segunda-feira, 3 de junho de 2013

Uma família às direitas

Um genérico fabuloso, um casal de meia-idade e duas divisões de uma casa modesta, faziam o recato doméstico de Edith e Archie Bunker, os protagonistas de uma das melhores séries a que tive o gosto de assistir no pequeno ecrã. A primeira, interpretada por Jane Stapleton, que acaba de morrer aos noventa anos, e o segundo, por Carroll O’ Connor.
Este último era o típico americano médio, cheio de preconceitos sociais, culturais e raciais. Reaccionário até à medula, apoiante de  Nixon e da guerra do Vietname e inimigo empedernido da mudança, nos idos anos de setenta.
Archie era ainda o operário "explorado pelo capital", que odiava os imigrantes que só vinham "roubar-lhes os postos de trabalho". No seu conservadorismo era igualmente contra os negros que considerava uns "delinquentes" e contra os judeus, que tinham "assassinado Cristo". No mundo em que vivia tudo lhe parecia virado do avesso. Daí as intermináveis discussões que mantinha com Mike, o genro, um intelectual de esquerda, europeu, que com eles vivia por ter casado com a filha. 
All in the Family, entre nós titulado como Uma Família às Direitas  tinha diálogos deliciosos, que nos faziam rir até às lágrimas. E que afinal acabariam por tornar Archie num ícone popular, apesar das ideias que defendia.
Era uma época em que nos podíamos rir de todos os tiques e de todas as teorias e ter prazer com isso. Antes, claro, da televisão politicamente correcta e imensamente maçadora com os seus lampejos de manipuladora de massas ou de educadora do povo.
Hoje, ao saber da morte de Stapleton, a paciente, limitada, adorável Edith, não pude deixar de recordar esta extraordinária série que psicanalisava a classe média americana e conseguiu manter-se actual, superando as barreiras da moda, do gosto e do tempo. Porque a América de Archie Bunker não está morta. Longe disso. Apenas  soube alterar-se no acessório e dar-lhe um ar de essencial...

HSC


12 comentários:

Maria Antunes disse...

Concordo em absoluto, não perdia um episódio. Uma série fantástica! A Edith era mesmo adorável com a sua limitação e com o seu bom coração, mas o Archie era muito engraçado! Adorei a série.
Beijinho.

Sara disse...

Tenho 35 anos por isso quando ela passou por cá eu era muito pequena mas era um momento tão bom em família... Ainda me lembro de estar sentada à braseira com os meus pais e a comer bolo acabadinho de fazer... Eram assim os serões de inverno ao fim de semana em casa dos meus pais... Lembro-me de não perceber metade das piadas mas de achar uma delicia aquela família. Mais tarde pude ver, através de reposições, e percebi que realmente tinha razão por adorar aquela série...

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Concordo em absoluto. Não há ditadura pior do que a do politicamente correcto porque não leva à luta mas ao adormecimento.

Raúl.

AEfetivamente disse...

Também vi muitos episódios na RTP2, creio, nas reposições que foram feitas. O Archie simboliza o que não gosto e que não está morto, realmente, nem lá nem cá. :) :(
Série hilariante, mesmo. Excelente lembrança. :)

Virginia disse...

Série fenomenal, como muitas que a RTP transmitia na altura e que nunca mais conseguiu comprar, talvez devido à concorrência da Cabo.

Tenho saudades de algumas séries da BBC e não só....

Bom post!

Maria disse...

Minha Querida, tenho 55 anos e como me lembro tão bem de me rir a "bandeiras despregadas", quando via esta série. Era uma maravilha!...
Concordo na íntegra com a sua análise. Como sempre muito certeira!

Maria (seg. interm.)

zia disse...

Dá saudades mas também cheira um bocadinho a naftalina...
Continua muito actual tanto nas américas como pelo velho continente.
Um abraço,
lb/zia

Um Jeito Manso disse...

Olá Helena,

Isto nem é um comentário pois não vem nada a propósito do que aqui escreveu.

Isto é mais para lhe dizer que este fim de semana fui por duas vezes à feira e numa das vezes vi-a e fotografei-a. Estava cansadíssima depois de andar com os miúdos na Gulbenkian e pensei que a ia rever no domingo e aí iria ter consigo. Mas no domingo, com um calor brutal, vim-me embora cedo e não a vi.

Mas coloquei a sua fotografia (coberta das belas flores dos jacarandás) lá no meu canto, ao pé de outros escritores. Espero que não se importe e que goste de se ver mas, claro está, se não quiser ver-se por aquelas bandas é só dizer que eu retiro logo.

Um abraço, Bárbara Helena (e é preciso ser mesmo uma brava Helena para suportar aquelas tardes de calor...)

PS: Claro que se não quiser publicar isto, faz muito bem, porque isto aqui nem vem a propósito...

Anónimo disse...

Algumas das piadas passavam-me ao lado por causa da idade, mas esta série também fazia parte dos serões sagrados em família.

Que saudades destas séries fenomenais!

Blondewithaphd disse...

Também fiquei triste na surpresa da morte da "Edith". Adorava a série e recordá-la é lembrar-me da minha Mãe a imitar a Edith e a não perder um episódio.

Anónimo disse...

Em nossa casa, onde continuamos a ter apenas uma tv, gostamos de ver o Big Bang Theory em familia.
Quanto ao politicanente correcto, julgo que a fase pior passou pois sabemos rir das suas tontices e do seu excesso de zelo.
Felizmente,estamos bem conscientes das manhas que a ideologia pc usa e abusa para calar e manipular leis, regulamentos e pessoas.
L.L.

Anónimo disse...

Também gostava imenso da série, bem comentado, beijos

Maria do Carmo