sábado, 1 de dezembro de 2012

Para meditar...


Debate Orçamento do Estado

António Bagão Félix

Aprovado o OE 2013, Portugal arrisca-se a entrar no "Guinness Fiscal" por força de um muito provavelmente caso único no planeta: a partir de um certo valor (1350 euros mensais), os pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da CRP], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP].

Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 € de impostos do que se a trabalhar com igual salário (já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionista viu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!).

Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada "contribuição extraordinária de solidariedade" (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Públicas e privadas. Obrigatórias ou resultantes de poupanças voluntárias. De base contributiva ou não, tratando-se por igual as que resultam de muitos e longos descontos e as que, sem esse esforço contributivo, advêm de bónus ou remunerações indirectas e diferidas.

Nas pensões, o Governo resolveu que tudo o que mexe leva! Indiscriminadamente. Mesmo - como é o caso - que não esteja previsto no memorando da troika.

Esta obsessão pelos reformados assume, nalguns casos, situações grotescas, para não lhes chamar outra coisa. Por exemplo, há poucos anos, a Segurança Social disponibilizou a oferta dos chamados "certificados de reforma" que dão origem a pensões complementares públicas para quem livremente tenha optado por descontar mais 2% ou 4% do seu salário. Com a CES, o Governo decide fazer incidir mais impostos sobre esta poupança do que sobre outra qualquer opção de aforro que as pessoas pudessem fazer com o mesmo valor… Ou seja, o Estado incentiva a procura de um regime público de capitalização (sublinho, público) e logo a seguir dá-lhe o golpe mortal. Noutros casos, trata-se - não há outra maneira de o dizer - de um desvio de fundos através de uma lei: refiro-me às prestações que resultam de planos de pensões contributivos em que já estão actuarialmente assegurados os activos que caucionam as responsabilidades com os beneficiários. Neste caso, o que se está a tributar é um valor que já pertence ao beneficiário, embora este o esteja a receber diferidamente ao longo da sua vida restante. Ora, o que vai acontecer é o desplante legal de parte desses valores serem transferidos (desviados), através da dita CES, para a Caixa Geral de Aposentações ou para o Instituto de Gestão Financeira da S. Social! O curioso é que, nos planos de pensões com a opção pelo pagamento da totalidade do montante capitalizado em vez de uma renda ou pensão ao longo do tempo, quem resolveu confiar recebendo prudente e mensalmente o valor a que tem direito verá a sua escolha ser penalizada. Um castigo acrescido para quem poupa.

Haverá casos em que a soma de todos os tributos numa cascata sem decoro (IRS com novos escalões, sobretaxa de 3,5%, taxa adicional de solidariedade de 2,5% em IRS, contribuição extraordinária de solidariedade (CES), suspensão de 9/10 de um dos subsídios que começa gradualmente por ser aplicado a partir de 600 euros de pensão mensal!) poderá representar uma taxa marginal de impostos de cerca de 80%! Um cataclismo tributário que só atinge reformados e não rendimentos de trabalho, de capital ou de outra qualquer natureza! Sendo confiscatório, é também claramente inconstitucional.

Aliás, a própria CES não é uma contribuição. É pura e simplesmente um imposto. Chamarlhe contribuição é um ardil mentiroso. Uma contribuição ou taxa pressupõe uma contrapartida, tem uma natureza sinalagmática ou comutativa. Por isso, está ferida de uma outra inconstitucionalidade.

É que o já citado art.º 104.º da CRP diz que o imposto sobre o rendimento pessoal é único. Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os media, não têm lobbies organizados.

Pela mesma lógica, quando se fala em redução da despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado social (como se tudo o resto fosse auto-sustentável…). Porque, afinal, os seus beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes… os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações.

E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso com quem não se pode defender.

Foi lamentável que os deputados da maioria (na qual votei) tenham deixado passar normas fiscais deste jaez mais próprias de um socialismo fiscal absoluto e produto de obsessão fundamentalista, insensibilidade, descontextualização social e estrita visão de curto prazo do ministro das Finanças. E pena é que também o ministro da Segurança Social não tenha dito uma palavra sobre tudo isto, permitindo a consagração de uma medida que prejudica seriamente uma visão estratégica para o futuro da Segurança Social. Quem vai a partir de agora acreditar na bondade de regimes complementares ou da introdução do "plafonamento", depois de ter sido ferida de morte a confiança como sua base indissociável? Confiança que agora é violada grosseiramente por ditames fiscais aos ziguezagues sem consistência, alterando pelo abuso do poder as regras de jogo e defraudando irreversivelmente expectativas legitimamente construídas com esforço e renúncia ao consumo.

Depois da abortada tentativa de destruir o contributivismo com o aumento da TSU em 7%, eis nova tentativa de o fazer por via desta nova avalanche fiscal. E logo agora, num tempo em que o Governo diz querer "refundar" o Estado Social, certamente pensando (?) numa cultura previdencial de partilha de riscos que complemente a protecção pública. Não há rumo, tudo é medido pela única bitola de mais e mais impostos de um Estado insaciável.

Há ainda outro efeito colateral que não pode ser ignorado, antes deve ser prevenido: é que foram oferecidos poderosos argumentos para "legitimar" a evasão contributiva no financiamento das pensões. "Afinal, contribuir para quê?", dirão os mais afoitos e atentos.

Este é mais um resultado de uma política de receitas "custe o que custar" e não de uma política fiscal com pés e cabeça. Um abuso de poder sobre pessoas quase tratadas como párias e que, na sua larga maioria, já não têm qualquer possibilidade de reverter a situação. Uma vergonha imprópria de um Estado de Direito. Um grosseiro conjunto de inconstitucionalidades que pode e deve ser endereçado ao Tribunal Constitucional. PS1: Com a antecipação em "cima da hora" da passagem da idade de aposentação dos 64 para os 65 anos na função pública já em 2013 (até agora prevista para 2014), o Governo evidencia uma enorme falta de respeito pela vida das pessoas. Basta imaginar alguém que completa 64 anos em Janeiro do próximo ano e que preparou a sua vida pessoal e familiar para se aposentar nessa altura.

No dia 31 de Dezembro, o Estado, através do OE, vai dizer-lhe que, afinal, não pode aposentar-se. Ou melhor, em alguns casos até poderá fazê-lo, só que com penalização, que é, de facto, o que cinicamente se pretende com a alteração da lei. Uma esperteza que fica mal a um Governo que se quer dar ao respeito.

PS2: Noutro ponto, não posso deixar de relevar uma anedota fiscal para 2013: uma larga maioria das famílias da classe média tornadas fiscalmente ricas pelos novos escalões do IRS não poderá deduzir um cêntimo que seja de despesas com saúde (que não escolhem, evidentemente).

Mas, por estimada consideração fiscal, poderão deduzir uns míseros euros pelo IVA relativo à saúde… dos seus automóveis pago às oficinas e à saúde… capilar nos cabeleireiros. É comovente… Economista, ex-ministro das Finanças

A propósito de liberdade e a pedido de muitos, aqui fica o contributo enorme do Prof. Bagão Felix sobre o "primoroso Orçamento de Estado" para 2013. 
Ouso perguntar: Senhor Presidente da República, vai Vossa Excelência ficar indiferente a este esbulho?

HSC


25 comentários:

Maria Filomena disse...

Cara senhora,

é de se perguntar:
Até quando isso continuará a acontecer??? Só há um nome para isso,mas não me atrevo a dizê-lo, pois ainda poderiam entrar com uma ação penal e outra civil contra mim, se a verbalizasse .....

concordo com a senhora quando ousa perguntar ao PR se vai ficar indiferente ao esbulho que se está a perpetrar....

abraços de MF


Maria disse...

Sua Excelência, o nosso Presidente da Republica, vai continuar indiferente a este esbulho, como têm ficado em relação a outros. Que bom seria o contrário. Nem ele nos devolve a esperança.
Cptos
Carmen

Anónimo disse...

Drª Helena Sacadura Cabral,
Permita-me que a congratule por este Post. É um Post muito corajoso, para os tempos que correm.
As palavras que aqui transcreve do Prof. Bagão Felix (B.F) – uma pessoa por quem nutro muito respeito (um dos mais lúcidos politicos que ultimamente se têm pronunciado sobre a injustiça social que se abateu sobre o país e os contribuintes, reformados, pensionistas e trabalhadores). Bagão Felix é a prova de que não é preciso ser-se de Esquerda para denunciar a falta de humanidade deste Governo (um designação relevante que só a ouvi a Bagão Felix).
O que aqui, neste excelente – e muito útil – Post é dito merece ser reflectido.
Temos, actualmente, um Estado insaciável, como bem refere B.F.
Que não olha a meios para obter receita e a quem falta sequer o menor dos mínimos de pudor e consideração social e de equidade quando se decide a tributar as classes sociais mais desfavorecidas e a classe média, sem apelo nem agravo.
É aviltante quando ataca pensionistas da forma como o faz e aqui é posto em causa, por Bagão Felix. Como se esses mesmos pensinistas fossem material descartável!
O que se está a passar é uma selvagaria politico-social-fiscal.
Resta saber o em Belém se pensa disto tudo. Bem como destas lúcidas e oportunas palavras do Prof. Bagão Felix.
P.Rufino

Anónimo disse...

Isto é tudo muito bonito...Um português vai ao banco pedir crédito para casa, carro, férias, frigorífico, esquentador, plasma, etc. etc. etc. , passados meses de incumprimento o banco faz uma penhora e o cliente fica sem dinheiro para comer...O banco passa a lobo mau e o cliente a vítima. Vamos lá acabar com este argumento falacioso. Vivemos ou não vivemos acima das possibilidades estes anos todos? Não destruímos o aparelho produtivo industrial no delírio febril do Prec? Não destruímos o sector agrícola e pesqueiro no delírio febril da entrada na União europeia? Não sabíamos que um dia íamos pagar a factura? Então, qual é a admiração?? Vamos despedir 100 mil funcionários públicos? Não pode ser porque +e desumano. Deixamos de pagar as PPP's? Não pode ser porque quem financiou as PPP's é quem nos está a financiar através do FMI. Então, muito natualmente, vamos ter que cortar a todos para chegar para todos...O que me admira são duas coisas: Ninguém se lembrar de que foi sócrates (propositadamente em minúsculas) que nos conduziu à bancarrota e o facto de ser um senhor (Bagão Félix) que se enganou em cerca de metade do preço do barril de petróleo quando foi ministro, que venha agora fazer exercícios de demagogia. Meus senhores, o país está falido e o governo tem que fazer aquilo que deve ser feito: Reduzir a despesa abruptamente, sanear as contas e recuperar a confiança do mercado para voltar aos leilões da dívida. Também muito me admira a Drª Helena Sacadura Cabral, técnica reputada do Banco de Portugal cavalgar a onda do protesto e do queixume rasteiro. É ou não é verdade que quando um cliente entre nas listas de cliente de risco do Banco de Portugal os bancos têm que lhe cortar os cheques, reduzir as facilidades de crédito e classificar o cliente?? O mesmo se passa com o país... somos um cliente de risco...Portanto vamos lá ter um bocadinho de ponderação. Que ninguém se iluda: O próximo governo, seja laranja, rosa ou amarelo... vai ter que seguir a mesma política... E já agora, como a Drª Helena Sacadura bem deve saber, Portugal não vai escapar ao segundo resgate já em 2013....e aí preparem-se porque o choque fiscal vai ser, ainda, maior...

Anónimo disse...

Cara Dra. Helena Sacadura Cabral,
A esta hora que estou com uma insónia que já começa a ser costumeira,fará parte da idade mas também, do negro futuro que me assusta, fui ao facebook, e um dos meus amigos militante do CDS, muito zangado, como eu, com o CDS, pela votação no OE e nos refúgios de consciência que foram as declarações de voto,inócuas e teatrais, publicou, com grande elogio à sua pessoa a entrevista que deu à RTP, a propósito do seu último livro, "Nove Magníficos". Lembro-me que fixei o dia e a hora da apresentação do livro no Corte Inglês, pretendia ir, mas não consegui sair a tempo. Eu própria, trabalho numa Editora, com a filha como patronato, e esta altura do ano é a aposta para o ano inteiro. Portanto, só hoje, já Domingo e de madrugada, vejo a entrevista. Adorei, ri, chorei, senti tanto. A senhora, é quem é, uma das minhas magníficas. E a jornalista da RTP,de quem gosto e acho bonita e inteligente,esteve, muito bem, noa maneira como se deve entrevistar e sentir a Helena Sacadura Cabral. Gostei muito. Muita sorte para 2013, e também eu, vou trabalhar "menos" em 2013. E muito obrigada por não querer ofender os "autistas", comparando-os ao 1º do Governo, Gaspar, e ao seu fantoche, o 2º, Passos Coelho, porque eu tenho um neto, o mais novo, que é autista, mas uma criança, além de linda, que nos surpreende a todos, todos os dias, pelas coisas boas que realiza. E continuo a sentir a falta do Miguel e das suas entrevistas, às Sextas no Parlamento Europeu, que ele me mandava para o FB. Um grande abraço.
Teresa Botelho Moniz

Anónimo disse...

Meditar sobre o Orçamento de Estado???? É melhor não ou ainda fico com os chackras (centros de energia segundo a filosofia Reiki) desalinhados.

patricio branco disse...

arrepiante! a explicação do voraz e abutreano assalto feito às pensões com requintes de imaginação e truques administrativos está bem explicada por b f: "os seus beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes… os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações...os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os media, não têm lobbies organizados." etc.
isto leva efectivamente à questão de como pode um reformado fazer para ter voz reclamatória?
quanto a partidos, o cds deixou de os defender por disciplina coligacional, o ps e os outros falam retorica e nas centrais sindicais nada está previsto na pratica para defesa dos direitos dos reformados, talvez seja altura de elas pensarem nisso, criar uma formula que os abranja, os sindicalizados quando se reformam podem continuar a descontar para os sindicatos ou não?
arrepiante, de facto, pode-se falar em cobardia o escolher a classe como alvo mas que há grande inconstitucionalidade já não há duvidas.

Fatyly disse...

Claro que irá ficar não fosse da mesma cor política e já com um enorme desgaste.

Bom domingo

Anónimo disse...

Estimada Helena

António Bagão Félix diz tudo.
E a sua pergunta é pertinente.
Não acredito, porém, que o PR mexa uma palha.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Esqueci-me de lhe dizer que 'roubarei' este seu 'post' para colocar no meu blogue.
Obrigado.

Helena Sacadura Cabral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Anónimo da 01:57
Julgo que não será reformado e julgo que será filiado num dos partidos da coligação.
Os seus comentários equivalem a dizer que não há caminhos alternativos. Há.
Aprendi isso em 18 anos de Banco de Portugal.
Se este é um deles? É. Mas há outros, que penalizam menos e, sobretudo, promovem o desenvolvimento económico, o que este não faz.
Havia ainda muito por onde cortar, se houvesse coragem. Mas não há.
E se o caro comentador for economista e, sobretudo, não tiver filiação partidária, percebe porque é que a maioria dos economistas está contra este modelo.
Vai haver outro resgate? Vai. Já no tempo de Mario Soares houve dois.
Há quem na Europa esteja a fazer o seu caminho? Há. Basta olhar para a Itália.
E a França e a Espanha serão, infelizmente, os países que se seguem, embora andem a tentar disfarçar!

Anónimo disse...

O anónimo das 01.57 esqueceu-se de um outro relevante aspecto. De que a Banca, a tal de que fala, está falida e como tal teve de ser resgatada. Quem paga o resgate? O Governo, ou melhor, nós contribuintes. Financia-se como, a quanto, essa mesma Banca? A 1%. E nós, Governo, contribuintes? A 4%, ou 5%.
Esta sua coligação governamental, não só não cortou ainda onde há muito a cortar, como ataca sem piedade quem menos tem, poupando quem mais possui. Por exemplo, porque não taxar os prémios dos grandes accionistas da PT, EDP, Galp. etc, para além dos da própria Banca?
O caro anónimo vê as coisa com olho vesgo. Aconselho-o a ir a um oftalmologista.
O Post que aqui está publicado pela sua autora é um grande Post. E aqui não se desculpa quem não tem desculpa, como o tal “socratres” em minuscúlas.
Mas também não se desculpa o indesculpável. Este Governo selvagem
Um bom Domingo!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá, Helena, bom dia,

Corajoso o seu post e a revelar, uma vez mais, o seu grande coração independente.

Concordo consigo.

Que a gestão de um país tem que ser conduzida com frugalidade e com atenção às contas, disso ninguém duvida.

Mas que não pode ser vista numa perspectiva contabilística (cingindo-se ao exercício corrente) isso é daquelas coisas que tem que ser afirmada, repetida, assimilada.

Gerir um país passa por perceber e influenciar a demografia. Só o facto desse aspecto estar a ser tão ignorado já revela a ignorância de quem nos governa. Sem uma inversão das tendências o sistema não resiste, seja de que forma for. Tem que haver muitos mais novos contribuintes para sustentar um número crescente de beneficiários.

E esta inversão não pode vir só de novos contribuintes (passarmos a ter muitos jovens a trabalhar e não a emigrar, mais imigrantes, etc) mas, também, deve resultar de se estancar o número crescente de beneficiários desempregados.

Poderá dizer-se que não há trabalho e é um facto. Todas as medidas estão a levar à paralisação da economia. O que há que fazer é acender a economia. O que não falta é dinheiro. Basta atraí-lo. E o que não falta são fundos comunitários não aproveitados. E há ainda o dinheiro do consumo interno, que circulará se não for extorquido aos trabalhadores e pensionistas.

Só uma visão miserabilista, tacanha, ignorante, é que pode achar que o caminho que está a ser seguido pode levar ao progresso. Até assusta pensar que estamos a ser governados por gente assim.

Um abraço, Helena, e tenha, apesar de tudo, um belo domingo.

Maria Júlia Sobrinho disse...

Dra. Helena: Obrigada pelo seu post.
Se isto não fosse tão sério, refugiava-me nos títulos de filmes que foram e estão a ser exibidos: Um deles "Este País não é para velhos", está bem actual nos "roubos" que nos têm feito: os do ordenado, os da tranquilidade e a certeza de que teremos de "pagar" para os filhos trabalharem. Já me está a acontecer com uma filha que tem sido precária durante 9 anos, porque se atreveu a tirar um curso considerado de luxo; o filho, ajudou-me, quando cumpriu a vontade do primeiro ministro, com uma bagagem de engenharia da U.Aveiro, várias deslocações em trabalho ao estrangeiro, até que aceitou boas condições de trabalho na Alemanha. Já é menos um a preocupar este país.
Agora estão a conseguir tirar a chama que se apodera de nós no Natal, resultado de lembranças de infância e alguma publicidade, o certo é que estamos mais tristes com o que virá em 2013 que só pode ser outro filme "Mata-os suavemente" com Brad Pitt.
Pergunto.Mas ainda tenho dúvidas? Vou contribuir para ajudar este País e dinamizar os meus amigos nesse sentido: não votar, poupo ao Estado 14,40 euros, que é o correspondente ao valor de cada voto, seja nulo ou branco, não assisto à partilha de cargos, à guerra de super auto estima que cada partido tem, de que sozinho faz alguma coisa, em vez de se unirem, mas cada um quer ser "capataz" da sua quinta. Ao que eu cheguei: sempre a obrigar os filhos a irem votar e a dar-lhes lições de História.
E venha outro realizador fazer um filme com o título "Este País não é para novos"!
Quem fica?
Abraço júlia sobrinho

Hélia Cruz disse...

Cara Helena,
Subscrevo na totalidade tudo o que foi escrito no post, bem como todos os seus esclarecimentos sobre esta temática.
Muito obrigada pelo serviço público que presta todos os dias neste blog.
Sempre com amizade.

Anónimo disse...

Sobre esta questão do confisco (termo polido...) das pensões dos reformados já muito foi dito, com razão, sendo difícil ser original. Mas é bom que se saiba, que o Governo da AD, empossado em Janeiro de 1980, cujo PM foi Francisco Sá Carneiro, aprovou um diploma, no Conselho de Ministros de 30 de Julho de 1980, publicado como Decreto-Lei nº. 496/80, de 20 de Outubro, cujo Artº. 17º. dispõe: "Os subsídios de Natal e de férias são inalienáveis e impenhoráveis". Também sabemos que as contribuições para a Segurança Social incidem sobre a totalidade das remunerações (23,75% + 11%, patrões e empregados, respectivamente). Como não é tecnicamente um imposto, tal montante não deveria ser usado como receita ordinária do OE. O Governo é um "gestor" do dinheiro dos contribuintes para a Segurança Social. Portanto, se houve gestão danosa ou incompetente, terá sentido terem de ser os beneficiários da Segurança Social a suportarem os erros do gestor? Brilhante o artigo de opinião do Dr. Bagão Félix no PÚBLICO de 28 de Novembro passado! As inconstitucionalidades parecem ser mais do que evidentes, são gritantes. Mas penso que é uma esperança vã imaginar que alguém as vá suscitar em tempo útil. Quando muito, será como no ano passado. Após uma longa caminhada burocrática, o douto Tribunal Constitucional, lá mais o Verão, deliberará que, de facto, tudo isto é inconstitucional, mas o que está feito, feito está, não tem remédio e para o ano terão de fazer a malandrice de outra maneira. Até lá, faz de conta que é constitucional! Como diria alguém, com graça, aqui há uns anos, sobre outra matéria: "Mas, se se praticar esse acto, isso é ilegal? É! E se se praticar mesmo, o que é que acontece? Nada!...
Enfim, assim vamos andando… resta saber para onde!
José Honorato Ferreira

Anónimo disse...

Ai fica, fica. E se não fica indiferente manda recado no facebook. Se eu não tivesse 50 anos ia-me embora, procurava um país onde não me sentisse explorada pelo Estado.
~inês

Anónimo disse...

este oe 2013 é um insulto à classe trabalhadora ou reformada (tendo trabalhado por conta de outrem).
recebo uma reforma ou pensão (ainda não entendi a diferença) de 660€s e o subsídio de natal veio com menos 200€s...
mas de tudo isto o que preocupa é a economia deste país ir por água a baixo uma vez que o poder de compra é nulo, o desemprego irá aumentar e ... a pobreza aumenta por consequência!
quando virão os alemães tomar mesmo conta do estado?...
um forte abraço,
lb/zia

Anónimo disse...

Como gostava de ter o Dr. Bagão Félix de volta ao governo da nação, na pasta que devia ter sido a sua de início.

E por aqui me fico, porque pouco mais há a dizer.

Nuno 371111

Teresa Peralta disse...


Subscrevo também este post e agradeço o serviço que nos presta com seu blog.
Serve o mesmo para concluir que todos os pensionistas de classe média, depois de pagarem os seus impostos, rendas, despesas de saúde e alimentação, etc., ficam ainda mais pobres, do que aqueles que já estavam, por natureza, no limiar da pobreza.
Triste!! Muito triste....
Um grande abraço e muito obrigada pela triste constatação que nos afecta a todos, de uma maneira, ou de outra...

Anónimo disse...

Muito bom post, de encontro ao que disse na entrevista de sexta-feira (creio não estar enganada na data). Só vi a entrevista hoje, mas tinha ouvido que era a convidade e programei a gravação. É sempre um prazer ouvi-la e sempre me comovo com as suas palavras. Os filhos são relmente um empréstimo de Deus. Uma grande mulher!! Pelo que dá a entender não concorda com a maior parte deste OE2013, mas não descura o seu papel de mãe. O dr. Paulo Portas tem muita sorte em tê-la como mãe...
Um bem haja de uma desconhecida que muito a admira, a partir desta maravilhosa cidade que é Aveiro! :)
Ana Gonçalves

Amarilia disse...

Como não existem Deuses no governo para estarem loucos temos que admitir que precisam da ajuda de Deus para os eluminar...o presidente!...já nem de finanças ele sabe,lamento que ainda falte tanto tempo para o ter em Belém...

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Mais uma vez, o que não me surpreende de todo, a Helena pôs o dedo na ferida. No OE para 2013 penalizam-se aqueles que são os mais fracos e que, por isso, não têm poder algum de mobilização, manifestações, etc. É vergonhoso! O Governo revela uma grande cobardia e o Primeiro Ministro mostra uma vontade inabalável de fazer triunfar um neo-liberalismo feroz (que, aliás, já mostra os sinais da sua decadência no Reino Unido), mas o PM é, sobretudo, cego. Facto duplamente preocupante porque esta cegueira é um tipo de fanatismo igual ao de todas as ditaduras férreas.

Raúl.

Unknown disse...

Simplesmente brutal o seu post.
Obrigada.
Lamentavelmenete não irá obter resposta à sua pergunta!!! "O silêncio é de ouro...."
Como o Drº Bagão Félix também fiquei arreliada com o desfecho da votação do OE 2013. Tinha esperança no meu voto (que não foi de todo ingênuo, pensava eu na altura) mas foi-se a esperança....
Quanto ao PR nunca tive, porque faço parte da sua "geração rasca" que se encontra "à rasca".
No entanto tenho um plano B a ser preparado e aqui fica:
-" Caso no final de 2013 o meu agregado familiar fique mais pobre porque até lá ninguém teve coragem de dar um murro na mesa, na direção do não empobrecimento, vamos emigrar, já está a ser planeado, vão dois quadro qualificados para fora do país com filho menor."
Um abraço