quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Orgulho e preconceito

O orgulho e o preconceito são atitudes que, apesar de velhas, têm vindo a vestir novas roupagens. Antes tinha-se orgulho na posição social, no nome de família, no título académico, ou no património próprio. O preconceito era o reverso, no plano prático, daqueles predicados. Ou seja, quem não tivesse os atributos motivadores de orgulho era visto como uma espécie de “ser de segunda”.
Os anos passaram, a monarquia foi-se, a república consolidou-se, e a revolução fez-se para que a democracia se instalasse. Pareceria, assim, que teriam desaparecidotodas as razões para que subsistisse o tal orgulho e preconceito.
Não é verdade. Curiosamente, hoje, qualquer deles persiste. Apenas mudaram de feição. Agora orgulhamo-nos do sucesso profissional, tantas vezes alcançado não pelo mérito, mas pela filiação partidária; orgulhamo-nos de ter subido a pulso na vida, como se o esforço não devesse ser a norma; orgulhamo-nos da pertencer à ideologia dominante, como se a liberdade depensar diferente não fosse um direito adquirido; enfim, mantemos uma certa forma de altivez pelo que fazemos ou por quem somos…E continuamos preconceituosos com quem não faz, não é ou não pensa como nós.
Mais permissivos? Só se for na capacidade de tolerar a asneira e de lhe chamar sucesso!

HSC

4 comentários:

José Ricardo Costa disse...

O orgulho é saudável. Hoje, criou-se o hábito de chamar auto-estima ao velho orgulho mas eu continuo a preferir a velha designação. É bom as pessoas sentirem orgulho pelo sucesso dos seus esforços ou pelas suas qualidades, desde que tenham tido responsabilidade nelas (acho uma parvoíce ter orgulho na beleza ou inteligência).
O problema do orgulho, hoje, é a sua falta de consistência. A ilusão de que há razões para haver orgulho quando, afinal, muitas vezes as razões deveriam caminhar no sentido da vergonha.
Já agora, por falar em famílias e posição social, uma vez perguntaram ao Marquês de Fronteira se se sentia orgulhoso (ou vaidoso, não posso precisar) pelo título que ostentava. Ele disse que não pois limitou-se a recebê-lo.Mas que tinha muito orgulho no curso de Filosofia pois teve que queimar muitas pestanas para o conseguir.
JR

Estranho Fulgor disse...

Comecei a ler este livro ontem, porque é o segundo de uma selecção da comunidade dos leitores de que faço parte, a recomeçar em setembro,o que achei uma coincidência muito engraçada. Depois, dir-lhe-ei mais qualquer coisa sobre o assunto, obviamente.

Grande abraço

Raúl Mesquita disse...

Estes atributos fazem, como muitos outros, parte da natureza humana.O orgulho bem temperado é saudável, o preconceito, não, mas é uma bengala. Que mais posso dizer? Appelons un chat un chat...

Raúl Mesquita.

Benó disse...

Gostei e a ler.