quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Plano, Davos e nós

"Foi-se para uma espécie de dieta geral, como alguém que tentasse emagrecer sem perder gordura e perdendo peso no corpo inteiro, incluindo o coração", terá dito, a propósito do Orçamento para este ano, o fiscalista Saldanha Sanches.
Não sei se o coração pode, fisicamente, emagrecer. Mas o outro, o anímico, esse seguramente que sim. Só nos falta, agora, emagrecer a alma...
Ninguém parece gostar do documento ontém apresentado, pelo Ministro das Finanças, ao Presidente da Assembleia da Repúlica e que foi alvo de tantas e tantas horas de negociação.
Eu ainda sei muito pouco, mas do que já me apercebi, confesso, esperava algo diferente. O cenário nacional está longe de ser animador e julgo difícil alguém acreditar que com aquele dispositivo iremos alcançar a redução de três pontos no défice de 9,3% para 6,3%. Nem sei se esta redução será o mais crucial de todos os problemas que temos.
O que nos falta é a definição de uma estratégia económica. Sobretudo, face ao excesso que temos das mais díspares estratégias políticas. As quais só servem para travar o estabelecimento de um plano de desenvolvimento coerente.
Mais uma vez seremos um país adiado. Os que forem vivos entre 2011/2013 irão acordar e, quem sabe, talvez perceber que a insolvência do país não é uma mera figura de retórica, nem uma previsão catrastofista.
Os dias que se seguem serão importantes na análise internacional das medidas que o Orçamento anuncia. Não vale a pena fazer um discurso empolgante e patriótico para dentro, porque isso não comove os mercados. E são estes que irão ditar muito do que nos vai acontecer.
Ora aqui não começamos nada bem. Com efeito, Nouriel Roubini, um dos poucos economistas que previu a crise provocada pelo suprime, afirmou acerca da situação económica na Europa que "o problema não é apenas a Grécia, é também a Espanha, Portugal e a Itália", porque "todos esses países apresentam não só um endividamento publico crescente, mas também um problema de competitividade".
Assim, depois da prematura "morte lenta" com que brindaram a economia nacional e das notações negativas das agências de rating, o Forum Mundial de Davos que se reune de 27 a 31 de Janeiro, pode ser o degrau descendente que se segue na amarga imagem do país a nível internacional.
HSC

5 comentários:

Anónimo disse...

Não somos um País “adiado”, visto nunca termos sido um País “a horas”. Nem mesmo ao tempo de Manuel I, quando os cofres do Reino estavam cheios. “Somos assim, porque sim”, como dizia o Outro. É sina, cara Helena. Nada a fazer. Há variadíssimas formas onde se poupar, mas as soluções encontradas são sempre as “clássicas”: atingir, mesmo que indiretctamente, a classe média e ataque à função pública, mesmo aceitando que neste sector haverá que optar por mais rigor..., que passava por aspectos que já aqui mencionei, creio bem, em tempos. Por mim, já cheguei à conclusão que a solução é: cada um por si! Poupe-se (quem pode!) e tenha-se o indispensável para sobreviver com dignidade. E um dia, um tipo morre e já não se preocupa mais, é problema de quem cá fica! Chocante? É assim – infelizmente. Francamente, Helena, estou-me nas tintas para o Orçamento. Já deixei, há muito, de ter ilusões. Não vai resolver o meu problema, nem provavemente o do País. Como dizia, uma vez mais, o Outro: “é lá com eles, eu tenho é que pensar em mim!”. Sim, no “mim”! Mas tenho pena (muita) de quem tem pouco. E desprezo aquelas "boutades" de quem está "preocupado" com a perspectiva de uns impostos sobre prémios (deles) no final do ano. E nem crédito dou a demagogias como aquelas de ver os políticos terem reduções de salários (a ser assim, ainda teremos um dia analfabetos como Ministros e por aí!). Preferia ver os grandes gestores (G do BP incluído), muitos de empresas publicas, ou mistas (como hoje a Júdite de Sousa perguntou), a terem reduções drásticas nos seus salários. Mas, como dizia o Outro..enfim, "deixa-los governarem-se...desde que eu me governe, ou seja, consiga poupar para a reformita!"
P.Rufino

causa vossa disse...

Helena

Temo desapontá-la mas não parece ser isso que pensa a nossa simpática e nada desbocada Ana Gomes.

«Por isso a regulação e supervisão financeiras são urgentes e têm de incluir a disciplina, a responsabilização e a punição desta corja mercenária de pseudo-especialistas que se armam em avaliadores da capacidade de endividamento de países. Uma corja que continua a fazer mossa, porque há comentadores politicos e economicos palermas, ignorantes ou mal-intencionados que continuam a ... dar-lhes crédito!»

De qualquer modo que me desculpe a Ana Gomes, mas o meu campeonato é mais um de fio de prumo, sem nós à vista e mesmo de reverso.

Helena Sacadura Cabral disse...

P. Rufino, o problema dos outros diz-nos, também, respeito. Porque, mesmo que egoisticamente falando, entre "esses outros" estão também "os nossos". Para não referir que também lá estamos nós. Que, até ao último suspiro, vamos pagando o que nos queiram tirar...
Pensa na sua reformazita? E quem lhe garante que a tem?
Eu pertenço a um grupo de noventa reformados do Banco de Portugal que recebem metade do que deviam receber porque "não fomos reclassificados".
Um dos meus filhos descontava para a Caixa dos Jornalistas para ter uma reforma melhor. A Caixa foi à vida e neste momento, apesar de deputado, nem à ADSE tem direito!
Então como é que podemos estar nas tintas para o Orçamento?!

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara Causa Vossa
Há bastante tempo que assistimos à menopausa verbal da Dra Ana Gomes. Que fazer? É uma fase que algumas mulheres atravessam muito mal. Ou fazem tratamente de substituição hormonal, ou temos que ter muita paciência! E dar o desconto!

Anónimo disse...

Estimada Helena,
Eu bem a compreendo e subscrevo, mas estou numa fase de grande descrédito relativamente a quase tudo! E isso tudo que me conta é inacreditável, desde essa da Caixa dos Jornalistas, à sua de não reclassificada. Um tipo coisas que nem imagina e fica a pensar! Por mim, preocupo-me com os meus filhos também, como diz. E se calhar nem eles nem mesmo eu teremos reforma.
Um forte e amigo abraço para si Helena, sempre clarividente!
P.Rufino