domingo, 30 de maio de 2010

Voltar à vida?

Hoje é o primeiro domingo em cerca de mês e meio em que retorno à minha vida. A qual, depois da doença do meu filho - já não vale a pena silenciá-la porque foi notícia em tudo o que se chama de comunicação social -, não voltará mais a ser a mesma.
Não digo isto com mágoa, queixume, tristeza ou qualquer outro sinal de índole negativa. Afirmo-o porque ninguém passa por uma situação destas ficando incólume. Não sei, sequer, como irei reagir a tudo o que vai seguir-se. A tendência natural duma mãe numa doença grave é querer substituir-se ao filho. E essa é, exactamente, a única coisa que me não é permitido fazer.
Nestes 45 dias que passaram, todos vivemos de acordo com as regras impostas pelo Miguel. E aguentámos exactamente como ele queria que aguentássemos.
Hoje ele vai a caminho de Bruxelas para uma nova fase da sua existência. E, por sua decisão, eu e o irmão ficamos cá. Esperando que ele não precise mais de nós. Este é que é, verdadeiramente, o lado mais doloroso de suportar. Porque corta o gesto de ternura, a palavra de conforto, o riso tão necessário. No resto, confio em Deus e, sobretudo, na imensa força do meu filho.
Esta será, espero, a única vez que aqui falarei deste assunto. Que, a partir de agora, dirá exclusivamente respeito ao Miguel. E se o faço neste momento é para agradecer a todos os que, neste blogue, com as suas palavras de conforto, tentaram suavizar as minhas horas.

HSC

25 comentários:

GiaSantos disse...

Minha amiga, desculpe sua eterna fã.
Um grande abraço, do tamanho do universo.
Luzia

Presépio no Canal disse...

Um beijinho cheio de carinho, fe e forca para si, querida Helena, o Miguel e toda a familia.
Vai correr tudo bem. O Amor e a Fe fazem milagres e logo, logo esta fase vai passar...Beijinho

C.M. disse...

Doença que a todos nós faz tremer. Que ele se salve, eis o meu voto mais sincero. Aliás, não poderia ser de outra modo.

Anónimo disse...

Sou de muito poucas palavras quanto ao sofrimento. Prefiro ouvir (ou ler) em silêncio. Cúmplice.

Beijinhos, Helena.

margarida disse...

Esse é o espírito e o caminho.
A maleita também se combate com o espírito.
E somos muitos a 'torcer' por vós.

Abreijos.

Helena Oneto disse...

Um abraço e "une pensée très particulière" para si Helena.
Bien à vous et à vos proches.

Anónimo disse...

"A tendência natural duma mãe numa doença grave é querer substituir-se ao filho. E essa é, exactamente, a única coisa que me não é permitido fazer."
So um doce coração de mãe falaria assim.
Minhas preces aos dois
bj em seu coração de mãe que hj deve estár bem precisado de colo
Fatima Gomes

Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"

causa vossa disse...

É nestas alturas de provação do homem consigo próprio, e com os seus semelhantes, que nos apercebemos que o conhecimento do "Outro" é a solução para todos os problemas. E que desse conhecimento pode nascer um mundo novo, um mundo onde não há excluídos e todos somos um: o dos afectos em rede e com rede!

Blondewithaphd disse...

... mas também os filhos se querem substituir aos pais em sofrimento. O amor é isso: arrebatarmos para nós a dor dos que amamos. A dor em nós não dói o que nos dói a dor neles.
Força.

Anónimo disse...

Como pai, as suas palavras tocaram-me fundo. Compreendo-a bem. E estou solidário com o que passou e está a passar. Não quis nunca abordar este assunto, por ser do foro privado e naturalmente sensível. Todavia, deixo-lhe aqui agora, se me permite, um voto muito sincero que tudo, daqui para diante, continue pelo melhor. Tenho o maior respeito e consideração pelo seu filho Miguel (aliás, por ambos).
Um afectuoso abraço,
P.Rufino

Maria Chaves disse...

Um xi coração bem ternurento...

Pedro disse...

voltar à vida
regresso
continuação
com um sopro de vida
o tamanho enorme
um coração

Pedro

Tété disse...

Embora diga que não será como antes, mas poderá e deverá ser certamente uma vida plena de dignidade. Claro que à mãe é exigido para que entenda e reaja sempre de forma positiva - quando conseguimos. Como a entendo Helena.
Um abraço do tamanho do mundo e a fé de que tudo se irá compor.

Zélia Santos disse...

Os filhos são sempre os "meninos de sua mãe" e o amor maternal é maior do que tudo. Mesmo à distância, conseguimos sentir a sua força e não há fronteiras que não transponha. E é também graças a ele que o seu filho Miguel vai vencer. Todos vão ficar bem.
Um beijinho com ternura para si e felicidades para a sua família.

olinda silva disse...

Cara Helena,
De todas as vezes que aqui vim, tive vontade de lhe dar um beijinho especial pelo filho, mas como não falava no assunto, respeitei.
Tenho a certeza que tudo vai correr pelo melhor, estamos todos a torcer pelo Miguel. A força dele, a nossa energia positiva e a fé da mãe, serão com certeza invencíveis.
Tenhamos esperança.
Um beijinho no seu coração

Octávio Diaz-Bérrio disse...

Os mais sinceros votos de melhoras do Miguel!

Anónimo disse...

Um afectuoso abraço para uma mãe exemplar e sem se saber porquê, a vida resolveu severamente castigar...
Um grande abraço para o Miguel também, filho admirável de uma mãe admirável.
Força e muita Fé.

Lura do Grilo disse...

Aqui a família é tudo! Um beijo, um abraço, uma ternura! Este fim-de-semana saiu-me uma: Um filho é uma obra de arte sempre inacabada.

Abraço

Sandro disse...

Helena, não quero escrever muito... apenas que saiba que está nos meus pensamentos bem como o seu filho... espero que tudo corra pelo melhor.

Nuno Martins de Pina disse...

Quantas vezes penso
Que tal poderia acontecer comigo
Mas Deus é nosso Amigo
E o Seu poder é imenso

Torço por si e pelo seu filho do fundo do meu coração...

Helena Sacadura Cabral disse...

Obrigada a todos pelo amparo, a ternura, a esperança!

Anónimo disse...

só hoje tive um pouco de tempo para lhe expressar a minha solidariedade\empatia com a sua vivência. vai tudo correr bem....é nos momentos de tornados que vemos a nossa força e criatividade.
que mais dizer? ainda comentaremos muitos anos...nós e eles...

ana.IN.the.MOON disse...

D. Helena, tenho o privilégio de "ler" o Miguel no facebook (que se tornou uma agenda de interesses diária). Tenho também o privilégio de a "ler" aqui ou de a ouvir em conversas com a Fátima, quando estou em casa. A empatia, a preocupação, o desejo de que tudo esteja a correr o melhor possível são reais e muito sentidos. Quero apenas deixar-vos, a todos, um abraço, virtual é certo, mas um abraço. Sabe, também os filhos gostariam por vezes de se substituirem aos pais. A vida impõe-nos que apenas tenhamos a certeza de que eles "sabem" o nosso amor, a nossa força e a nossa presença.

Raúl Mesquita disse...

Cara, Cara Helena:

Tenho andado ausente, mas hoje li os seus sete últimos "posts". Li-os com atenção, como sempre. Sem a querer magoar, sinto na Helena, permita-me dizê-lo, uma ansiedade, uma mistura de amor, de dúvida, de "raiva", compreensível, de sentimento de ingratidão, mas também de ódio pela estupidez mundial (concordo absolutamente - pediatria nos jovens adultos? - só de taradas/os sexuais ou de instrumentos de Poder que querem infantilizar as pessoas.) Nós não íamos aos quinze anos às festas, you "gals" de chiffon, nós, de blazer e de gravata? Dançavamos slows e rock'n roll, ceávamos à meia-noite, dançavamos mais e as festas acabavam às 2am. Éramos já pessoas e não estes seres cuja cara publicou e que horrorizam quem tem juízo. Voltando ao seu filho Miguel, permita, se calhar ele quererá estar "só" por uns tempos (desculpe a ousadia, se o faço é pela amizade que tenho por si). Não creio que ele queira afastar-se. A vida é muito difícil. Temos traumas, cansamo-nos. Ninguém pode prometer nada, logo, eu não o faria. Mas acredite no futuro, faça uma introspecção, Querida Helena (não "fui pago" para fazer "análise", mas perante a sua ansiedade, eu sinto-me responsável para com o meu "fellow human beeing"). Há quem fale com poucas palavras, há quem diga: "gosto imenso de si", há quem diga: "tudo do melhor", mas eu falo assim para com as pessoas que valem a pena. Now, do you guess what I have been through in my life, my Dear Helena?

Laconicamente, porque me parece apropriado, Um Abreijo "ex core",

Raúl.

Julia Macias-Valet disse...

Cara Helena,
Foi apos a minha recente passagem por Portugal que compreendi este seu post.
Um abraço e muita força.