sexta-feira, 8 de junho de 2012

O passado

Já aqui escrevi, várias vezes, que não sou passadista. Agradeço tudo o que a vida me ofereceu e tento aceitar o que ela me tirou. Nada me foi  dado gratuitamente, mas não me queixo do preço que paguei pelas vitórias que obtive, que, decerto por isso, tiveram um sabor especial. Vivi, muitas vezes, à frente do meu tempo, mas não me arrependo de o ter feito, porque o futuro acabou por me dar razão.
Todo este longo intróito vem a propósito dos comentários que o meu último post suscitou e que são bem reveladores da diversidade da alma humana. Cada um de nós, perante a mesma situação, reage de forma distinta.
Explico-me melhor. Não sou pessimista nem vivo de amarguras. Não porque não tenha tido alguns grandes desgostos, mas antes, porque foram eles que me ensinaram uma certa forma de pragmatismo.
Por norma não me debruço sobre o passado, justamente porque ele já passou e só tem importância se me ajudar a tornar-me uma pessoa melhor.
Se não pode ser apagado, pode ser "deglutido". Isto é, colocado no domínio daquilo que não tem relevo. Se nos magoou, se nos entristeceu, chorou-se na altura. A lição a tirar, é não permitir que ele se repita. A isto eu chamo de ser pragmática.
Dou um exemplo. Há quem fique a vida inteira a carpir um divórcio. Que, na maioria dos casos, aconteceu por lapsos de ambos os lados. Fica mágoa e tristeza. Compreende-se. Já é mais difícil compreender que se fique a vida inteira condicionada por ele.
A solução, a meu ver, não é essa. A solução é não repetir as atitudes que explicaram o insucesso e "partir para outra", quando o luto da anterior situação estiver feito. Ou não partir, porque se não quer, porque essa foi a nossa escolha. Mas jamais ficar azeda, ou recusar as oportunidades que se nos oferecem de amar de novo, das quais nem sempre nos chegamos a aperceber, porque estarmos zangados com a vida.
Aprender a não sofrer faz parte do nosso crescimento. Como faz, acreditar que aquilo que se perdeu não é, felizmente, nem único...nem forçosamente o melhor!

HSC

18 comentários:

Isabel disse...

Ontem li o seu post e tive vontade de deixar um comentário, mas acabei por não deixar. Hoje estive a ler todos os comentários; ontem o que pensei foi mais ou menos o que diz Patricio Branco. Essas cartas devem ser quase documentos históricos.

Eu sei que se fossem minhas seria incapaz de as queimar. Guardo tudo, tudo para mim tem valor sentimental. E no entanto penso exactamente da mesma maneira que a Helena: o passado passou, é aprender com os erros, tirar o positivo de todas as situações, mesmo as mais dolorosas, e seguir em frente.

Um abraço

Maria Vitória disse...

Como eu estou tão de acordo com a senhora! Só que nem sempre consigo ser tão pragmática quanto gostava de ser... Obrigada pela sua "grande" mensagem!

Maria disse...

Querida Helena:
Obrigada por este texto. Chegou num momento, em que estava a entrar em parafuso. Problemas, grandes e pequenos, contrariedades, desgostos, parece que tudo me cai em cima.
Lê-la, fortaleceu-me. Se eu perder a cabeça, quem vai endireitar o que está torto?
Estou melhor, agora, depois de ler o que escreveu.
Obrigada e um beijinho grato
Maria

Anónimo disse...

Palavras para quê?

Mais um belo texto.

sandrine disse...

ora bem... olhar para o passado só se for para tirar licçao.
Olhar para trás é pior que parar, é mesmo entrar num abismo! Quem tem vontade? agora, recordar e soltar uma valente gargalhada e saber andar para frente... isso sim é genial!

venha quem vier...haja o que houver gente dura é que eu gosto ( podemos tropeçar mas não cair)

;)

Anónimo disse...

Acho sempre que os meus comentários são menores e como tal é raro me prenunciar, mas como cada vez que a leio sinto que estou a conhecer-me melhor.
Sempre pensei que teria que rasgar todas as cartas que tenho, mas os anos e anos foram passando e eu deixei de pensar, até hoje, que a li e mais uma vez me revi, adoro ler tudo o que escreve. Bem-haja por ser como é.
Uma admiradora do sul quase Marrocos.
AC

Anónimo disse...

Sim concordo...Quando as coisas menos boas acontecem e nos deixam momentaneamente tristes pensamos que o mundo vai acabar e que nunca mais vamos voltar a sorrir e o único pensamento que nos ocorre é que apenas aquilo (que perdemos) era o melhor da vida e era a única coisa que nos fazia felizes. Mas é a maior pura das mentiras. Esquecer o passado ou então "degluti-lo" mesmo que demore um certo tempo é a melhor atitude a tomar pois a vida continua e muitas coisas boas, senão as melhores acabarão por chegar e colocar de novo um brilho nos nossos olhos.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Acredite que desde que venho ao seu
blogue me estou a tornar uma pessoa
diferente, a ser mais positiva e
mais forte. É melhor do que ir a
um psiquiatra.
Neste momento estou a ler o seu
livro: Bocados de Nós(não sendo
recente) mas estou a gostar muito.
Um beijinho
Irene Alves
PS. Se pudesse tirar as letras para
enviar os comentários facilitiva.

Lara disse...

É uma grande verdade, nós estamos cá todos dias para sermos postos a prova em todas as situaçoes,profissional, pessoal e sentimental.
Então a sentimental é a que põe mais a prova, nós não mandamos no nosso coração, era bom termos um botão para ligar e desligar para não nós desiludirmos nem sofrer no final.
Quando é um fim de uma relação como aconteceu comigo a certa de um mes e meio,doi, sofremos, choramos e perguntamos o porque do fim a nós proprios, mas ao fim de uma semana bola para frente é que está o caminho e futuro, porque para tras ja foi e para tras andam os carangueijos. Sorriso na cara. E tal como disse uma grande amiga minha podemos sofrer mas será sempre de sorriso na cara, linda, maquilhada e de salto alto.

Beijinhos

AEfetivamente disse...

Absolutamente. Revejo-me no "não sou passadista" e faz-me muita impressão estar sempre a remexer no que ficou lá atrás. Há gente que parece adorar fazê-lo... Para a frente é que é o caminho, o que passou já era... Gostei muito.

Professora disse...

Podia ter sido escrito para mim. Obrigada! Às vezes, é duro sobreviver.
Luísa Moreira

Ana Paulo disse...

Há uns tempos que acompanho o fio de prumo, mas ainda não tinha percebido verdadeiramente o que me prende aqui. Damo-nos conta que nos identificamos com alguém que não conhecemos, quando aquilo que escreve podia ter sido escrito por nós. Obrigada, Helena. Vou, sem dúvida, continuar a ser assídua.

Unknown disse...

Cra Helena,
Que agradavél puder partilhar com "alguém especial", um espaço de reflexão sobre os mais variados assuntos da vida, do país, do mundo.
Comecei a acompanhar o fio de prumo em Maio, mas conheço-a "desde sempre".
Eu sou uma "passadista", e ou parei no tempo e não cresci, ou não aprendi a não sofrer.

Unknown disse...

Já passou tanto tempo e eu lembro-me dum programa em que o seu convidado era o Pedro Paixão e da ternura comovente com que ele a tratou.Como se o tempo tivesse parado durante aquele momento.

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Carolina
É verdade. A Sic estreou a 6 de Outubro e eu fui para o ar a 11 desse mês com um programa chamado SEGREDOS.
E o meu querido Pedro Paixão terminou a conversa, beijando-me a mão. Lindo, ainda hoje!

Isabel disse...

"Aprender a não sofrer faz parte do nosso crescimento. Como faz, acreditar que aquilo que se perdeu não é, felizmente, nem único...nem forçosamente o melhor!"

Aqui está um simples e objetivo resumo do que pensar quando se quer partir, quando o outro nos quer deixar ou apenas quando algo se transforma. Muitas vezes não seguimos outro rumo por medo de errar na escolha mas ao manter esta ideia em perspectiva, acreditar que mais à frente vamos sentir-nos assim, mesmo que no momento tudo seja confuso, é já uma grande ajuda!

Obrigada!

Carmo Bernardo disse...

Ainda que vista as minhas palavras de poesia e as lance na sua direcção não serão suficientemente elucidativas para manifestar o encanto que sinto ao ler os seus escritos.E permita-me dizer que sinto uma afinidade profunda pela forma como escreve e bebo as suas palavras de um trago só , porque sinto urgência de chegar rapidamente ao fim para dar sossego à inquietação que elas me provocam.Fazem-me pensar.... e muitas vezes acreditar que um dia serei capaz de ser feliz!

Anónimo disse...

Quando fôr grande quero ser assim uma Mulheraça (permita-me !) como a Helena .....
Habituada a um núcleo familiar onde se vive de olhar para trás quando não se vive o presente e onde o meu otimismo vontade de ser feliz é vista como uma utopia sinto -me confortada com estes pensamentos e formas de estar na vida , uso-os muitas vezes na minha vida ... tenho 40 anos , a vida deu-me uma 2ª oportunidade ..tive que deixar para trás um casamento que estava morto há muito , encontrei o "tal" a minha metade na minha vida ... muitos desencontros , muita luta para estar a andar para a frente , mas com todos os obstáculos não ía recusar esta oportunidade que a vida me tem dado ... tenho dois filhos lindos que são a minha vida ... e acredito que vou preenchida´desta vida ..... só quero olhar para a frente , o que não nos mata torna-nos mais fortes .. um gd bem haja por ser a pessoa quem é