terça-feira, 23 de outubro de 2012

A solidão das cidades

Quando se viaja muito, a frase que acima reproduzo acaba por adquirir uma enorme dimensão de verdade. É que em todas as cidades as pessoas vivem cada vez mais isoladas e, por estranho que pareça, a net e as redes sociais, dando a ilusão de convívio, acabaram por ter enorme responsabilidade na situação. 
Com efeito, os amigos virtuais aos quais se fazem surpreendentes confissões, vieram substituir as velhas amizades que se transportavam, algumas, quase do tempo do liceu.
Já aqui disse, não ter a mínima paciência para este tipo de comunicação em grupo, que me faz lembrar, de algum modo e no campo virtual, os "partouse" dos idos anos sessenta ou os swinger dos tempos actuais, todos eles reveladores das profundas solidões dos seus praticantes.
Não se trata de qualquer conceito moralista, mas apenas a constatação de que as cidades têm um efeito desagregador na vida dos seus habitantes. Ao contrário da urbe, na província a solidariedade ainda existe e o convívio também. Talvez porque os seus ocupantes são manifestamente mais velhos.
O urbanismo que, em princípio, se devia ocupar também desta imensa solitude, está mais virado para a construção da cidade inteligente do que para ensinar as pessoas a viver. E é pena, porque é nas mãos dos "arruadores" que está uma boa parte da solução deste triste problema.

HSC 

13 comentários:

Unknown disse...

Vivemos sós, rodeados de multidões.
Falamos e não somos ouvidos, porque parece nunca termos vez para falar o que nos dá a terrível sensação de falarmos "para o boneco" (desculpe a expressão, tão pouco sofisticada mas não encontrei outra).
Mas, é inegável, as redes sociais só agravam o problema: ao ponto de (e eu já vi isto) dois colegas de turma estarem a falar numa rede social estando fisicamente ao lado um do outro (isto acontece frequentemente nas escolas, durante o tempo de recreio) estamos, pelo que tenho visto, a criar uma camada populacional que cada vez se exprime menos. Por muito que as redes sociais tenham benefícios, e têm e eu até sou apologista, estamos a resvalar para a face negra (onde a solidão cresce) porque não há abraços virtuais que realmente consolem, não há lágrimas que possam rolar e serem delicadamente enxugadas, não há reias emoções num mundo que é puramente virtual.

Um beijinho,
Vânia

Fatyly disse...

Subscrevo inteiramente e alguma vez substituo este "mundo de cabos" por um passeio a pé ou um simples café quando me batem à porta ou telefonam?
Visitar uma amiga ou amigo?
JAMAIS!

CɄᴙL¡ԎɄ.ǷԎ disse...

A maior solidão que se pode sentir é estar junto de uma multidão e sentir-se SÓ!

Anónimo disse...

as cidades são agrestes, apesar que aqui pelo norte, principalmente por matosinhos, a vida é meio socegada, um misto de campo e ex-zona industrial, o transito é reduzido, e as pessoas ainda se conhecem e param para se falar. há ainda uma certa solidariedade, felizmente!
beijinhos muitos,
lb/zia

Silenciosamente ouvindo... disse...

Eu também prefiro o contacto pessoal.
Mas mesmo na província as pessoas
já não estão muito disponíveis
para grandes conversas, para
a partilha.
Os problemas pessoas de cada um,
não lhes dá paciência - penso eu.
Um beijinho
Irene Alves

Maria disse...

Helena:
Há 44 anos, quando vim viver neste prédio de 8 inquilinos, éramos uma família. Tudo casais mais ou menos novos, com filhos da mesma idade, mulheres que estavam em casa. Nunca fui de conversas de escada, mas havia uma com quem tinha uma certa intimidade. Com as outras, era a troca de saudações habituais, umas palavras de circunstância e... parou.
Mas, quando havia uma doença, um desgosto, havia uma solidariedade enorme.
Moro no mesmo prédio. Dos vizinhos antigos restam dois casais, três comigo. Os outros, não sei quem são. Alguns passam por mim na escada, nem um simples: bom dia.
Às vezes, sinto-me ilhada, posta de lado como um trapo velho.
Como vê, debaixo do mesmo tecto, também há solitários juntos.
É este o mundo que temos.
Triste não é?
Abraço
Maria

Anónimo disse...

Bom dia,
vivo num lugar que mais parece uma aldeia.
É um local simpático, meio metido nas serras, não somos muito de conviver com os vizinhos, para além do respeitoso "bom dia", é uma facto.
Mas, apesar da n/ distância, não são raras as vezes que chego a casa e tenho em cima do muro, alfaces, outras vezes, limões e kiwis, às vezes, flores ...
É uma simpatia que cai sempre bem. O máximo que dou em troca são os sorrisos e o levantar de mão que faço quando passo pelos vizinhos.
Dou pouco em troca, mas nunca me fizeram sentir ingrata...
Gosto muito da minha aldeia adoptiva ...
Cumprimentos,
Cláudia

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Pôs-me a pensar num dilema. As cidades actuais são, de facto, locais de solidão. Mas…. e o campo, as aldeias, com a sua mesquinhez e intrigas? Não há solidão nelas, excepto durante as Festas de Verão em que, hipocritamente, todos são "amigos"?

Não se, portanto. A cidade, se se conseguir ter um grupo de amigos será a solução - menos informática e, sobretudo, muito menos televisão. As visitas não custam dinheiro…

Raúl.

margarida disse...

"Loneliness does not come from being alone, but from being unable to communicate the things that seem important"

Carl Jung

"The interesting thing is why we're so desperate for this anesthetic against loneliness"

David Foster Wallace

"We're all in this alone"

Lily Tomlin

"Isso tem dias"

Eu

nadiá disse...

Sem dúvida, as multidões são cada vez mais, um acumulado de solidões...
"tristeza não é chorar, é não ter para quem chorar" - Mia Couto

maria disse...

mais do que mãos de quem quer que seja, está nas nossas. as redes sociais são a droga do século, quem já não trabalha ou acaba um dia de trabalho, ou estuda, ou está desempregado vegeta entre a internet e a televisão. voltar ao convívio com amigos para jogar cartas, para fazer renda ou simplesmente conversar numa esplanada, deixou de fazer sentido. o mudar, tem de vir de nós. este novo estar faz-nos mal, a novos e velhos. passei as últimas férias escolares de verão, a "chatear" a minha filha para ir passear com as amigas, para largar o computador, o telemóvel, e ir, no fundo viver.
temos de voltar a colocar os nossos pais e filhos na rua e nós, claro. cabe a cada um de nós dar o primeiro passo, o exemplo de como a vida pode e deve ser vivida até deus querer, para lá das quatro paredes. acredito cada vez mais que se mudarmos, o nosso meio envolvente mudará, e o mundo por acréscimo. temos de ajustar as nossas balanças emocionais. há tempo para tudo e tudo nos faz falta, com conta peso e medida :)

Paulo Abreu e Lima disse...

Uma realidade desde há muito...

E hoje, muito particularmente, deixo-lhe um beijinho repleto de ternura. Pode ser electrónico, mas é com muito carinho.

DNO disse...

As pessoas põem-se a jeito para serem solitárias: quando vou a um café ou outro comércio qualquer ou quando me cruzo com alguém perto do sitio onde vivo e digo bom-dia ou boa-tarde, olham-me como se de um marciano se tratasse.
Perdeu-se a noção da diferença entre uma vizinhança saudável e cortês e a mera coscuvilhice.
Mas não nos devemos esquecer nunca que, em caso de aflição, são os vizinhos quem primeiro nos pode socorrer.