sábado, 23 de julho de 2011

Porquê ser político?


Numa das últimas revistas do El País Semanal, o colunista Javier Marías intitulava uma das suas crónicas com a pergunta "Porqué quieren ser políticos?". O texto visava, sobretudo, a ocupação das praças que, lá como cá, teve lugar. Mas ia além disso.
De facto em Espanha como em Portugal os políticos constituem uma das classes mais mal vistas. E não é de agora. Por isso é justa a questão posta. Tirando os militantes cegos, poucos são os que os apreciam.
"São culpados de todos os males,recebem insultos constantes dos rivais e ultimamente até dos cidadãos, são, com frequência, acusados de ladrões e corruptos, tem-se deles s ideia de seres incompetentes ou idiotas, são acusados de agirem em benefício próprio ou dos partidos, e cada vez mais são considerados os títeres do poder económico".
Hoje são tantos os seus dissabores que é normal perguntar-se como é que há tanta gente a prestar-se a tal papel. Do ponto de vista do cronista havia que salientar cinco grupos: 1)os medíocres que não têm carreira nem salário fora de um meio tão pouco exigente como a política; 2) os que veêm na carreira uma possibilidade de enriquecer; 3) os que veêm o poder como meio de gerir favores úteis; 4)os fanáticos que só desejam impôr as suas ideias, e, finalmente 5) aqueles que, com verdadeira vocação política, com espírito de missão, boa fé e vontade de serem úteis à sociedade se esforçam por lhes melhorar as condições de vida, de liberdade e de justiça.
Não será necessário dizer que destes cinco grupos só um merece respeito e é necessário. E é também, claro, o menos nutrido.
A grande proeza da democracia estaria em saber distinguir os que pertencem ao último grupo. É muito difícil. É por tudo isto que eu prefiro a democracia directa à democracia partidária...

HSC

11 comentários:

António disse...

A visualização desta escala se caracterização dos políticos, fez-me lembrar que, algures no tempo, já pensei sê-lo...
Quando, 'técnico superior duma Autarquia', os vi de perto a exibir mediocridade, oportunismo, autocracia, inveja (tanto cultural como económico-social), rancor, 'caciquismo' (que substanciaria como "transformar todo e qualquer direito constitucional dos munícipes em... favores pessoais". Aos quais os Outros ficariam obrigados, claro)...
Nessa altura, com o coração cheio de nojo e desprezo, pensei, de facto, em competir com eles na arena política - 'esborrachá-los', eclipsá-los...
Mas isso colocava-me o problema de me sujar e transigir nos gangs partidários - e isso era eles derrotarem-me!...
..Alguém devia, no contexto dum estudo sociológico qualquer, quantificar a tremenda violentação Ética a que os técnicos autárquicos se vêem sujeitos por o figurino das suas progressões na carreira estar dependente dos 'políticos'.
Por mim, preferi salvar-ME - e desertei:
- Para continuar a me poder olhar ao espelho - e continuar a gostar de mim.
Dizia um amigo meu, gingando por entre os torpedos que um 'politico' do Fundão lhe procurava obstruir o projecto de Renovação comercial urbana em que estávamos envolvidos (e conseguiu-o!):
- «Precisamos de políticos que nos oiçam... Políticos que tenham uma Utopia!»
Pois sim...
Agora só acredito nas Acções Cidadãs.

ERA UMA VEZ disse...

Nas autárquicas faz todo o sentido. Na Assembleia parece mais difícil...mas com o tempo chega-se lá. E cada candidato valerá por si, pela sua coragem, passado,competência, coerência e dedicação.

A política, pela importância e responsabilidade que consubstancia, terá de ser considerada por quem a pratica, como um espírito de missão.

E aí,provavelmente, ganhará o respeito dos povos.Assim se espera.

Marcolino disse...

Estimada Helena,
Qualquer comentário meu, iria destoar, neste seu belissimo, acima de tudo, oportunissimo post!
Bom domingo
Marcolino

Raúl Mesquita disse...

Daí a " 'agorá " com que abre o seu "post"… Mas Atenas tinha uns poucos milhares de cidadãos livres, Cara Helena! Como, uma democracia directa numa sociedade com muito mais "cidadãos livres"? Raúl.

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro Raul
A imagem "ilustra" o que penso.
Mas como sabe há países maiores que o nosso em quw a democracia directa funciona porque venham eles de que ideologia venham é a cada um que se pedem, e pedem mesmo responsabilidades.
Aqui quer pedir responsabilidade ao "partido"?. Serve-lhe de alguma coisa?!

Helena Sacadura Cabral disse...

Caro António
Também eu sou ardente defensora dos movimentos civis, que uma vez cumprido o fim a que se destinaram, prestam contas e encerram.
Para mim, esta é uma forma de cidadania e de intervenção cívica muito desejável!

António disse...

Resposta a ERA UMA VEZ:
"...com o tempo chega-se lá."

Não chega, não:
- Era preciso que as eleições fossem NOMINAIS; que os eleitores pudessem escolher -não num menu cozinhado peloa gangs partidários, mas nos 'verticais' que frequentemente se encontram numa terceira ou quarta linha (aqueles que nunca estarão em listas elegíveis porque precisamente se põem fora dos mafiosos 'grupos de amigos'/compagnons-de-route); que os eleitos prestassem contas aos seus eleitores - e não às Direcções partidárias...
Em vez disso, mal se começa a falar em listas Nominais, logo uns malandros 'com pregaminhos' vêem dizer que o que é bom - em nome da total autocracia - são eleições... UNI-NOMINAIS !
E sempre que se fala em rever o figurino - por incontestável necessidade de "aproximar a classe política da Sociedade", mas afirmando ao mesmo tempo "as 'virtudes' da arrogância, da 'eficácia' autocrata das maiorias absolutas - logo colocam em primeiro lugar as suas perversas eleições UNI-nominais!
E, francamente, estou farto dessa conversa de 'espertos'.

Raúl Mesquita disse...

Cara Helena:

Realmente estamos de acordo. O que está presente no seu "post" e no meu comentário é simplesmente o conceito de Liberdade!

Anónimo disse...

Os acontecimentos dos últimos tempos, mais não são que o reforço da teoria da História Cíclica porque se assiste a um regresso à barbárie.

Isabel BP

António disse...

...Uma das maiores pechas dos partidos PORTUGUESES, é a sua generalizada incapacidade de negociar!
- Em sendo necessárias 'representações de diferentes sectores da Sociedade', é óbvio para qualquer um despreconceituadamente pensante que a maior estabilidade/longevidade das soluções políticas decorre da maior abrangência das vozes sociais que nelas se revêem.
Ao invés, os nossos Partidos entretêm-se com 'absolutos jacobinos'.
Não foi uma nem duas vezes que reparei no afã de bloquear plataformas de entendimento criadas laboriosamente ao nível das 'Comissões de Trabalho' da Assembleia - em nome das 'estratégias' jacobinas das Direcções partidárias...

Tudo isto - a instrumentalização 'legal' da idoneidade democrática dos deputados-da-nação - entronca na abusadora 'incompreensão' do Princípio da Representação de vozes:
- 10 milhões de portugueses não cabem na Assembleia, e, portanto, o que fazem é delegar em alguns poucos a sua voz.
E se esses poucos não têm o tal 'espírito de missão' e logo aderem à pirataria intelectual veiculada por Direcções 'fortes' (i. é: "que não negoceiam!" - como Virtude de 'Chefes Carismáticos!), de que "em ganhando - com um certo Programa, por supuesto -, os seus votantes lhes passaram um 'cheque-em-branco' para eles fazerem o que bem entenderem,
logo a Democracia se esvazia.
...As in:
- eles, com A função Legislativa, passarem o tempo todo a passarem "Autorizações Legislativas" aos seus chefões no Governo.
E esta prática, esvaziadora da Finalidade da Assembleia, parece que veio para ficar...

Fada do bosque disse...

Ainda não se deram conta que estamos em plena III guerra mundial?! O ponto é exactamente esse... a Democracia está doente e neste momento seja ela directa ou representativa, não passa de uma farsa. Como consciencializar os cidadãos ocientais para o que está a acontecer?! Se não são informados, se não tomam consciêmcia, dentro em breve perderemos esta guerra ignóbil.
Aqui vai um artigo complexo, mas muito esclarecedor!