sábado, 24 de novembro de 2012

Liberdade

"Anoitece no porto de Amesterdão.
Eu nunca sei ao certo onde fui feliz,
mas sei onde me sinto livre:
nas cidades onde não tenho história,
onde nada de mim deixei,
onde uma rua é apenas uma rua e não um encontro antigo,
onde nenhum rosto passado vejo surgir em qualquer lugar,
à mesa do restaurante onde nos juntávamos,
à esquina em que nos vimos sorrir ao mesmo tempo,
no quarto pequeno ao fundo do apartamento amigo,
em todos os assaltos da memória ao coração.

Somos livres onde não temos história,
o coração atento nada lembra:
mas tu junto de mim sorris e dizes-me
onde comprámos flores à beira do canal."


Este lindíssimo pedaço de alma foi roubado do blogue timtimnotibet.blogspot.com, cujo autor é Luis Filipe Castro Mendes, um dos nossos poetas vivos que mais aprecio.

Mas não estou de acordo com ele, quando diz que somos livres onde não temos história. A minha liberdade está profundamente ligada à minha história pessoal, às pessoas que amei, aos lugares por onde passei, às lágrimas que chorei, às alegrias que partilhei.
Sou livre porque a minha história e a minha memória existem, contam quem fui, quem sou e quem posso ainda vir a ser. É este percurso que marca uma certa liberdade - a minha -, aquela que eu tive a coragem, ou o medo, de agarrar.
E até penso que a maior limitação à liberdade individual é o amor! 

HSC

15 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com a senhora. É bom passarmos e passearmos por onde fomos felizes

Afrodite disse...

Eu diria antes que a maior limitação à liberdade individual são os nossos valores e as nossas convicções.

(^^)

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Afrodite
Os valores e as convicções só nos limitam se não forem livremente escolhidos.
Ao contrário, o amor não se escolhe, acontece. E é esse, o seu imenso poder!

Maria Antunes disse...

Concordo vivamente com tudo o que diz. O poema é maravilhoso, mas também não concordo com o autor. A minha liberdade sou eu, está na minha cabeça e no meu coração.
Penso também que a maior limitação é o amor em todas as suas vertentes.
Beijo com muita admiração

Isabel Mouzinho disse...

Concordo inteiramente consigo, Helena!
Este seu lindíssimo post trouxe-me até à memória a canção "Ma liberté" de Georges Moustaki, que termina "...et je t'ai trahi pour une prison d'amour..." ;)
Bom fim de semana
Beijinho
Isabel Mouzinho

Teresa Peralta disse...

Não tenho dúvida que "a minha liberdade está profundamente ligada à minha história pessoal"... No entanto, penso que até mesmo o Amor (em qualquer das suas vertentes) personifica a liberdade, porque a mesma, pode ser encarada através das atitudes que tomamos de livre vontade. O Amor pode estimular as nossas atitudes, mas, nunca, condiciona a nossa liberdade de escolha, o livre-arbítrio, nas opções que tomamos, nas escolhas daquilo que desejamos, e que nos parece bem, ou não, motivados, ou não, por agentes exteriores.
É esse o exemplo, aquilo que deixamos, o nosso percurso...
Também gostei imenso deste "pedaço de alma".
Um Abraço de boa noite (tardíssima!!)

Pusinko disse...

Acho que foi para sentir essa liberdade sem história que decidi viver fora de Portugal uns tempos. Primeiro, perto em Amesterdão, e depois na terra onde o muro caiu.

Não conheço o poeta, mas falou à minha alma.
Obrigada por partilhar o poema :)

DNO disse...

Concordo com o poeta, porque para mim as memórias boas ou más são sempre motivo de sofrimento...
D.

Hélia Cruz disse...

Cara Helena,
Eu adoro História,e gosto de visitar todos os lugares em que tive recordações boas ou menos boas
Não conhecia este poeta, mas estou inteiramente de acordo quando refere que o amor pode ser uma limitação á liberdade individual. No entanto se fosse possível amar com alguma independência quando dela necessitássemos, isso seria a relação ideal que peca por ser utópica.
Sempre com amizade.

Anónimo disse...

Bom dia D. Helena,

No caso da minha experiência, não faz muito tempo que cheguei à conclusão que a maior limitação à minha liberdade individual é o amor que sinto pelos meus, pelos amigos e pela aceitação que tenho pelas pessoas em geral mesmo que estas me irritem profundamente!

Sonhos e "ganas" de fazer apenas o que me apetece tenho muitos, mas concretizá-los ...

O interessante é que desde que percebi esta minha faceta, acalmei, acalmei bastante e deixei de ter tantas crises de vazio e de sufocação ... é aquilo que eu sou e aquilo que acabo por valorizar, correcto talvez não esteja, mas é a minha natureza, embora eu seja a primeira a torcer o nariz quando algo não me agrada e inclusive tenha o "não" sempre pronto a proferir, o que é certo é que, no final, sou eu que lá fico a aguentar as pontas e a unir o que não se deveria ter separado.

Um dia, penso sempre, haverei de pensar só em mim …

Cumprimentos,
Cláudia

Anónimo disse...

"a maior limitação à liberdade individual é o amor!"

Aproprio-me deste "pensamento" e a partir de hoje faço-o também meu.

Nuno 371111

Anónimo disse...

Liberdade sem amor é...escravidão.

'Meu coração é um animal que se libertou e agora é escravo da liberdade com que tanto sonhou' diz uma canção brasileira.

NECESSIDADE DE TER CONTROLO É ESCRAVIDÃO. Está nos antípodas de liberdade.

A liberdade está relacionada não com o controlo mas com o auto-conhecimento e a libertação.
Penso que devemos falar em libertação e não em liberdade, porque é um processo.
Fazer tudo o que se quer não é sinónimo de liberdade. Pode ser 'drogar-se'.


Ser livre á autoconhecer-se e aceitar-se, sobretudo estar em contacto consigo mesmo, reconhecer as suas emoções, sentimentos, ideias e pensamentos. O que é muito mais difícil do que parece.

Geralmente quando se pergunta a alguém o que gostaria, responde 'gostaria de ser feliz' e não de ser livre. Pergunto-me porquê.

Ambos os temas- felicidade e liberdade- são muito complexos e estão hoje muito banalizados.
O tema felicidade, mais ainda.
Ser feliz é tb um processo, um empenhamento, um objectivo.
MM

Landa disse...

Helena

Permita-me tratá-la assim; primeiro, porque sou uma grande admiradora sua e, depois, porque sou muito mais velha e a velhice (ou idade avançada)traz-nos alguns privilégios.
Não costumo comentar os seus artigos mas desta vez não resisti.

Não me parece que o poeta contradiga a opinião que o amor é uma limitação à liberdade individual.
Antes pelo contrário, neste lindíssimo poema de amor julgo que Castro Mendes exprime precisamente esse sentimento ao dizer que as suas recordações (neste caso de amor) o agarram a um passado que viveu e o prendem a momentos de que não se consegue libertar.

Espero que não tenha ficado aborrecida com a minha intromissão

Anónimo disse...

A maior limitação à liberdade individual somos nós mesmos, porque interiorizamos uma espécie de auto-repressão e de censura.

Só assim se compreende que sigamos determinados caminhos, ainda por cima, repetidamente.

Mas quando fala do amor como a maior limitação à liberdade individual não quer dizer casamento?
E parece referir-se não a liberdade mas a independência.

Mª João

nadia disse...

Penso que, só o Pensamento é totalmente livre...a Razão e o Coração, têm sempre algumas grilhetas...

Grata pela partilha.