quinta-feira, 10 de junho de 2010

A coisa complica-se

Portugal insiste em não recorrer ao mecanismo do pacote de ajuda internacional e vai emitindo dívida pública e bilhetes do tesouro (BT). As taxas a que estamos a pedir dinheiro já estão nos 5% e duvido que os BT sejam mais atractivos do que outros produtos financeiros existentes no mercado.
Teresa Ter - Minassian, que conheci nos meus tempos de Banco de Portugal, em 1983, quando liderou a equipa do FMI que aqui esteve para negociar o acordo que visou vencer a crise de pagamentos de então e que, há cerca de quarenta anos, analisa crises internacionais, é de opinião de que seria preferível o governo recorrer já ao pacote de 750 milhões de euros acordado internacionalmente.
Em defesa desta posição afirma que apesar de não duvidar que Portugal possa fazer os ajustamentos necessários sem ajuda internacional, o pedido concertado agora evitaria que, mais tarde, ele possa ser feito em desespero de causa e portanto em condições bem mais desfavoráveis.
Lembro-me bem dessa época. Que para os analistas políticos com menos formação económica é considerada terrível. E foi-o. Mas o certo é que vencemos a crise. O problema surgiu depois, porque gastámos demais.
Por isso, gostava de ver o assunto discutido publicamente por pessoas que, não tendo cor política, saibam do que falam. E é pena que a entrevista que aquela especialista deu ao Jornal de Negócios não tivesse tido uma mais ampla divulgação e não fosse, mesmo, objecto de discussão num desses multiplos debates televisivos que nos servem.

HSC

5 comentários:

Maré alta disse...

Olá, H.S.C..
Acabei, de ler o seu post.
Na minha opinião, se Teresa Ter- Minassian, uma reputada especialista em analisar crises internacionais, defende a ideia que o melhor para Portugal, seria recorrer ao pacote de 750 milhões.
Não vejo, porque não ter em consideração, o conselho desta especialista.
No entanto, vive-se num país de contradições, os especialistas chamam a atenção para situação económica de Portugal. Fala-se muito da crise dos Portugueses. No entanto, mais um feriado e mais umas mini-férias.
Mais uma vez, faltaram às minhas aulas, 25% dos alunos. Motivo? Os alunos, ido de mini-férias com os seus papás. Não importava se hoje era o último dia para apresentação de trabalhos.
Saliento, Helena, que estes alunos, não pertencem a famílias com recursos económicos, muito elevados. Mais, os valores incutidos, pelos encarregados de educação aos seus educandos, foi a falta de responsabilidade.
Donde, Helena, se esta amostra minúscula, for parecida noutras escolas e com outras turmas. Provavelmente, não deve haver crise. Existe sim, uma crise virtual, aquela que apenas é relatada pelos especialistas.
No mundo real, continuamos a gastar sem problema e sem consciência.
O que dizer?

Helena Sacadura Cabral disse...

Maré Alta
Ainda há bem pouco tempo disse aqui o mesmo, a propósito de outra "ponte". Pontes que saem caríssimas ao país e que são um péssimo exemplo, em tempo de crise. Mas hoje "valores", "ética", "exemplo" são conceitos gastos. Pior,são conceitos de marginalidade. Por isso os papás levam os meninos ricos ou remediados, a aproveitá-las. Que tristeza!

Lura do Grilo disse...

Estes 750 Milhões vão direitinhos para Espanha! Já se discute a quebra do país vizinho: vai ser em menos de um mês provavelmente.

Kiki - Família de 3 e 1/2 disse...

Cara HSC, adoro ouvi-la, lê-la... Tenho 28 anos, casei há 3 anos e estou com um segundo filho a caminho que nem fazia já parte das nossas contas, dado oestado da nação... Casámos antes da bolha rebentar e cheios de planos e projectos para um futuro que, para já fica adiado, não sabendo ainda por quanto tempo. Tanto eu como o meu marido temos um trabalho de que gostamos e não temos créditos. Ainda assim vivemos com o cinto apertado e com o pânico de amanhã não ter como dar de comer aos nossos filhos ou pagar as nossas contas... Custa-me abrir o telejornal todos os dias... Custa-me ver o estado em que o país e a Europa estão e ver que as pessoas que estão à frente dele apenas se preocupam em atirar areia para os nossos olhos... São orgulhosos demais para admitir que estamos na m..... e "importantes" demais para ouvir quem sabe! Em pleno início de vida e de construção de uma família, gostava de ver uma luz ao fundo do túnel e de poder descontrair um pouco para poder educar e gozar os meus filhos como tinha planeado! Vamos ver quando isso irá acontecer...

Anónimo disse...

Mas hoje "valores", "ética", "exemplo" são conceitos gastos. Pior,são conceitos de marginalidade (...)Que tristeza!

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Confesso que nunca tinha lido isto de uma forma tão bem escrita, (escrita ou falada). Ética e vergonha na cara são de facto conceitos, hoje em dia, marginais.

Por isso, entre outras coisas que nenhum de nós acompanhou, é que Salazar teve a repercussão que teve, no seu tempo.

E não me sinto, de todo, orgulhoso ao dizer isto.

É que o nosso problema não é só, de todo, financeiro.

É esta despurada vergonha de querer viver a vida que não se pode ter, com os recursos que (não) se tem, é toda esta falta de vergonha de dizer constantemente que a culpa é dos outros e nós sempre a fazermos igual ou pior.

Já lá dizia o General Romano, numa tradução (muito livre) estranho povo aquele à beira-mar, que não se governa nem se deixa governar...

Miguel A.