem mar, enfim abordavam-se toda a espécie de trivialidades. E era muito descansativo!
Agora, tudo isso se perdeu sob o manto diáfano da seriedade e do rigor. Já não há silly season. Quando muito, teremos que nos contentar com as notícias da Lux ou da Caras, dado que a Hola, com os problemas internos da Espanha, perdeu muito do seu fulgor. Mas mesmo as referidas nacionais, a que com alguma boa vontade se poderão acrescentar a Vip ou a Flash, mesmo essas, não conseguem dar conta do serviço por falta de material.
Exceptuando o Cristiano e a Irina que ainda despertam os portugueses da letargia em que vivem, o que é certo é que já não há jardins da Parada ou betinhos que nos valham. A globalização fez desaparecer o beautiful people e, os resquícios que ainda subsistem, não dão para mais de duas paginas com fotos e texto escassos.
A crise é, nos nossos dias, pasme-se, o tema central das revistas cor de rosa que assim se tingem de um cinzento outonal. Que pena. Que falta nos fazem aqueles floreados da época!

HSC

terça-feira, 30 de julho de 2013

Um novo léxico

"Portugal é um país muito dado à semântica". Assim começa, hoje, a crónica de Tiago Freire no Jornal Económico. Com base nesta afirmação séria, decidi tecer algumas considerações sobre sinónimos especiais para uso publico, de modo a ajudar aqueles que tenham de discursar no exercício de funções oficiais, mas não queiram ser vaiados.
Dando corpo ao exercício fiz uma pesquisa das palavras mais utilizadas na actual oratória, às quais entendi dar um cunho pessoal de modo a que, quem necessite, possa ir mais longe na utilização das mesmas.
Assim, sugere-se que a mentira seja apenas uma inverdade, e a miséria uma questão de ajustamento económico. Continuando, teremos a salvação nacional como sinónimo de simples acordo entre partidos do arco da governação e os swaps uma encrenca financeira que utilizada em certos contextos é uma excelente opção e noutros uma péssima escolha. O problema aqui reside na definição do dito contexto, como deverão ter percebido. Já a expressão saber deve significar, sempre, o conhecimento atempado de tudo e não apenas de uma parte, excluindo portanto daquele conceito o estar informado. Finalmente austeridade será, pelos tempos mais próximos, sinónimo de rigor e seriedade. E, para não ser criticada, irrevogável será tudo o que, a seu tempo e por motivos alheios à vontade de cada um, se torne reversível.
Acredito que com este novo léxico ninguém ficará mal visto nas diversas ocasiões em que for chamado a pronunciar-se sobre o que quer que seja!

HSC

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A alegria na Igreja


Uma esperança de amor e de paz com o Papa Francisco no Brasil. Oxalá esta seja uma marca numa Igreja que se deseja virada para os mais fracos e desprotegidos.

HSC

domingo, 28 de julho de 2013

Banderas de presente

Eu disse, eu avisei que agora teríamos muito tango. A minha comentadora Maria Virgínia prefere Banderas a Richard Gere. Eu, confesso, ficava com os dois...a dançar, claro. Portanto, para ela, aqui vai um Banderas, de morrer e chorar por mais!

HSC

Uma curta explicação

Como devem ter reparado, os últimos seis post's - desde o "Cá e lá mais feridas há" - são sobre o meu quotidiano, o quotidiano de todos nós. Acabou-se a política. Cansei. Aos poucos convenci-me que escrever sobre ela é "promove-la". Não quero. Não estou para isso. Não se trata de uma decisão irrevogável, nem de um tabú, porque sou pouco dada a eles.
Aliás, dei há dias, à Cristina Esteves, uma longa entrevista política, onde falei sem reservas. Não tinha que as ter. Mas decidi que havia dito tudo sobre esta desinteressante matéria nacional.
Assim, de futuro, o Fio de prumo, por norma, não se dedicará mais a "analisar" o que nem sequer merece ser analisado. E, a menos que haja, entre nós, uma qualquer surpresa nesta área, não será aqui que encontrarão notícias. Nem boatos.
Aqui, como sempre, vão poder encontrar tudo o resto!

HSC

Em Sesimbra

Ontem quase voltei à minha juventude. Com efeito, as primeiras férias que fiz sem ser em família, passei-as em Sesimbra, onde vivia a família de uma amiga minha. 
Acabara de atingir a maioridade, aos 18 anos, e decidi alugar um quarto em meia pensão em casa de uns seus tios. Foram quinze dias em que me senti dona de mim própria e aos quais o meu Pai teve a inteligência de me não levantar grandes oposições, seguro que estava, que esse não era o melhor método de lidar comigo.
Não abusei da liberdade. Mas gozei-a com o prazer de quem se sente senhora do seu destino e responde por ele com toda a responsabilidade. Foi a primeira de todas as férias que haviam de seguir-se a solo, até casar, aos 21 anos, com o meu amor, encontrado numa dessa férias, desta feita em Cascais, onde o dito cumpria o serviço militar.
Enquanto assinava livros a gente boa e que gosta de me ler, recordava esses tempos longínquos e pareceu-me que Sesimbra continuava com a mesma simplicidade de vida com que a havia conhecido. Ainda há, felizmente, neste país, lugares onde a democracia não estragou aquilo que eles tinham de melhor, ou seja uma certa forma, natural, de viver a vida. Bom começo de férias em trabalho. Até porque vendi para cima de sessenta livros!

HSC

sábado, 27 de julho de 2013

Shall We Dance?

E agora que vou às nove e meia da noite para uma sessão de autógrafos em Sesimbra deixo-vos esta amostra de como a idade pode ser uma mais valia. No caso de Gere é de facto. Quando jovem era um pouco canastrão. Ao envelhecer ganhou "corpo" como o vinho!

HSC

Um sábado em Lisboa

Deviam ser sete e meia da manhã quando acordei. Fiquei uns minutos na minha conversa habitual com Ele. Finalizei, como sempre, com um Pai Nosso. 
Arranjei-me, preparei um bacon no forno, bem tostadinho, acompanhado de uns quartos de maçã passadas na manteiga, tudo acompanhado de um sumo natural de laranja  e duas fatias de pão torrado. Este é um dos meus pequenos almoços preferidos!
Alcei de casa, pelas nove da manhã e fui a pé até ao Terreiro do Paço, já cheio de turistas a essa hora. Sentei-me e fiquei por ali a ver o mar, sem pensar em nada. De repente lembrei-me das praias artificiais de Paris, junto ao Sena e apeteceu-me molhar os pés. Andei um pouco mais, descalcei-me e fiquei sentada na pedra e pés dentro de água gozando o fresco da manhã, turista no meu país e na minha cidade. Meia hora depois eram vários os que me haviam copiado!
Confesso que sorri face à minha liberdade de não ser ninguém, ou de, sendo alguém, me ter sido perfeitamente indiferente o que os outros pensassem de mim, caso me reconhecessem. Só não me deitei porque o chão era duro e eu não tenho vinte anos. Mas já havia quem o fizesse.
Estive neste preparo três quartos de hora. Os pezinhos foram secos com os lenços de papel que trago sempre comigo. Depois, fiz a caminhada inversa e no Cais Sodré tomei um belo café num restaurante africano.
Era quase meio dia quando me meti no duche para ir almoçar com um amigo. Fresca que nem uma flor!

HSC

Da sanidade mental

Disse aqui, há ano e meio, que o ritmo da minha vida tinha mudado muito depois de perder o meu filho. Outra morte dolorosa se lhe havia de seguir num relativamente curto espaço de tempo. 
Ambas fizeram com que passasse a demorar mais o meu olhar sobre aquilo que me rodeava e a dar mais valor às pequenas emoções do dia a dia: um café numa esplanada, um passeio à beira rio, um almoço com amigos, um ramo de flores frescas, enfim, às coisas simples da vida. Mas continuei a trabalhar demasiado.
A crise recente pela qual passámos obrigou-me - no meu caso particular de cidadã e de mãe - a um outro tipo de exercício. Que, sobretudo, conciliasse, as duas posições sabendo-se, como se sabe, que sempre pensei pela minha cabeça, e me não demito desse direito. E, embora haja ainda quem goste de me negar essa força identitária, ela existe e eu não abdico dela.
Assim e porque não vou ter ferias - corporizei-as no ar condicionado - reduzi o trabalho e tenho aproveitado para passear em Lisboa e "ver" aquilo que antes já lá estava, mas eu não reparava. Foi deste modo que pude, há dias, deliciar-me a ver o meu neto André - que estuda e trabalha -, no desempenho das suas funções laborais, sem que ele desse por isso...
A crise existe, eu sinto-a, mas tomei, de novo, a firme decisão de não ouvir políticos ou governantes nacionais, de modo a tentar manter esta sanidade interior o maior tempo possível. Fi-lo com Socrates e faço-o agora com Passos Coelho.
Ah! e preparo-me para passar Agosto em Lisboa, o que no meu caso, constitui já uma deliciosa forma de descanso...

HSC

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Tango

Por causa de um trabalho que me encomendaram, dei comigo a registar uma série de acontecimentos que, ou tiveram relevância na minha vida, ou espoletaram em mim reacções particulares.
Entre esses registos contam-se algumas cenas de filmes que consegui apanhar no youtube e de que vos irei dando conhecimento. A maioria deles tem o tango como protagonista principal, talvez porque se trata de um estilo que jamais me deixa indiferente. Para além de lhe encontrar alguns pontos comuns com o fado, considero que encerra uma dose de sensualidade difícil de encontrar noutras composições.
Aqui fica uma cena memorável do filme Scent of a Woman que entre nós, creio, passou como Perfume de Mulher e que, por motivos vários, não esqueço. Al Pacino interpreta um cego com uma peculiar história de vida - como sempre tendo a guerra como núcleo central - que aqui se esquece dos seus dramas pessoais e dança divinamente um lindíssimo tango de Gardel que se chama "Por una cabeza". Vejam esta notável interpretação.

HSC

Cá e lá mais feridas há!

"Segundo uma sondagem de opinião divulgada pela CNI (Confederação Nacional de Indústria) e pelo Instituto Ibope, a popularidade do Governo da Presidente Dilma Rousseff, sofreu uma queda acentuada de 24 pontos percentuais.
Tal situação ocorre após as manifestações provocadas pelo anúncio de um aumento das tarifas nos transportes públicos, a qual rapidamente alastrou à corrupção, falta de transparência no sistema político, falta de qualidade e acessibilidade de serviços básicos de educação e saúde.
Apesar do retrocesso dos governos estaduais, isso não impediu a queda da popularidade de Dilma Rousseff, que viu o seu estilo pessoal de governar passar de 71% de aprovação em Junho para os 45% actuais.
O mesmo inquérito de opinião mostra ainda que o número de pessoas que consideram o Governo mau ou péssimo quase triplicou.
A saúde é a area assinalado por 71% dos entrevistados, como tendo pior desempenho. Seguem-se a segurança pública, com 40% de respostas e a educação, com 37%.
 
A sondagem foi feita entre 9 e 12 de Julho, a 7.686 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
" 
 
Dilma foi escolha absoluta de Lula. Ainda há bem pouco tempo, a propósito da situação portuguesa, ela disse, com alguma sobranceria, que o Brasil só "ajudava" países com classificação "triple A". Oxalá o país irmão não perca os seus A, nem venha a precisar de ajuda externa. Financeira ou outra. Um dos males dos actuais dirigentes é a falta de modéstia...

HSC 

O cancro

O cancro, na minha família, matou as duas pessoas que mais amei: a minha mãe e o meu filho. Ambos passaram pelo IPO. 
O Miguel fez do Instituto a sua casa. Recebia o partido, os amigos e a família como se todo aquele cenário fosse normal e o convívio destas três categorias de pessoas tornou-se na coisa mais natural do mundo. A mim, esse condição retirava-me a intimidade com ele e, por isso, confesso, em certas alturas custou-me imenso. Beijar ou acariciar um filho na presença de pessoas que apenas conhecia da televisão, foi muito complicado. Mas teve o condão de me fazer estima-las.
A minha mãe, no início, sofreu bastante porque os tratamentos eram muito duros. Mas encontrou em Inglaterra, onde o meu irmão mais velho então estava colocado, o médico que a salvou, pelo que o IPO lhe foi menos familiar.
Falo disto porque sei o que representa, numa família, ter um dos seus membros com tal doença. E sei que é preciso falar dela, para que o medo não se torne silencioso. O que todos mais tememos não é a morte, porque essa é segura e garantida. O que todos mais tememos é o sofrimento. E é esse que faz a grande diferença entre o que era esta doença há trinta anos, quando a minha mãe a teve, e aquilo que ela é agora, quando o meu filho a viveu.
Ambos morreram com extrema dignidade. A minha mãe, entregando-se a Deus. O Miguel, entregando-se a nós. É capaz, afinal, de não ser muito diferente!

HSC

terça-feira, 23 de julho de 2013

IPO

"Olho as pessoas à minha volta e sinto-me em casa. Desta vez não é por mim que franqueio o portão, não há hesitação ou angústia que me tolham os passos. Mas será sempre por mim que voltarei. Uma estranha nostalgia faz-me correr a revalidar o cartão, expirado há anos, que comprova a pertença e me dá a ilusão de uma garantia de segurança. De salvação. Quem por cá passa ou mora algum tempo sabe do que falo: fica-se íntimo, solidário, cúmplice de uma espécie de partilha desesperada que nos une para o resto da vida, valha esse prazo o que valer. Já quase não há caras familiares mas todas as caras são demasiado familiares. É meu pai o velho rabugento que mede forças com a cadeira de rodas, zangado com o mundo. É minha irmã a mulher magra, ainda coquette, que olha furtivamente em volta e ajeita a peruca loira, na esperança de que passe por cabelo verdadeiro. É minha filha a menina de olhar triste que brinca à sombra de uma árvore, lenço de cores berrantes amarrado a cobrir a ausência dos caracóis sedosos. Também eu já caminhei sem destino por estas ruas, sufocando nas entranhas um medo irracional. O maior pesadelo não é a dor física, é o terror. Também a mim já pareceram hostis estes muros, inóspitos estes bancos de jardim. Já fui aquela mulher que vejo agora no bar, agarrada à chávena de café como ao último e supremo prazer a que tem direito. Já me aturdi com a vozearia dos lamentos nas salas de espera. Para calá-los já fui bobo da corte, com graças estafadas para exorcizar fantasmas e arrancar sorrisos a quem se sente no corredor da morte, transido pelo medo e pela dor.  Já deixei lágrimas, suspiros e sorrisos nestes corredores, primeiro sombrios, depois esperançosos, finalmente libertadores. O tempo é sábio, esbate as mágoas e deixa-nos só as boas memórias. Foi aqui que aprendi a ler nas entrelinhas, a interpretar olhares mais do que palavras, a fintar as trevas, a saber esperar. Foi aqui que encontrei a maior condensação de humanidade que alguma vez me foi dado conhecer. Foi aqui que me questionei sobre o sentido da vida, o sentido da morte, e foi aqui que olhei ambas de frente. Estas paredes puseram-me à prova e revelaram-me o melhor de mim. Como posso sentir por elas alguma coisa que não seja gratidão?"

(Post "roubado" à Ana Vidal no blogue Delito de Opinião)

A Ana Vidal não carece de apresentação. Este texto, notável, define a admirável mulher que ela é. Sorte a minha que tenho tais amigas. 
As guerras políticas ao lado de problemas destes são de uma insignificante dimensão!

HSC



Pensar duas vezes...

"...Ontem, o Jornal de Negócios revelou que o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Beja aceitou a providência cautelar interposta pelo município de Ferreira de Alentejo contra a Estradas de Portugal (EP), Ministério da Economia, Ministério da Agricultura, por causa de uma suspensão de obras na auto-estrada Sines-Beja. Até aqui, nada a opor, não fosse o caso de o tribunal, numa decisão inédita, ter decidido aplicar uma multa diária aos responsáveis políticos dos ministérios, Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas, e também ao presidente da EP, António Ramalho."... 
(http://economico.sapo.pt/noticias/o-regime-esta-doente_174014.html)
Ora aqui está uma boa razão para se pensar duas vezes, antes de se aceitar certos lugares, nomeadamente o de ministro do que quer que seja. Sobretudo, se apenas se viver do próprio salário...

HSC

Da tolerância

“…O apartheid entretanto acabou e Nelson Mandela algum tempo mais tarde foi eleito Presidente da República, revelando-se um político a todos os títulos excecional e de uma enorme humanidade.
Tive o privilégio de o conhecer e admirá-lo, salvo erro, antes e depois de ser Presidente. Lembro-me de um jantar em sua honra em que participei e em que estavam presentes dois dos seus carcereiros. Homem excecional. Mandela foi um dos mais notáveis políticos do século vinte, sem esquecer Roosevelt, Churchill, Mendès France, Mitterrand, Suarez, Willy Brandt, Olof Palme e alguns outros.
Nelson Mandela voltou a casar-se, com a viúva de Samora Machel, uma senhora excecional, que o tem acompanhado com enorme atenção e carinho. Oxalá Mandela volte a melhorar e viva ainda alguns anos. Continue a ser um exemplo único para um mundo hoje tão complexo e difícil. É um símbolo único com uma dimensão humanista e humana, como político, de que o mundo precisa."...

(Semana Parada, crónica de Mario Soares no DN)

Seria Mario Soares, algum dia, capaz de jantar com os seus carcereiros?

HSC