quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ao primeiro olhar

Dizem os entendidos que há amores que surgem ao primeiro olhar. São os coup de foudre, fórmula mágica para tentar explicar o que não tem explicação.
Sei o que é. Tive o primeiro e único com dezassete anos. Entrei pela primeira vez nos claustros da Universidade para saber as minhas classificações e, como uma barata tonta, não dava com elas. Percebendo isso, um colega finalista veio ter comigo para me ajudar a encontrar as pautas. Fiquei especada, paralizada, idiota. Deixei-me conduzir até à vitrine, mas perfeitamente automatizada. E sem agradecer, vi-o afastar-se de mim, a sorrir e a dar-me os parabéns. Foi assim o nosso primeiro encontro. Fatal para mim. Haveria de sê-lo, mais tarde, também para ele, quando o destino nos pôs frente a frente. 
Na minha sala existem dois retratos nossos. Até à sua morte a nossa amizade nunca foi apenas isso. Era algo mais fundo, mais entranhado, possivelmente porque nunca ousámos - bons tempos esses - dar o passo que faltou.
Conheci as suas duas mulheres e ambas sempre souberam desse olhar fatal que cruzámos. Os nossos filhos tornaram-se os melhores amigos. Na vida e na política. Em especial do Miguel.
Quando estou em casa gosto de olhar para uma das nossas fotos, tirada na Russia, e em que estamos abraçados um ao outro.
Se ainda escrever algum livro será, de certo, sobre estes amores improváveis que dulcificam o nosso coração. No meu caso por mais de cinquenta anos...

HSC

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma nova moda

Antes as biografias surgiam algum tempo decorrido sobre a morte daqueles que lhe davam origem. Agora já não é assim. Agora as biografias são autorizadas - há mesmo quem as encomende - e o biografado até fornece, desinteressadamente, ao autor das mesmas os elementos de que ele carece, suavizando assim o indispensável trabalho de pesquisa. O que me leva a questionar a isenção das mesmas. De facto haverá alguma biografia deste tipo que possa considerar-se isenta? Alguém autoriza uma biografia que diga mal de si próprio? Só, decerto, quem tenha uma forte dose de masoquismo. Então para que se fazem as ditas?!
O mundo mudou muito, de facto...

HSC

OS NOVE MAGNÍFICOS

E, agora, uma notícia que me enche de alegria. Finalmente está marcada a data do lançamento do meu último livro de biografias históricas - OS NOVE MAGNÍFICOS - que, de algum modo, prossegue o caminho de divulgação histórica que iniciei com a versão feminina do título.
Foi um trabalho que decorreu num período difícil da minha vida, entre a doença e a morte de um filho, a que me agarrei para não soçobrar, sabendo que era isso que ele quereria que eu fizesse. Daí que o livro lhe seja inteiramente dedicado.
A "efeméride" está marcada para o próximo dia 19 de Novembro, no Corte Inglês, pelas 18h30. A apresentação estará a cargo do Dr. Bagão Felix que, amigo de sempre, aceitou meter-se nesta camisa de onze varas.
Os reis que escolhi foram aqueles cujas vidas mais me interessaram, dado que é delas que me ocupo. O critério foi, como com as rainhas, puramente subjectivo. Sendo um livro sobre homens que, no passado, governaram Portugal, foi a sua alma, o seu intimo, o seu "eu", que, mais do que tudo o resto,  procurei descobrir. Com o olhar de uma mulher do século XXI, que ama apaixonadamente o país onde nasceu!

HSC

domingo, 28 de outubro de 2012

Skyfall 007

Eu andava a precisar de ver um filme que me distraísse. Sem filosofias nem enredos complicados. E lá consegui arrastar o meu filho para uma primeira fila de um cinema - sim, as sucessivas sessões em mais do que uma sala estavam esgotadas - arriscando-me a que, no mínimo, o Daniel Craig me caísse no colo.
Como já devem ter depreendido fui ver o 007, numa sala apinhada de gente e, mau grado meu, também de pipocas...
Não me perguntem porque é que eu gosto do personagem James Bond. Há coisas que não se explicam. Como certos amores. Segui toda a série e devo confessar que este último intérprete, com cara e corpo de alemão, estava muito longe de me convencer.
Pois bem, há sempre uma altura para dar a mão à palmatória. Esta última película levou-me às primeiras que vi, há cerca de 50 anos, mas com a vantagem de, finalmente, o Bond conseguir aparecer todo amachucado depois de uma luta séria ou de uma menos séria noite de sexo. Uma mais valia, portanto.
Depois o filme é realizado por Sam Mendes, um luso americano cheio de talento, que consegue, de facto, um produto alucinante e de inquestionável qualidade no género.
Finalmente, o elenco conta com três outros grandes actores: Julie Dench, Ralph Finnes e Javier Bardem que, por si só, valorizam qualquer filme em que participem. Claro que agora já não há países maus como havia antes. Há apenas os bons e os maus tipos. E o amor à Inglaterra. Nada de desprezar nos tempos que correm...
A  não perder para quem goste de Bond, James Bond!

HSC

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A cidade da minha rua


Do outro lado da cidade tem uma rua.
Do outro lado da rua, tem uma cidade.
Na rua do outro lado, tem um ladorua
Na cidade da rua, tem lado ruacidade.

Do outro lado da rua, na cidade, tem a cidade, revestida
De passos apressados, e, bares com  bocas embriagadas.
Tem o gosto destilando o deboche, e a curva da mocidade
Navegando entre os cios, por uma agitada promiscuidade.

Cidade e rua, tudo se mistura, em prantos ou galanteios.
Tem os ternos, e, as gravatas, desfilando em pleno dia.
Tem as noites, em dançantes-lenta, ao som de devaneios.
Tem as rimas em utopias, poesias e, o áureo do dia a dia.

( em www.josemariacosta.com )


Descobri o José Maria Souza Costa numa visita ao blogue da minha amiga Helena Oneto. O comentário que o Zé então fez, sendo brasileiro, interessou-me. Passei a vista-lo.  
E porque esta poesia me tocou, resolvi partilha-la convosco.

HSC

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

As minhas palavras


Leitura do Livro da Sabedoria

Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que  se deseja debaixo do céu:
tempo para nascer e tempo para morrer,
tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou,
tempo para matar e tempo para curar,
tempo para destruir e tempo para edificar,
tempo para chorar e tempo para rir,
tempo para se lamentar e tempo para dançar,
tempo para atirar pedras e tempo para as juntar,
tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço,
tempo para procurar e tempo para perder,
tempo para guardar e tempo para atirar fora,
tempo para rasgar e tempo para coser,
tempo para calar e tempo para falar,
tempo para amar e tempo para odiar,
tempo para guerra e tempo para paz.
 Palavra do Senhor

Esta foi a leitura que eu escolhi para a missa celebrada ontem por intenção do meu filho Miguel. Como o texto é lindíssimo resolvi partilha-lo convosco. Julgo que mesmo os não católicos me compreenderão.

HSC

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Até sempre Miguel

Hoje passaram seis meses sobre a morte do meu filho Miguel. Seis meses que terão sido dos piores que enfrentei na minha vida e onde a angústia só não foi o pão de cada dia, porque transporto em mim uma fé que me segura.
Hoje, finalmente, pude mandar dizer uma missa em sua intenção, onde estava a família e aqueles que me estimam. E que o estimaram. Foi numa pequena capela, celebrada por um dos padres que mais admiro, Tolentino de Mendonça, que fez uma homilia sobre o amor, baseada num texto que o Miguel havia escrito. Tratou-se de uma belíssima partitura de divino e de profano, cujos braços se entrelaçavam.
Esperei cento e oitenta dias para poder, em tranquilidade, pedir pela paz de um filho que partiu cedo demais. E comoveu-me muito ver vários bloquistas acederem ao meu pedido para lá estarem comigo. Hoje vou poder dormir com alguma serenidade!

HSC

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A solidão das cidades

Quando se viaja muito, a frase que acima reproduzo acaba por adquirir uma enorme dimensão de verdade. É que em todas as cidades as pessoas vivem cada vez mais isoladas e, por estranho que pareça, a net e as redes sociais, dando a ilusão de convívio, acabaram por ter enorme responsabilidade na situação. 
Com efeito, os amigos virtuais aos quais se fazem surpreendentes confissões, vieram substituir as velhas amizades que se transportavam, algumas, quase do tempo do liceu.
Já aqui disse, não ter a mínima paciência para este tipo de comunicação em grupo, que me faz lembrar, de algum modo e no campo virtual, os "partouse" dos idos anos sessenta ou os swinger dos tempos actuais, todos eles reveladores das profundas solidões dos seus praticantes.
Não se trata de qualquer conceito moralista, mas apenas a constatação de que as cidades têm um efeito desagregador na vida dos seus habitantes. Ao contrário da urbe, na província a solidariedade ainda existe e o convívio também. Talvez porque os seus ocupantes são manifestamente mais velhos.
O urbanismo que, em princípio, se devia ocupar também desta imensa solitude, está mais virado para a construção da cidade inteligente do que para ensinar as pessoas a viver. E é pena, porque é nas mãos dos "arruadores" que está uma boa parte da solução deste triste problema.

HSC 

Movimento Nacional de Escutas

Quem escuta, escuta o quê e para quê? Para provar o quê?
Em Portugal gostamos muito de escutar e apanhamos sempre nessas escutas, alguém que não era suposto ser escutado. Serão os aparelhos usados que não têm qualidade? Serão os operacionais que se enganam nas cavilhas e ouvem quem não devia ser ouvido?
E como é que depois se sabe quem foi escutado, se a escuta é confidencial e tem de ser autorizada por um juiz? Será assim tão difícil saber quem "divulgou" as escutas ou será que estas foram feitas para serem divulgadas?
Parece estranho mas diria que ser escutado é já, hoje, em Portugal, um simbolo de estatuto social. E aqueles que não são objecto dessa enorme manifestação de importância, têm o direito de se sentirem discriminados.
Sugiro, assim, que se crie o MNE, Movimento Nacional de Escutas, que reivindique e garanta o direito fundamental a ser escutado.

HSC  

sábado, 20 de outubro de 2012

Mais uma perda


«No quarto ao lado alguém / a noite passada morreu, / provavelmente eu. / Os livros, as flores / da mesa de cabeceira / conhecerão estas últimas coisas / em algum sítio da minha alma?»

Manuel António Pina, o homem que ganhou o Prémio Camões, morreu hoje aos 68 anos. Licenciado em Direito, a via que escolheu foi a da escrita na versão múltipla do jornalismo e da autoria literária, na poesia e na prosa, ambas magníficas.
A sua obra, vasta, está traduzida em várias línguas. Tomei contacto com este homem bom, relativamente tarde e lamento profundamente a sua morte.
O ano de 2012 continua a ser marcado pelo desaparecimento de gente que nos faz muita falta. Até nisso, o país tem sido muito penalizado!

HSC

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A nova moda


Por mais estranho que pareça instalou-se na política portuguesa uma nova paranóia, que é a de substituir as "conversas em família", do tempo da outra senhora, por recados no Facebook  E o vírus atacou tanto a direita como a esquerda e, pior, até os mais altos dignitários da nação.
Com efeito quer o Presidente da República quer o Primeiro Ministro falam ao país através daquela rede social, o que me causa alguma perturbação, porque não entendo a razão que está na base de tal opção.
Eu já tive uma conta no Face, onde só ia anunciar a saída de um novo livro meu. Um dia decidi passear por várias páginas e o que vi levou-me a tomar a decisão de encerrar a minha. Mas eu não sou ninguém nesta terra.
Já o mesmo se não pode dizer de pessoas que ocupam altos cargos aqui no burgo. Parece-me completamente inadequado o uso oficial que se está a fazer de uma ferramenta de cariz tipicamente privado.
Não sei se nas "estranjas" acontece o mesmo, mas duvido que Hollande, Merkel ou Monti se dediquem a tal exercício...

HSC

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Jarreau, Hendricks, Elling & Metropole Orchestra - Going to Chicago - NS...

                    
E agora esta peça fabulosa só para quem gosta muito de jazz como é o meu caso...
Para quem não gosta... tente, ao menos, ouvir até ao fim. Terá uma surpresa!

Aviso: Escreve-me um amigo a dizer que cada vez que entra no meu blogue é informado que tem uma ameaça. Como uso o iMac não tenho problemas virais. Pode acontecer que seja dos vídeos. Se alguém tiver este problema, diga-me por favor
 HSC