terça-feira, 4 de junho de 2013

A cigarra e a formiga

Se não foi desta que me fui, começo a acreditar que serei imortal. Acabo de fazer a simulação do meu IRS e ia colapsando. Por uma qualquer praga apanho, por uma unha negra, todas as condições desfavoráveis das novas medidas fiscais.
Perante situações deste tipo há várias soluções, a saber: não pagar, puxar os cabelos, gritar, deprimir-me, fazer requerimentos, assinar petições. Todas elas apresentam efeitos secundários muito pouco mobilizadores, nomeadamente confiscarem-me a casa onde vivo e que muito me custou a pagar, ou conseguirem deitar-me abaixo e calarem-me pela força da falta de dinheiro.
Trabalhei a vida inteira. Continuo a trabalhar. Mas, como a maioria dos portugueses, começo a pensar verdadeiramente se trabalhar será solução. Porque desse trabalho anual, sete meses vão para o Estado, governo, o que seja, sem sombra de retorno.
Finalmente a cigarra é que tinha, mesmo, razão e La Fontaine, cheio de boas intenções, só nos enganou. Qual formiga, qual carapuça! 

HSC

19 comentários:

Fatyly disse...

Também me encontro no quadro de CHOQUE/ROUBO/ASSALTO que descreve...excepto que continuo a trabalhar e muito mas sem qualquer remuneração...numa de SOS avó e SOS à minha mãe...ou seja quase...dia sim, dia sim:)...porque financeiramente não os posso ajudar em nada!

Enfim...melhores dias virão e cada vez que olho para o papel que está ali, nem imagina a revolta que sinto!



Anónimo disse...

É verdade, não há dúvida. Mas o que devemos fazer? Pela primeira vez não faço ideia...Sei que não quero violência e às vezes é com grande tristeza que vejo os sindicatos a incitarem à rebelião nas ruas esse será certamente o pior dos caminhos. Vai haver greve geral, não a farei, não é por aí. Só vejo um caminho a solidariedade, tudo o resto não controlamos é a nível europeu e mundial, mas gostava que voltassemos a uma vida mais ligada à terra, termos laranjas apenas no inverno e não em Agosto, este não está a ser o caminho, não está mesmo.
Um abraço
Inês Galvão

diogo disse...

o nosso 1º avisou , mas vocês nem quiseram ouvir .
emigrar , disse o sr.
fizeram ouvidos moucos ...agora paguem .
n.b. eu também pago

Anónimo disse...

Com efeito... mais vale ser cigarra.
O problema é que com os meus dotes vocais ainda me aplicavam um imposto sobre a poluição sonora!

Vou fazer como o Carlos Paião aconselhava e cantar "Em Playback,em playback, em playback" para ser alguém.

Um beijinho,
Vânia

Virginia disse...

É ultrajante trabalhar para um Estado destes!

Muito sinceramente só trabalho porque me dá gozo fazer o que faço, mas há muito que decidi terminar quando o prazer for menor que o ganho.

E é claro que como a Fatily, também trabalho no SOS netos, hoje em dia é conta-corrente. Curioso é que nunca tive essa ajuda quando bem precisava dela.

Mas a Helena nunca há-de parar...mesmo que não ganhe nada!!

João Menéres disse...

Por não ver solução para Portugal, já de esperança resta quase nada.
Tristemente...

zia disse...

Como a Doutora há neste momento muita gente que se arrepende de ter sido formiga, vale bem mais cantar e ser feliz do que cumprir tudo à risca para depois virem roubar e ainda se fazendo passar por "coitadinhos nem culpa tiveram"!
Está a atingir um grau inimaginável, e o que vem será melhor, duvido, mas vamos aproveitando o sol e a paisagem deste bocadinho de terra,já vendido aos lindos alemães, chineses, americanos e etc...
Todo o carinho,
lb/zia

Anónimo disse...

Perante o IRS e outros tantos impostos, brutais e sufocantes, pode passar-me pela cabeça não pagar nada.
Se for presa, prontos ....


Teresa Frazão

PS - Um bj Maria Helena. É vital passar por aqui. Obrigada. Sempre (T)

Um Jeito Manso disse...

Olá Helena,

Esta terça feira celebrou-se o dia em que passávamos a trabalhar para nós depois de, até aqui, termos trabalhado para o Estado.

Mas sabe como é isto das médias... se dois amigos se juntam e um come uma galinha inteira e outro nem lhe toca, alguém dirá que cada um comeu meia galinha...

O mesmo se passa nos impostos. Atendendo a que parte da população vive quase ao nível da indigência e não paga impostos, significa isso que os que os pagam ainda vão ter que labutar mais uns meses para passarem a trabalhar para si próprios. Isto é asfixiante.

E se ainda víssemos alguns resultados... Mas não. Hoje é o Ricciardi a dizer que se não voltamos ao crescimento até ao próximo ano, não há volta a dar: a dívida terá que ser reestruturada. E claro que não vamos voltar ao crescimento até lá. pelo contrário, a recessão está cada vez mais cavada.

E sabemos o que pode significar a reestruturação da dívida... E sabemos como os incobráveis estão a crescer. O governador do BP bem o tem avisado. O Chipre já nos mostrou o que se pode passar. O ministro das finanças alemão já o reforçou. A produtividade está a cair, o risco a aumentar. Todo este sacrifício não é para nada: pelo contrário, é para agravar o estado das finanças públicas.

Uma frustração e uma tremenda preocupação.

Gosto de pensar que melhores dias virão mas começo a estar seriamente apreensiva com isto tudo.

Ou seja: estou solidária com o seu desalento.



antónio m p disse...

A Helena não deve ter lido, ou não lhe contaram, a história até ao fim. É que a cigarra, quando já não tinha que comer, comeu a formiga. Mas descanse que não foi duma vez só, foi de "reestruturação" em "reestruturação"...

Os melhores cumprimentos.

Anónimo disse...

A cigarra transforma-se em formiga e vice-versa pela varinha de impostos do Estado que define e cobra actividades e inactividades.

AEfetivamente disse...

:) No meio disto - que não é pouco - a Helena já me fez - como sempre - rir. Valha-nos o humor! Bjs

Anónimo disse...

Bom dia,

sempre que vou a um posto dos CTT ou passo por uma loja social ou observo determinados cidadãos, uns declarados insolventes, outros com direito a abono escalão B, a pararem as suas brutas máquinas e as respectivas esposas a passearem as malas Cavalinho (e afins), as madeixas e as unhas de gel, tenho a certeza de que a fábula de La Fontaine é um engano ...

E, mesmo assim, não só me esforço por manter a cabeça levantada e seguir a minha vida em frente com dignidade e, actualmente, com muita necessidade, não vá alguém chamar-me de invejosa como já aconteceu! Como também até tremo quando ouço falar em eleições antecipadas ...

Mas será que alguém pensa mesmo que estas injustiças, desigualdades, enfim que o estado de situação em que vivemos mudará com eleições antecipadas? Se ainda mudassem um ou dois ministros até poderia ser …

Isto só lá iria com responsabilização judicial não só do político, seja do governo, seja da oposição, como também do assistente, do gestor, do administrativo, do técnico, do sindicalista, enfim, do cidadão em geral e muito principalmente daquele que trabalha nas instituições do estado e lhe cabe verificar a verdade, separando o trigo do joio.

Enquanto em Portugal ninguém for responsabilizado judicialmente pela má ou/e corrupta ou/e ruinosa administração dos dinheiros públicos, a nossa angústia não terá fim, haverá sempre alguém a pagar pelos luxos dos outros, haverá sempre alguns a trabalharem sete ou oito meses só para impostos e para o estado social que, certamente, no seu caso específico, pouco usufruirá.

Hoje não é um bom dia, perdoem-me a linguagem caustica, caiu-me a prestação da casa no banco e não sei muito bem como irá ser o resto do mês!!! Preciso de uns guindastes para manter a cabeça elevada …

Bem haja os que mantêm a esperança e a dignidade. E, como filha vos digo, bem hajam os pais (ou avós) que muito nos ajudam a mantê-la.

Cumprimentos,
Cláudia

Anónimo disse...

Num país em que o esforço dos cidadãos através dos seus impostos fosse devolvido em préstimos públicos de importância relevante, não teria qualquer problema em pagar impostos. Aqui começo a pensar que mesmo o pouco é demasiado.

Com a maior consideração,
Pedro

gipsofila disse...

Tal e qual. O meu sentimento já passou da revolta à desilusão, porque a impotência para lidar com o assunto é total. Sinto-me escravizada. Tenho um curso superior e e 3 filhos a estudar e o que recebo dá apenas para as despesas correntes. Não viajo, férias é em casa da família, levamos comida de casa para o almoço. Sou apelidada de rica pelo Fisco e só não me vou deste País para fora porque os meus pais envelheceram e precisam de mim. Estou farta.

Carlos Fonseca disse...

Como a compreendo.

Desde que foi criado o IRS, em 1979, chegada a altura de entregar a declaração e fazer o "acerto de contas", sempre me foi devolvido o dinheiro retido a mais.

Pois bem, este ano, depois de me terem confiscado dois meses de pensão, de me terem aumentado o valor do imposto, de me terem imposto uma coisa a que chamam de "solidariedade", vou ter que desembolsar mais umas largas centenas de euros.

É caso para dizer que, comparado com estes sujeitos que nos sugam, o Al Capone era um anjinho!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Carlos Fonseca
Também eu costumava - até ao passado ano - receber o dinheiro retido a mais.
Mas este ano - a base era praticamente a mesma - levei um rombo e peras!
Para quê e para quem? Não sei.
É que, na falta de um filho, tenho a estrita obrigação de pensar nos netos, a quem já bastou perderem o Pai.

ERA UMA VEZ disse...

Era uma vez
a formiguinha
tão pequena tão mexida
olhos fitos no celeiro
trabalhando o dia inteiro
era essa a sua vida...

Não sabia a cor do céu
nem do sol nem das estrelas
não parava pra pensar
era só amealhar
para o dia de amanhã

Foi então que certo dia
a bela da formiguinha
ouviu um som tão estranho
tão belo e celestial
que estancou por um momento
É MÚSICA,é música
querida vizinha
e a cantora sou eu
"cigarra de coiso e tal"

Olá e muito prazer!
e ficaram por instantes
conversando conversando...
até ao anoitecer

Conclusão da reunião:
"é preciso trabalhar
mas nada tem emoção
se não houver pelo ar
toada de uma canção"

(o trabalho nunca acaba
e a arte vai perdurar...)

e ambas continuaram
na fadiga e no cantar
na certeza dessa vida
desde sempre" a escolhida"

mas agora prometendo... prometendo REPENSAR...

Maria Júlia Sobrinho disse...

Estou e sou solidária com todos os comentários:entraram abusivamente no meu ordenado, todos os dias me injectam uma dose de pessimismo e frustração,não pelo que me sugam na paciência mas pela incerteza com que vou viver.
Eu que tudo fiz para dar independência financeira aos filhos através de muitas ferramentas que lhes proporcionei e que terei de os ajudar,para que se aguentem sem depressões e revoltas, sabendo que vou ser velha com necessidades.
Grande azar tivemos com estes estrangeirados. A História deu-nos uma visão dos estrangeirados serem gente capaz de mudar mentalidades, de nos enriquecerem a todos os níveis! Abraço Júlia