terça-feira, 7 de maio de 2013

Os telemóveis e os exames


"Há coisas que não percebo. Em vez de proibirem as suas criancinhas de levar telemóveis para um exame - por iniciativa própria e sem que sejam precisas recomendações exteriores, como seria lógico e natural - os pais dos alunos que fizeram hoje o exame do 4º ano vêm para a televisão insurgir-se contra o terrivelmente traumatizante pedido de assinatura de um papel que garante que os meninos não estão a conversar com os amigos em vez de estarem concentrados no exame. Insurgir-se, no fundo, contra a introdução das primeiras e utilíssimas noções de responsabilidade, ética e compromisso nas mentes dos filhos.

Esta nova forma de educar (ou de não educar, mais precisamente) com base no pressuposto de que tudo traumatiza as crianças, deixa-me seriamente preocupada. Primeiro, porque cria gerações sucessivas de florzinhas de estufa que não podem ser contrariadas nem suportam qualquer espécie de autoridade, o que as deixa totalmente impreparadas para o que vão enfrentar na vida real. Depois, porque torna quase insuportável o trabalho dos professores, desautorizados por um muro acusatório constituído por alunos mal educados e pais incapazes de autoridade que os apoiam incondicionalmente, tenham ou não razão. Finalmente, porque não vejo este excesso de protecção aplicado depois a outras frentes, como por exemplo à enorme exposição a que essas mesmas crianças estão sujeitas com a net, a televisão, a "noite" precoce, etc. Seria bom que estes pais pensassem um pouco mais em tudo isto, em vez de saltarem escandalizados, com acusações que não têm pés nem cabeça, para o microfone que a voraz media lhes estende à porta da escola".

Este texto de Ana Vidal publicado no blogue colectivo Delito de Opinião é bastante revelador do que, também eu, penso da medida tomada pelo Ministro da Educação de proibir os telemóveis na prova nacional de aferição.
Estou ligada, há muitos anos, ao ensino universitário e sei bem qual a preparação com que os alunos lá chegam. Sei quais os benefícios  e os inconvenientes do recurso permanente à net, como soube, no meu tempo, os que trouxeram ao exercício mental, as antigas máquinas de calcular. Hoje, há gerações que entram na Faculdade sem saber fazer "contas de cabeça"...
Os instrumentos que atrás referi são apenas ferramentas para facilitar o trabalho e não para dispensar o indivíduo de o realizar!

HSC 

                                       

27 comentários:

Alcipe disse...

Inteiramente de acordo!

a) Alcipe

Isabel Mouzinho disse...

Subscrevo na íntegra e, sendo professora, sei na pele do que falam ambas. E não podia estar mais de acordo. Parece que anda tudo parvo. Mas já há algum tempo; não é de agora!

Beijinho
Isabel Mouzinho

Virginia disse...



Concordo a 100% com tudo o que escreveu. Pensei exactamente o mesmo quando ouvi a notícia à hora de almoço. Pergunto-me aliás para que é que uma criança de 9 anos precisa dum telemóvel. O meu neto não ten TV nem telemóvel em casa e é uma criança feliz....

Bjinho

saltapocinhas disse...

Não foi com o facto de levar ou não telemóveis que as pessoas se insurgiram (penso eu), mas sim contra a patética assinatura de um "compromisso de honra".

Para que os meninos não levassem telemóvel, bastaria um simples recado na caderneta, a dizer que o seu uso era proibido (aliás, devia ser proibido todos os dias e não apenas neste!).

me disse...

Cara Helena, enquanto mãe de uma destas crianças, que não usa telemóvel, cujo colégio não permite a sua utilização ou tampouco que sejam levados para a escola, acho esta declaração um excesso!

Estas crianças de 9 e 10 anos não sabem ainda o que é cabular, e foi necessário explicar-lhes o que é "isso" para perceberem e assinarem sob sua "honra"...

Mais um episódio de um espectáculo circense...

AEfetivamente disse...

Bom texto da Ana, como é hábito, também. E subscrevo o que ambas dizem :)

Anónimo disse...

Igualmente inteiramente de acordo!
P.Rufino

Teresa Peralta disse...


Concordo e digo mais que, não fica mal a um aluno de 9 anos aprender a assumir um compromisso, firmando esse facto com a sua própria assinatura e, se possível, logo no inicio do ano lectivo. Despoletar a sensação de responsabilidade pode não ser assim tão descabido e será, certamente, imprescindível no seguimento das suas vidas.
Talvez, num futuro próximo, os professores não sejam forçados a anular um enorme numero de frequências, como já fui obrigada a fazer, nem a proibirem a entrada dos telemóveis dentro das salas de aula, a adultos, que já deveriam ter a noção daquilo que lhes é éticamente imposto.
Boa noite com abraço para si

Fatyly disse...

Subscrevo totalmente!

Anónimo disse...

Dra. Helena,
Concordo inteiramente com a
saltapocinhas.
Beijinhos Ana

Anónimo disse...

Afinal não sou só eu que penso assim. Estava a ficar preocupada. Até parecia que tinha ficado burra e não conseguia perceber esta escandaleira toda acerca dum assunto que só merecia, na minha ótica, os devidos elogios. O impedimento de levar os telemóveis e a assinatura do compromisso. Faz algum mal, fazer perceber a uma criança que deverá ser responsável por aquilo que faz, dentro da sua possibilidade?? Até porque nunca ninguém colocou a hipótese de usar a assinatura legalmente. Pode-se ensinar as crianças a escrever cartinhas ao Pai Natal mas não podem assumir num papel que cumpriram com o que lhes foi indicado. Desculpem?? Está tudo tolo!

Paula Ferrinho disse...

Revejo-me completamente no texto e também no seu comentário!
Estas escolas (sou Educadora de Infância) são "palcos" privilegiados de todo o tipo de "atrocidades" que se vão passando nas vidas dos nossos meninos e meninas e esta é só mais uma de muitas, subtil, mas que deixará marcas seguramente, como aquelas que enumera e outras, do tipo "adultos adolescentes", muito pouco autónomos para decidir, gerir a sua própria opinião, frustrações, etc...
E o mais grave é que isso se nota logo desde o Pré-Escolar....
Bj!

Anónimo disse...

Concordo com o comentário da "saltapocinhas"! O insurgimento penso que terá sido contra o compromisso de honra. Eu também acho um perfeito disparate! Dar conhecimento prévio aos pais e alunos das regras/condições de realização dos exames... se um aluno estivesse a usar um telemóvel tinha direito a prova anulada! Penso que assim se ensinam melhor as regras. Há uma regra, ela não é cumprida, há a correspondente penalização! Um aluno com 9/10 anos assinou um compromisso de honra, provavelmente sem entender muito bem o que estava a assinar e o alcance de tudo aquilo...

Cumprimentos,

Carla Martins

(e Parabéns pelo seu "milhão"!!!)

Anónimo disse...

Parabéns pelo milhão. Em relação ao artigo do telemóvel totalmente de acordo com o que nele diz.

teresa disse...

Olá drª Helena.
Também sou professora e concordo em absoluto com o seu comentário.

Anónimo disse...

Porquê o medo da expressão
"compromisso de honra".

Eu Helena declaro (escrevo) em compromisso de honra que estou preocupada com o futuro.

Helena/Cascais

Maria disse...

Querida Helena,
Estou totalmente de acordo com tudo o que escreveu. TOTALMENTE!
É uma vergonha o que se passa nas escolas públicas! Uma vergonha!
Ainda bem que voltaram os exames, que não traumatizam ninguém! Antes pelo contrário...
Um abraço.
Maria (seg. interm)

zia disse...

Os telemóveis que a maioria dos pais oferece os filhos são um dos sinais visíveis de como estão a ser educados as crianças, alem da net e a miserável TV.
Já estamos a sofrer as consequências de deixar as crianças fazerem tudo o que lhe vem à cabeça!
O 1º ministro e os seus acólitos demonstram bem as fornadas dessas crianças que não sabem reagir às contrariedades, certa???
Um abraço,
lb/zia

rmg disse...


Tal como também no Delito de Opinião foi escrito a propósito deste caso , ainda que por outras palavras , muitos pais continuam a tratar os seus filhos de 10 anos como perfeitos imbecis .

Os meus netos de 10 anos perceberam perfeitamente o que é que lhes estava a ser pedido porque , coitadinhos dos infelizes , têm sido educados por pais e avós para serem responsáveis e honrarem compromissos .

E acho notável que ainda haja quem pense que os filhos seriam incapazes de "cabular" quando a questão não é essa : os filhos talvez (talvez ...) o fossem mas impedir-se-ía como os paizinhos de , solícitos na asneira , lhes darem uma ajudinha ?

Anónimo disse...

O mais grave, querida Drª Helena, é que eu também vi professores insurgirem-se contra estas medidas.

De facto é preocupante, na grande maioria os pais não responsabilizam os filhos pelas atitudes. Talvez porque já nem eles sejam suficientemente responsáveis para os ter. Moro numa rua de inclinação bastante acentuada e com uma curva muito fechada. Já por diversas vezes aqui houveram acidentes, felizmente na maioria das vezes quem paga é o posto de electricidade público, que acaba por levar com os carros em cima. Mas também já aqui morreu um cão. Há dias, ouvi um barulho estranho e fui ver: miúdos a fazer skate! Eu já disse à minha mãe que qualquer dia vai haver aqui uma desgraça. É que ainda por cima costumam vir na hora de maior tráfego. Não conheço as crianças nem os pais, quem tenta avisar "os meninos" para o perigo ainda é insultado. Lá diz o velho ditado, "antes chorares tu, do que chorar eu". Acredito que os pais não imaginam o perigo em que os filhos estão porque eu não consigo identificá-los com nenhuma família que viva aqui perto. Se querem deixar brincar os seus filhos ao ar livre, o que eu concordo plenamente, deviam pelo menos vir verificar as condições.

Mas sim, há uma geração que está a crescer sem que lhe sejam imputadas responsabilidades, o "termo de responsabilidade" na minha óptica até podia ser uma forma de os motivar e mostrar que são importantes e crescidos, como as crianças tanto gostam. Mas, às vezes, são piores os pais que os filhos e depois é no que dá: manifestarem-se porque os alunos assinam um termo de responsabilidade onde declaram que não vão fazer uso do telemóvel durante o exame.

Um beijinho,
Vânia

Dalma disse...

Como me reformei vai para oito anos muito se modificou desde então! Nessa altura os telemóveis davam os primeiros passos dentro da sala de aula... confisquei alguns uma meia dúzia de vezes e entreguei-os no Conselho Diretivo (depois já não era comigo) mas pergunto-me, será que hoje podia fazer isso com sucesso? Duvido, dado que a posição da maioria dos pais é como a autora do artigo relata! Como eu lastimo as situações a que agora os meus/minhas colegas estão sujeitos!

Dalma disse...

rmg, um dia a minha neta queixava-se da seguinte forma: " é horrível ter uma mãe e uma avó professoras!" E tem razão pois muito não lhe é permitido!

Dalma disse...

Gostava de responder à Carla Martins, mas para isso preciso do seu consentimento...

Anónimo disse...

Já agora, se me dá licença vou clicar no separador de "f" que tem por baixo do seu texto e postá-lo, com as devidas referências, no meu facebook.

;)
Um beijinho
Vânia

Anónimo disse...

Faz lembrar o seu outro post no blogue "E Nada o Vento levou"

Child of Our Time.
Se as crianças do nosso tempo são crescidas o suficiente para ter telemóvel na primária não vejo a razão para tão escândalo pelo pedido da assinatura do compromisso de honra.
Sinceramente os pais, estão a fazer uma tempestade num copo de água.

Copo de água é melhor não, se não pode estragar o telemóvel! ;)

Maça de junho disse...

Sou mãe de uma criança de 7 anos. Concordo plenamente com as suas palavras, e penso que estes pais deveriam começar por dar a educação em casa, antes de ir para o seu minuto de fama! Mas também questiono: Será que a televisão me daria tempo de antena, para eu poder dizer que como mãe, serei sempre a primeira a ensinar e depois proibir se for o caso, o uso de telemóvel pelo meu filho? será que me deixavam dizer em frente às câmaras em horário nobre que a educação não é apenas a escola a responsável, mas que deverá ser em casa que a criança cumpre regras, horários, respeita os mais velhos e os mais novos? Certamente não a TV não teria tempo para mim. Aproveito para dizer que não sou professora, nem tenho professores na família mais próxima. Obrigada cara Helena por fomentar estas discussões, tão uteis. Vou partilhar o seu texto, se me permite

Anónimo disse...

1º) Estas não são provas de aferição. Estas aconteciam mas têm como objetivo, avaliar o sistema e não os alunos (e, por consequência, os seus professores). Mas o ministro, que não quer ser avaliado, acabou com essas provas...;
2º)Há muitas formas de uma criancinha aprender a ter responsabilidade. E ao nível do 1º CEB, de um modo geral, são responsáveis; p. ex., raros são os que deixam por fazer os TPC, quando lhes são pedidos...;
3º)se uma criança, devido à sua idade, não pode responder, criminalmente, quem devia assinar a Declaração era o seu encarregado de educação...