quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A amizade

As amizades nascem não se sabe como. Um encontro, uma apresentação, uma palestra, um livro que se lê, uma mesma maneira de pensar, enfim, um mundo de hipóteses.
E revestem as formas mais diversas: coloridas, fraternas,  intimas, cerimoniosas, ideológicas, laborais, cúmplices, virtuais, velhas, recentes, duvidosas, interesseiras, obsessivas.
Ao longo da minha vida os amigos foram tomando formas muito diferentes. A maior parte deles começou de uma forma casual. Depois a relação foi-se desenvolvendo e evoluindo ao sabor das características próprias de cada um. 
Tenho mais amizades nos homens do que nas mulheres. E, por norma, pertencem a grupos etários abaixo do meu.
Entre as primeiras, as masculinos, tenho três grandes categorias onde todos eles se agregam: os do coração, os da razão e os que resultam de uma mistura de tudo isto.
Confesso que dou primazia aos últimos. Porque são uma espécie colorida que não tem cariz definido. Umas vezes comanda o coração, outras a razão, outras ainda, algo que se assemelha a sentimento difuso, a um amor que podia ter sido e jamais foi.
No coração estão os amigos de infância, aqueles que me conhecem como ninguém  Na razão estão os que pensam como eu e o seu oposto, os que dão luta e obrigam a pensar, mas também os que são cúmplices e estão ali para o que der e vier.
Na última categoria estão aqueles que sempre me surpreendem, que me amam e me detestam, que me entendem ou me criticam, que me apoiam ou me provocam. Enfim, que me seduzem. E, maravilha das maravilhas, com quem posso estar em silêncio!
As amizades femininas descobri-as bastante tarde. Numa época em que a concorrência já não existe, ou pelo menos não tem grande significado. Talvez por isso, a solidez seja a primeira das qualidades que nelas encontro. E uma liberdade que, apesar de tudo, é arriscado ter com um homem, por mais irmão que o consideremos...
Foi, aliás, uma bela surpresa, porque existe uma cumplicidade de género que dispensa grandes explicações e permite a partilha sem entrar em pormenores. 

HSC 


17 comentários:

Anónimo disse...

Com efeito Drª Helena, não há nada melhor do que bons amigos.
Os que nos conhecem ainda melhor do que nós mesmos mas é tão complicado encontrar bons amigos... talvez por isso sejam tão importantes e preciosos.

Na verdade, nada me retempera mais do que a amizade, uma espécie de amor muito, muito particular.

Da minha lista de conhecidos, posso contar pelos dedos de uma mão os amigos e talvez ainda sobrem dedos! Ora... um...dois...três--- é isso tenho três amigos que são referências para mim, claro dou-me bem com muito mais gente mas amigos são só esses três que valem para aí, contas feitas por baixo, por 300.
São poucos, mas são muito bons amigos. Sei que posso contar sempre com eles e nos momentos menos bons basta um telefonema para me sentir melhor.
O mais curioso é que de cada um retiro aprendizagens diferentes e cada um tem o seu modo próprio pelo qual me cativou. Quase como a rosa de "O Principezinho" que era inconfundível ainda que tivesse no meio de cem mil outras rosas.
Um, cativou-me pelo olhar... outro pela inteligência com que aborda os temas em discussão ou até conversas sem tema nenhum, corriqueiras, quotidianas... o terceiro, faz a diferença com o sorriso espontâneo e sincero, pela sua simplicidade e humildade: pela nobreza com que rege a sua vida e pela serenidade com que aceita o que a vida lhe traz. Com este último é menos frequente encontrar-me e, às vezes, até fica um pouco esquecido mas estamos sempre disponíveis uma para a outra.

Ao contrário da senhora (os seus são na maioria mais novos), todos os casos que descrevi acima já passaram a faixa etária dos 60 mas agradeço a Deus, todos os dias por estas amizades.

O mais curioso é que na minha lista de amigos do facebook não conta nenhum destes três e mesmo lá sou muito seletiva.

Ai, ai sociedade da tecnologia: transformaste os meros conhecidos em amigos!
Não, não, dear facebook. Na lista que arrolaste não estão os amigos mas, sim, os conhecidos.

Hélia Cruz disse...

Cara Helena,

Muito obrigada pela forma como definiu a amizade ao longa da vida. Post magnífico.
Sempre com amizade.

Paulo Abreu e Lima disse...

Falta os amigos do corpo. Com razão ou sem coração, ou com coração mas sem razão.

Agora a sério: se me dissessem que eu era amigo da razão, chateava-me...

Anónimo disse...

que lucidez aos saber compartimentar a amizade.
a amizade comigo tem sofrido muitos revezes.
tenho sido um passaro sem poiso muito certo, só nos ultimos 10 anos comecei a fixar-me num sitio físico e, claro as amizades estão espalhadas por varios sitios, quase todos longe tambem fisicamente.
tenho muitos conhecidos, alguns amigos recentes e amigos mesmo tenho pouquinhos, mas são fixes, daqueles que nem é necessário falar!
mas todos são necessários!
um abraço forte,
lb/zia

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Paulo
Pois fazia muito mal, porque a razão é uma amiga preciosa para caldear o coração.
Não fora a razão e quantos amargos de boca não teríamos...
Eu sei que o coração é bem mais apetecível. Mas é-o, porque existe a razão que, afinal, o ensina a valoriza-lo. Ou não?!

Teresa Peralta disse...


Muito bem... Consegui reconhecer todos as hipóteses possíveis. "Um levantamento digno de Mestre", neste caso, de "Mestre e Doutora"!
Uma vida longa, nem sempre é sinónimo de longa sabedoria...No seu caso, vida e sabedoria continuam a par, pois, através da razão, consegue destrinçar e, ainda por cima, verbalizar, aquilo que se passa no "coração".
Muito obrigada pela reflexão.
Um Abraço

Paulo Abreu e Lima disse...

Querida Helena,

É e não é, e passo a explicar:

Catalogar as amizades é tentação perversa, danada de malévola, como contabilizar e quantificar o imobilizado em corpóreo e incorpóreo, em produtivo e não produtivo. Até podemos pensar, dar um arrumo, uma ensaboadela, mas nunca dizê-lo, porque em boa verdade falamos sempre da mesma coisa, de amor. Ora não consta que este se sujeite ao critério arquivista. É Romance!, vai para a prateleira de cima; é Ensaio!, vai para a do meio; é Poesia!, vai para a da esquerda. A imprevisibilidade da natureza da amizade, como a do amor, constitui umas das suas maiores riquezas, porque alimento imprescindível para a sua qualidade e perenidade.

Percebo e concordo com o seu excelente post, mas não consigo etiquetar ou graduar uma bonita amizade, seja ela de que natureza ou grandeza for.

Beijinhos meus.

Fátima Costa disse...

A Amizade é um tema que me encanta por isso quando vi que era o assunto de hoje, não pude deixar de mostrar o meu agrado.


AMIGO
PRECISA-SE COM URGÊNCIA

Exige-se:
Que seja paciente a ouvir e a responder
Que fale correctamente de coragem, esperança e amanhã
Que seja sensível à poesia e a coisas tão simples como o mar.

Oferece-se:
Uma remuneração sui generis: sorrisos q.b. e poemas porque a amizade não tem qualquer preço.
Nota
Não é preciso apresentar curriculum vitae, nem se pede especialização adequada. No entanto, aconselha-se inteira disponibilidade e paciência, pois o desempenho destas funções, assim o exige.

Manuel Tomaz disse...

A Senhora surpreende-me frequentemente. Isto é, quando abro o seu blogue, não faço ideia do que vai aparecer... Hoje, agradável surpresa, belíssimo post!
Comentários não há. A Senhora disse tudo...

Isabel Mouzinho disse...

Gosto do seu post, Helena, gosto sempre, mas na verdade também concordo com o Paulo A. L., no sentido em que os sentimentos escapam às categorias (e quando menos se espera, baralham tudo!...)
Beijinho
Isabel Mouzinho

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro Paulo
Ai é? Então começo por lhe perguntar como me vê.
Depois digo-lhe como o vejo:
1º-encontro acidental via blogosfera;
2º- troca de comentários que nos permitiram caminhar no conhecimento um do outro;
3º - emails seus e respostas minhas;
4º- descoberta de amigos comuns de quem ambos gostamos;
5º- convite para jantar que adiei. Ainda não nos conhecíamos o suficiente;
6º- estima que se foi desenvolvendo na base daquilo que pensávamos sobre o mundo que nos rodeia;
7º- conversas escritas, aleatórias, sobre aquilo de que gostamos ou não;
8º- amizade que, ao fim de meses e embora sem nos vermos, foi tomando forma, preocupação e atenção, de acordo com o que nos ia acontecendo e contando um ao outro. Aqui a amizade estava firmada.
9º- de então para cá, vamos sabendo um do outro sempre que algo de mais importante nos acontece. Pura estima mútua.
Ora então diga lá se não foi possível ir arrumando a amizade nas várias gavetas pelas quais fomos passando?
Um dia, estou certa, daremos um abraço, Que será a expressão da estima que soubemos, a nosso jeito, construir.
Tal como o gostoso abraço que dei à minha querida Maggie, Helena Oneto, Isabel Seixas, Alcipe e um dia espero, ao meu estimado Francisco Seixas da Costa.
Quem diz o contrário, hein? :-))

Paulo Abreu e Lima disse...

Nunca um único smile me magoou tanto, Helena.

Helena Sacadura Cabral disse...

Ó meu querido Paulo, pois a intenção era justamente a contrária: fazê-lo sorrir ternamente comigo, ao ver o belo caminho que uma amizade nascida na blogosfera, par hasard, pode tomar.
Como é que é possível que isso possa te-lo magoado?!

andré maia disse...

Li, há uma boa porção de anos, que «a amizade é um bem demasiado precioso para confiar a um ser humano!...»

Hesitei no acto de concordar, mas, depois, à medida que os caminhos se foram estreitando, concluí que Christian Godard - é ele o autor da frase - sabia bem mais do que eu sobre os labirintos da vida. Sobre as trajectórias dos amigos.

...Valha a verdade que não é muito difícil saber mais do que eu. Não é mesmo!...

Admito, obviamente, que o defeito é bem capaz de ser meu, mas, então, que dizer dos «cento e nove impávidos marotos» de CCB?!...

Maria disse...

Li e reli os s/ posts sobre a amizade e sua catalogação. Li, também, os comentários publicados. De todas as vezes, me senti inibida para dar a minha opinião. Depois de anos de ditadura, em que poucos se atreviam a dizer o que pensavam, passou-se para o oposto, fala-se de tudo, por vezes com uma ligeireza que me assusta, porque nessa ligeireza se percebe quem nos bajula, nos desafia, ou quem se quer aproveitar de nós.
Não sei porque este tema me fez lembrar de um dos nossos ministros, bem apessoado de amigos, em que favores se pagam com favores...
Amigos? são apenas os que estão presentes quando estamos em dificuldades, e esses, são poucos, muito poucos. São também aqueles com quem posso falar de religião, politica e futebol sem nos aborrecermos.
Conhecidos? Ah! conhecidos tenho muitos.
A par do tal ministro, tb. me lembrei de Inês Pedrosa, que há 8/9 anos falava num programa de TV, e referiu um livro como sendo
" Um portentoso tratado sobre a Amizade em forma de romance, uma obra prima. "
Concordei em absoluto e passei a respeitar a palavra Amizade e o sentimento que expressa.

Carmen

Anónimo disse...

São, de facto incríveis, as amizades e os amigos encontram sempre formas de nos surpreender...

Hoje, dia do meu aniversário (e já lá vão 28), recebo o telefonema de um grande amigo que se esquece sempre da data certa (e só dias depois me dá os parabéns -atrasados-) para meu espanto, hoje lembrou-se (a tempo de vida) combinamos um encontro porque tinha um postal para assinalar a data. Tudo bem, lá fui ao encontro, quando lá cheguei em vez de um postal tinha um lido passe-pas-tout com uma linda foto de um por-de-sol fantástico. Dizia ele que aquele sol (o do retrato) iria ilunimar todos os meus dias. Assim o espero, agora está em lugar de destaque, em cima da minha cómoda para que ilumine o eu acordar, mas também as minhas noites...

Anónimo disse...

... e por falar em amizade, ia desejar-lhe boa sorte para logo mas acredito, já, que vai ser um sucesso.

Muitos parabéns por este novo livro.

Um beijinho,
Vânia