sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ao que chegámos...

Há alturas em que vale a pena falar pela boca dos outros, porque a irritação pessoal pode levar-nos a excessos que não devemos ter.

" (...) O Estado está a sacrificar a uma inutilidade pretensamente necessária os últimos resquícios de justiça social e os últimos valores colectivos.
Se um dia recuperarmos de tudo isto, vai ser deste abandalhamento silencioso, entre o tímido e o apático, que mais tempo levaremos a livrar-nos.
Isto já foi longe de mais."

(http://odestinomarcaahora.blogspot.pt/)

 (...) estamos resumidos ao que Deus nos deu. Sol, oliveiras, carapaus e vinhas. É obsceno - mas de uma monumental honestidade - culpar os portugueses de se terem esquecido das pescas, da agricultura e das fábricas que tanto forneciam o mercado interno como exportavam. 

Foi Cavaco, embalado pelas miragens europeias, que levou a esse esquecimento. Foram os transigentes nas pescas e na agricultura, a troco de euros, que pagaram aos pescadores e aos lavradores para não pescarem nem lavrarem. Quando o economista doutorado em York nos incita a virarmo-nos para os nossos recursos naturais, é razão para nos preocuparmos. 
Portugal está a ser devolvido à geografia, ao clima e ao povo. Estamos a ser devolvidos pré-historicamente à nossa sorte. Perdida. Perdemos o nosso futuro."

(Miguel Esteves Cardoso in Publico de 28/11/12)

HSC


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

União de facto presidencial

Os franceses andam preocupados com uma questão doméstica maior. Qual? A de saber que título oficial atribuir à companheira de Hollande. A senhora não gosta de ser apelidada de "première dame" e sugeriu que fosse chamada de " l'atout coeur de France" ou "la première journaliste de France".
Mas serão os juízes que terão de resolver este magno problema de lhe dar um nome e de lhe definir o estatuto. 
Porquê? Porque Valerie terá apresentado uma queixa por "atentado à vida privada" ** contra os autores da sua biografia, intitulada " La Frondeuse" (Editions du Moment), Alix Bouilhaget e Christophe Jakubyszyn, na qual ela se define como jornalista, antes de se apresentar como "la compagne de M. François Hollande, président de la Republique" ou mesmo como "une personnalité publique ou parapublique".
Ora estas duas asserções servem para apoiar a tese de "que existe um interesse em se ter informação tanto sobre a sua vida privada como sobre a sua vida pública, dado que existe um laço entre as duas. Laço que, aliás, se manifesta pelo facto de Valerie possuir um staff, um escritório, e representar a França no exterior". Ora esta situação está longe de se enquadrar na simples jornalista do Paris Match que Trierweiller pretende continuar a ser.
O termo parapublique só existe para as empresas. Assim, a menos que os juízes concordem com a dita expressão, terão de criar uma nova categoria social que dê um estatuto à companheira do chefe de Estado. 
A resposta só se saberá a 10 de Dezembro, dia da citação perante a 17ª camara do tribunal de grande instância de Paris.
Ora aqui está uma matéria protocolar que a França terá de ver resolvida, sobretudo, face a países que não reconhecem o valor jurídico das uniões de facto.

** Aquele "ataque à vida privada" é, sobretudo, fundamentado na revelação feita no livro, a uma anterior ligação de Valerie com um político de direita.

HSC

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Progresso



«No tempo em que as mulheres não votavam, fazíamos guerras por elas. Agora que elas votam, fazemos guerras pelo petróleo. Será isto um progresso?»

Devo confessar que esta frase, de Boris Vian, citada pelo Pedro Correia no Delito de Opinião, fez-me sorrir. É que o mundo mudou muito desde a morte do seu autor, que nascido em 1920, faleceu em 1959.

Hoje as mulheres votam, são donas do seu destino, trabalham e a guerra do petróleo continua na ordem do dia.
O seu autor ícone do surrealisno e do anarquismo, engenheiro, poeta, tradutor e cantautor francês que mantém uma enorme modernidade na sua obra, nesta pergunta parece reveler um qualquer machismo escondido que,  nos  tempos que correm, me causa alguma estranheza.
Ou eu estou muito nova - e não estou -, ou o Boris Vian envelheceu mais do que dizem os anos que sobre ele passaram…

HSC 

Também a França

A revista Le Point da semana passada faz duas curiosas análises políticas. 
Uma, relativa ao que se passou - e está a passar - no seio da chamada direita francesa e em particular no UMP, em que Copé bateu Fillon por 98 votos num processo com acusações de toda a natureza.
Outra, relativa à situação económica da França, que perdeu posição na classificação atribuída pela Moody's. Com efeito, esta agência de notação da-lhe um AA1, por considerar que o país:
1. Não demonstrou nos últimos vinte anos ser capaz de pôr em marcha reformas profundas, o que teve por consequência uma perda de competitividade, um mercado de trabalho muito rígido e serviços muito protegidos;
2. Está longe de poder garantir os seus compromissos orçamentais (3% do PIB em 2013), porque se desconhece como se comportarão as economias e, pior, a conjuntura está a degradar-se;
3. Não está em condições de resistir a eventuais choques financeiros na zona euro, sobretudo se a Espanha fizer parte deles. Os bancos franceses e o Estado estão excessivamente comprometidos nos países com dificuldades.

Por outro lado, quer o FMI quer a Comissão Europeia, olham com apreensão o facto da França estar a mergulhar docemente na recessão, dado que as suas previsões de crescimento para o próximo ano são bastante menos optimistas do que as de Bercy.
Com efeito, Hollande vai ter de arranjar alguns biliões de euros se quiser assumir os seus compromissos. É que os números são cruéis: a competitividade perdeu, em dois anos, seis lugares na Europa; o custo do trabalho é 10% superior ao da Alemanha e é real o aumento das despesas públicas e deficit comercial relativamente a 2011.
As agências de notação e os observadores comentam que entre uma Alemanha confiante no seu sucesso e uma Itália que se reforma, em grande, aos olhos de todos, a França continua a permanecer sob "perspectiva negativa".
Enfim, esta "Europa unida" começa a deixar muito a desejar...

HSC


domingo, 25 de novembro de 2012

Era o caminho

Era o caminho
Era o traço
Eras tu
Meu olhar de melaço
Era o laço
Que então me deitavas
Era o caminho
Era a rua
Era eu que sorria
E desfazia
O embaraço
Era o caminho
Era o passo
Que lado a lado
Agora trazia
A minha mão na tua!

HSC

sábado, 24 de novembro de 2012

Liberdade

"Anoitece no porto de Amesterdão.
Eu nunca sei ao certo onde fui feliz,
mas sei onde me sinto livre:
nas cidades onde não tenho história,
onde nada de mim deixei,
onde uma rua é apenas uma rua e não um encontro antigo,
onde nenhum rosto passado vejo surgir em qualquer lugar,
à mesa do restaurante onde nos juntávamos,
à esquina em que nos vimos sorrir ao mesmo tempo,
no quarto pequeno ao fundo do apartamento amigo,
em todos os assaltos da memória ao coração.

Somos livres onde não temos história,
o coração atento nada lembra:
mas tu junto de mim sorris e dizes-me
onde comprámos flores à beira do canal."


Este lindíssimo pedaço de alma foi roubado do blogue timtimnotibet.blogspot.com, cujo autor é Luis Filipe Castro Mendes, um dos nossos poetas vivos que mais aprecio.

Mas não estou de acordo com ele, quando diz que somos livres onde não temos história. A minha liberdade está profundamente ligada à minha história pessoal, às pessoas que amei, aos lugares por onde passei, às lágrimas que chorei, às alegrias que partilhei.
Sou livre porque a minha história e a minha memória existem, contam quem fui, quem sou e quem posso ainda vir a ser. É este percurso que marca uma certa liberdade - a minha -, aquela que eu tive a coragem, ou o medo, de agarrar.
E até penso que a maior limitação à liberdade individual é o amor! 

HSC

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Medo de ter medo

Henrique Cymerman nasceu em 1959, no Porto e tem raízes judaicas de um pai português e de uma mãe espanhola. Embora tivesse começado aqui a sua educação, aos 16 anos decide ir para Israel e será em Telavive, onde continua a viver, que se formará em Ciências Políticas e Sociologia. É pai de três filhos, correspondente da SIC e da espanhola Antena 3. Trabalha ainda para o jornal La Vanguardia e é o mais premiado repórter português.
Muito respeitado por judeus e palestinos concede esta semana uma longa e interessante entrevista à Notícias TV, que a titula " Tenho medo de voltar a ter medo". A frase é dita no contexto do actual momento que vive, em que há acções militares a opor Israel e a Palestina.
Foi esta frase que eu registei que acabou por servir de mote para o post de hoje.
Em Portugal e por razões diferentes - que têm mais a ver com uma guerra psicológica espoletada pela crise -, começa a haver um sentimento generalizado de insegurança que provoca medo. Não de armas ou de guerras. Mas medo de não ter futuro. Sobretudo entre aqueles que já deixaram de trabalhar e aqueles que ainda não conseguem arranjar trabalho. Os outros - os que laboram - perderam benefícios e salários, mas, por muito pouco que seja, trazem para casa uma remuneração e podem ter uma qualquer esperança no futuro.
De um lado estão os velhos, reformados e pensionistas, que entregaram ao Estado o dinheiro que havia de garantir o seu futuro, perdidos num estado social para o qual representam apenas um número fiscal e, quando muito, um encargo que se deseja curto.
Do outro estão os jovens, saídos de estudos sem saída, que só poderão sonhar, se esse sonho se corporizar fora da terra natal e da família. E é por essa rota que vão saindo e pondo ao serviço de estranhos aquilo que todos nós investimos neles.
Face a este quadro há - começa a haver -, um sentimento forte de medo. Medo do que pode acontecer, medo de perder mais do que até aqui perdemos, medo de não termos saída, enfim, medo de não ter vida nem rumo. Ou seja, como  Cymerman, começamos a ter medo de ter medo...

HSC 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Por fim...

Há períodos na minha vida em que todos os acontecimentos em que decido participar por razões de amizade, "viram" objecto de noticiário de imprensa cor de rosa.
Depois do lançamento do meu livro, na segunda feira, quando o corpo me pedia descanso, a Margarida Rebelo Pinto apresentava, na terça, o seu último romance "O AMOR É OUTRA COISA". E, por muito cansada que estivesse, não quis deixar de lhe ir dar "aquele abraço".
A Margarida é filha de uma colega minha de curso com quem mantive sempre uma óptima relação. Conheci-a, portanto, bastante novinha. Mas a vida haveria de reunir-nos na televisão e na editora que ambos partilhamos. Daí nasceu uma estima que tem contornos de mãe/filha e que, exactamente por isso, nada consegue abalar.
E, nos agradecimentos que fez, a nossa Maggie não deixaria de referir, com carinho, as suas duas "mães sobressalentes", que são a Dra Teresa Paiva, e eu própria. 
A festa decorreu nas Belas Artes e reuniu um expressivo número de amigos e familiares, como sempre acontece nos seus lançamentos. Ao contrário de mim, que quase proíbo a família de participar nestes episódios, que considero da minha estrita esfera profissional e cuja excepção vai para a minha cunhada Paula que, sendo da idade dos meus filhos, goza de privilégios especiais, por ser um misto de irmã, filha e amiga.
A Margarida personagem pública, é alguém que necessita de ser conhecida, para ser humanamente apreciada. Essa falha faz com que nem sempre se lhe faça justiça como pessoa. E é pena.
Termino, assim, o meu rol de efemérides socio-culturais. Anseio  por voltar ao meu dia a dia de trabalho, pese embora a série de entrevistas e sessões de autógrafos que ainda me esperam para promoção do livro e que me esgotam. É a vida!

HSC 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

E foi a minha vez!

 


Aqui têm três imagens do lançamento do meu último livro: a mesa, a autora com o seu apresentador e a mesma feliz com um belo ramo de rosas enviado pelo filho que se encontrava em Bruxelas e não pôde estar presente.
A casa estava cheia de amigos reais e alguns virtuais que ali foram dar-me um abraço.
A apresentação, que esteve a cargo de António Bagão Felix, foi cuidadosamente preparada e de enorme qualidade, revelando a cuidada leitura feita, o sentido do humor, a perspicácia nas entrelinhas. Algo que muito me tocou e que certamente foi das melhores a que já assisti.
Bagão Felix foi tecendo uma teia em que entrelaçou o seu texto com citações do livro e o resultado foi de facto e sobretudo uma conversa sobre os reis que eu tinha escolhido. Estou-lhe profundamente grata porque as suas palavras foram a demonstração da cuidada análise que ele dispensou ao meu trabalho.
Depois, ah! depois foi conviver e regalar-me com os abraços que recebi. Só eu sei o bem que eles me fizeram.

HSC

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Multiculturalismo

O vídeo foi "roubado" à Laura Ramos do Delito de Opinião. Mas a tolerância, a compreensão, a aceitação, a empatia, essas são  nossas e, confesso, algo difíceis nestas circunstâncias...

HSC

domingo, 18 de novembro de 2012

António Pires de Lima

Tive oportunidade de participar no jantar de homenagem ao ex Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. António Pires de Lima. Com uma sala cheia com cerca de trezentas pessoas das mais variadas ideologias, reencontrei velhos amigos e pude constatar, com muita alegria, o quanto ele é e foi por todos nós apreciado.
No meu caso pessoal, nunca terei palavras ou gestos que, alguma vez, compensem o muito que lhe devo e que engloba a Mulher que há 59 anos partilha o seu percurso.
Há gente que passa nas nossas vidas para no mostrar que a ética não é uma palavra vã. Ver isso reconhecido por três centenas de pessoas, a quem ele serviu de exemplo, é algo  muito gratificante.

HSC

sábado, 17 de novembro de 2012

Competências raras...


O PS já obteve do gabinete de Pedro Passos Coelho os números totais dos nomeados desta legislatura para funções públicas que receberam subsídio de férias em 2012. Primeiro eram 233. Depois rectificou-se. Afinal eram 1323. 
Perdão, nova rectificação. É preciso acrescentar 131 assessores de gabinetes ministeriais já antes admitidos. Assim temos um total de 1454 boys e girls que tiveram umas belas e subsidiadas férias em 2012, beneficiando da "excepção" ao cumprimento do OE. 
Deve, claro, haver ponderosas razões para que tal aconteça. E, claro também, deve tratar-se de trabalho altamente especializado, a exigir competências e férias raras... 
Pois, pois!

Nota: acabo de saber que o governo esclareceu em comunicado que estes subsídios seriam relativos a 2011, mas que haviam sido pagos em 2012. Resta-me apurar se todos os visados teriam direito a férias em 2011.

HSC