terça-feira, 31 de março de 2009

Silva Lopes

Tenho um imenso respeito e estima pelo Dr. Silva Lopes. Fui sua colega no princípio da nossa carreira, no Ministério da Economia e, mais tarde, sua subordinada no Banco de Portugal . Pertence ao trio de economistas que, em conjunto com os Professores Luis Teixeira Pinto e Manuel Jacinto Nunes, mais me ensinaram e influenciaram. Se continuo profundamente ligada à carreira que escolhi deve-se, em boa parte, às suas tutorias.

Ontém Mário Crespo, no seu programa, entrevistou-o. Como não podia deixar de ser a conversa foi sobre a actual crise e as formas de a atacar. O retrato foi claro. Portugal gasta cerca de 10% mais do que produz e vive, por isso do crédito externo. Se um dia esse crédito falhar, ele nem quer pensar no que nos aconteceria...

Só que esse crédito está cada vez mais caro e o serviço da dívida cada vez mais difícil. Piores que nós só a Grécia e a Irlanda cujos juros pagos são superiores aos nossos. Ele admite que a contração do PIB possa vir a atingir 2,5%. De facto, quer o consumo quer as exportações estão a retrair-se. O investimento, como se sabe, vai pelo mesmo caminho.

Embora apoie as medidas tomadas pelo governo, é clara a sua preferência pelo investimento público em obras de pequeno porte. Que ajudariam, no imediato, o emprego e as empresas sem ir sobrecarregar as gerações futuras que, neste momento, não podem decidir. Ou seja, prefere a construção e reparação de escolas, por exemplo, a projectos como o TGV ou a terceira ponte sobre o Tejo, cujos elementos de análise crítica estão longe de serem conhecidos.

Silva Lopes tem a enorme vantagem de já ter dado provas da sua competência num dos mais difíceis períodos que Portugal atravessou. Pode, portanto, falar e ser ouvido. Além de dever ser levado muito a sério, porque não pertencendo a partidos, é um homem cuja formação não é de direita. Pelo contrário.

Mais uma vez pude comprovar, nesta conversa, como a idade, no seu caso, só aprimora as qualidades que antes sempre lhe reconheci. Talvez porque não sou de direita nem de esquerda. E tendo dificuldade em me rever no leque partidário actual, sou muito sensível a quem tem a coragem de pensar e dizer, sempre, sem espartilhos, o que considera melhor para Portugal!

H.S.C


domingo, 29 de março de 2009

Três Mulheres

Para quem, como eu, gosta de cinema, não é de estranhar que tenha realizadores de eleição. Já aqui o disse. Revendo, este fim de semana, a cerimónia dos Oscares, dei-me conta de que, cá no fundo, afinal, também tenho predileção por actores e actrizes. Nos primeiros já referi o meu "fanatismo" por Javier Bardem, que tem tudo mais do que baste...
Pois bem, ao ver de novo o espectáculo e o vedetismo "piroso" de Kate Winslet, pondo-se a jeito para as poses de vedeta e a falar dos seus amores passados, não pude deixar de me lembrar de uns bonecos animados intitulados "As aventuras de Helen Miren e Judi Dench", que são de uma comicidade extrema e podem ser vistos no You Tube". Num desses capítulos, as duas eminentes actrizes dirigem-se justamente para a cerimónia de Holywood. Imperdível!
Foi esta lembrança que me fez sentir que faltava ali, no espectáculo real, gente da velha guarda, gente que não precisa de afectação para existir. Lembrei-me de três nomes. Três mulheres. Todas inglesas, por sinal. A saber Maggie Smith, Helen Mirren e Judi Dench. Qualquer delas modelo de beleza crepuscular e de refinamento animal, quase selvagem.
Todas artistas de uma imensa versatilidade, com uma longa carreira nos palcos e às quais a meca do cinema americano, pese embora as diversas nomeações, parece não apreciar particularmente. Dench, que começou aos 17 anos a interpretar a infeliz Ofélia, só em 1998 recebeu um Oscar, já com mais de setenta anos, pela sua interpretação - que durou uns escassos oito minutos - em Shakespeare in love. Hoje, com mais de oitenta, continua a trabalhar e é um regalo vê-la, ao longo do tempo, como chefe de 007 sem que, por papel, lhe caiam os parentes na lama.
Mirren, por seu lado, ainda há pouco nos deliciou com uma fabulosa interpretação de Isabel II a actual raínha de Inglaterra.
Envelhecer assim é, de facto, uma lição para todas as jovens cujo talento só se lobriga através da beleza que, inexoravelmente, o tempo irá desgastar. Por mim, senti-me satisfeita por, uma vez mais, ter consciência desta prerrogativa!

H.S.C

Dois em três...

Não está fácil a vida para o PS. Depois do alvoroço provocado pelas notícias que têm saído envolvendo o nome do PM, da indignação face aos acontecimentos na banca, da crise nacional e internacional, José Sócrates tem ainda de enfrentar dois dos mais respeitados socialistas que periodicamente se rebelam contra ele. Falo de Mário Soares e de Manuel Alegre dois nomes e duas forças incontornáveis que lhe têm dado fortes dores de cabeça.
Ambos pretendem - embora em moldes diferentes - uma viragem à esquerda da sua família política. Só que esse é, justamente, o receio maior do Secretário Geral que, até aqui, tem, no plano económico, governado à direita, mas no plano ideológico vem servindo as causas da esquerda, em particular as que ele sabe serem mais fracturantes. As quais, por isso, também lhe dão maior visibilidade.
Todavia as eleições aproximam-se e, com elas, a necessidade duma definição mais clara acerca daqueles com quem terá que se "entender" se perder a maioria absoluta. E estou já a dar de barato que ganhará as legislativas. Mas aqui um conflito com Soares ou Alegre poderá custar-lhe caro, porque um milhão de votantes não é universo que possa desperdiçar.
Assim, Sócrates está num beco afunilado. Presumir alianças ou entendimentos parcelares com qualquer das forças à sua direita ou à sua esquerda irá trazer-lhe, sempre, riscos suplementares. E governar sem maioria, depois de quatro anos com ela, ser-lhe-á particularmente difícil, dado que exige uma flexibilidade que, me parece, ele não tem. Em particular depois do desgaste destes últimos meses.
Que solução, então? Há quem defenda que se a maioria absoluta se esvaír, Sócrates não governará...

H.S.C

sábado, 28 de março de 2009

O lado público do privado

A incapacidade que o actual governo mostra para lidar com a comunicação social é manifesta, o que surpreende num partido que sempre pretendeu dar de si uma imagem de transparência e tolerância. Pode argumentar-se que o jornalismo actual é por vezes excessivo. Mas quem escolhe ser político escolhe ser escrutinado muito para além das eleições periódicas. É um escrutínio diário a todos os aspectos da vida daqueles que optam por este caminho, muito em particular, aos que exercem funções governativas. Nestes, a distinção entre o que é vida pública e vida particular é tão ténue que me arriscaria a dizer que quase não existe. Talvez porque todos saibamos que há aspectos da vida pessoal que espartilham bastante o exercício das funções oficiais... Basta lembrar Sá Carneiro, que teve a "coragem" de apresentar Snu Abecassis como sua mulher, quando um casamento católico não lhe permitia o divórcio da mãe dos seus filhos.
Direi, mesmo, que a invasão de privacidade se estende - gostemos ou não - à família mais chegada. Que sofre, claro, as consequências de uma escolha que não foi sua. E, neste caso, ou há uma verdadeira "união familiar", que alguém tem de saber gerir, ou os resultados podem ser desastrosos para todos.
O que também impõe aos políticos em exercício de funções governativas, não usarem essas mesmas funções para tentar silenciar o que a comunicação social, no desempenho do seu papel, se esforça por descobrir para informar. Quando a informação publicada não for verdadeira, os Tribunais são a instância própria para a julgar. Se há crime de difamação compete ao cidadão recorrer à Justiça para repor a verdade dos factos. Tudo o resto só prejudica o próprio e os seus.
O que um Primeiro Ministro não deve fazer, ao sentir-se injustiçado, é usar justamente os meios de comunicação social para justificar os seus actos.
"Quem não deve, não teme", diz o povo e tem razão. Os media podem estar a incomodar muito o Eng. Sócrates e a sua Família. Estão com certeza. Mas o chefe do governo não deve publicamente perder tempo de governação para lhes responder.

H.S.C

quarta-feira, 25 de março de 2009

Falências...

Em Portugal fecharam, desde Janeiro deste ano, mais de oito mil empresas. Ou seja, diariamente encerram as suas portas cem unidades.
A construção civil é uma das áreas mais afectadas. E não são apenas as construtoras. São, também, todas aquelas que estão ligadas a esta actividade, tais como pedreiras, cimenteiras, marmoristas e carpintarias.
Embora uma parte desta situação se deva à crise e ao agravamento das condições do crédito, o mercado espanhol deu, também, a sua contribuição, ao lançar no desemprego muitos portugueses e liquidar uma série de pequenas empresas familiares que viviam daquele mercado. Acredita-se que Angola possa ser a alternativa para todos aqueles que trabalham no sector. De facto, julga-se que já lá estejam mais de cem mil portugueses a trabalhar. Verdadeira ironia de um país que começava a acreditar ser a Europa o seu destino...

H.S.C

As quotas femininas

O género feminino representa cerca de 52% da população mundial. Em Portugal a proporção não se afasta muito desta taxa.
Ora será este ano que, pela primeira vez, os partidos irão ter de cumprir a lei que impõe que 33% das listas eleitorais sejam ocupadas por mulheres.
Sempre fui contra esta determinação, porque entendo que que não é por decreto que se impõe ao género feminino uma participação que o mesmo parece, ao longo dos anos, rejeitar.
O sistema não é novo nem sequer original. Antes de nós, outros países ditos desenvolvidos, o puseram em prática, até o mesmo se tornar desnecessário. Falo dos países nórdicos, por exemplo.
Esta "Lei da Paridade" ainda nos vai trazer dissabores, ao permitir que as escolhas sejam não por mérito mas sim por género. Que, como se adivinha, sendo a pior forma de escolher o que quer que seja, acabará por se virar contra nós. E é também muito possível que o sexo feminino "apenas" apareça para fazer cumprir a lei. E que, posteriormente, estas mulheres venham a ser substituídas, em caso de impedimento, pelos homens que "naturalmente" se lhes seguirão nas listas...

H.S.C

terça-feira, 24 de março de 2009

A Fome

Falar da crise, nos seus múltiplos aspectos, tornou-se o único tema que ocupa os media. Além dela só o futebol consegue prender a atenção dos portugueses. E, quase sempre, pelos piores motivos...
Mas hoje a minha leitura da imprensa foi como um soco no estômago. Porquê, perguntar-se-ão os que me leiam? Porque a fome parece ter-se instalado em Portugal.
Com efeito, perante a torrente de pedidos de famílias a viver situações dramáticas, várias dioceses estão a abrir os seus refeitórios àqueles que menos podem e pensam abrir novos espaços para alimentar quem não tem para comer.
A Cáritas está mesmo a encarar a hipótese de vir a distribuir senhas de supermercado para que as famílias possam comprar alimentos. E eu conheço quem, no terreno, já esteja a entregar refeições para serem consumidas em qualquer local tentando, deste modo, respeitar a intimidade daqueles que a elas recorram.
O soco que recebi foi por me ter lembrado da "sopa dos pobres" que, quando eu era pequenina, constituía o único alimento tomado pelos seus beneficiários. Alguém pensou ver, de novo, esta situação em Portugal?

H.S.C

sábado, 21 de março de 2009

Gran Torino ou a alma lavada...

Há fins de semana em que cada um se sente recompensado de cinco dias, quando não mais, de trabalho aturado. Ontém, sexta feira, fui convidada para assistir, na Fundação Oriente, a uma palestra sobre a India. Tinha muito que fazer e aquela quebra de trabalho ao fim da tarde, estava a procupar-me. Este meu lado germânico, dá-me sentimentos de culpa quando não cumpro todas as obrigações... Mas o orador era o Embaixador Marcelo Mathias e em boa hora aceitei o desafio, a que se seguiria, na mesma casa, um excelente jantar na muito boa companhia do Embaixador do México e da sua Mulher que é uma pessoa encantadora.
Aprendi mais sobre a India naquela conferência do que nos vários livros que li sobre o país. A visão de um diplomata culto e inteligente, acrescenta sempre algo àquilo que o comum dos mortais julga saber. Noite ganha, portanto!
Sábado, dia de convívio com o meu neto mais velho, um adolescente a entrar na juventude, com 15 anos de uma imensa cumplicdade entre nós. Não precisamos falar muito para sabermos que estamos próximos e bem. O que eu julgo ser a dádiva divina para contrapôr ao karma da carreira politica filial, que tanto me dói.
Almoçámos em conversa profunda sobre o que ele e eu achamos ser o futuro de cada um. Parece triste? Ao contrário. A nossa proximidade é tão grande, que nos rimos um do outro sempre que abordamos este tema. Depois marchámos para o cinema - somos ambos devoradores de filmes, música e livros - ver um filme fabuloso, do mestre Clint Eastwood. Refiro-me a Gran Torino, produzido, realizado e interpretado por este homem a quem a idade vem, sucessivamente, acrescentando mais qualidade.
Trata-se de uma pequena grande história que gira à volta de um Ford Gran Torino de 1972 e encerra em si um mundo de contradições só possíveis, diria eu, na América. Mas corrijo: numa certa América. Que viveu certas guerras das quais guarda, ainda, boa memória.
Saímos silenciosos e assim continuámos até casa dele. À despedida deu-me um abraço apertado e disse-me, quase num murmúrio, que estava com a alma lavada...

H.S.C

quinta-feira, 19 de março de 2009

Frugalidade

Fui educada numa família numerosa onde não me faltou nada. Mas onde, igualmente, se não toleravam desperdícios. E quando algum do netos manifestava vontade de ter alguma coisa especial, a filosofia familiar era a de permitir e satisfazer, desde que fosse em benefício da educação ou da cultura. Assim, quando eu, vaidosa, fazia alguma birra por querer algo que não respeitasse estes valores, a resposta era, sempre, "aprenda a ser frugal", porque é disso que o país precisa e a menina também.
Alguns suaves castigos marcaram a minha aprendizagem dessa frugalidade, da qual a minha avó Joana jamais abdicou. Mas aprendi. A vida viria a confirmar-me que só com uma rigorosa selecção das escolhas e dos gastos, estes são reprodutivos. Mais tarde, a opção profissional que fiz deu a este valor o enquadramento indispensável.
Gosto, como todo o mundo, de coisas bonitas. Possuo algumas. Mas quando olho para elas, tenho a noção precisa do quanto elas me custaram. Em dinheiro e em privação do que não fiz, para delas poder usufruir. Em particular no que ao vício da pintura se refere...
Na minha sala tenho um Dourdil de que gosto particularmente. Quantas vezes, ao olhá-lo, não sorrio a pensar na série de inutilidades que deixei de comprar para o ter? Podia citar imensos exemplos destes.
Hoje, no dia do Pai, que infelizmente já não tenho, lembrei-me da frugalidade com que ele viveu a sua vida. Convencido que estava de nos ter preparado, a todos, para uma práctica que, afinal, aos poucos vai, forçosamente, voltar a ser a nossa. Felizmente, creio!



H.S.C

quarta-feira, 18 de março de 2009

A sexualidade e a Igreja

Sou católica praticante. Batizei-me com 19 anos. Consciente, portanto, do simbolismo e do compromisso do gesto. Sinto-me filha de Deus. Mas, nesta condição, rebelo-me algumas vezes com os represententes do Pai, na Terra.
Em matéria de sexualidade e com os condicionalismos da vida de hoje, sinto que é pedido aos homens que sejam santos. E nem todos podem ou são capazes. Esquecendo-se uma virtude cristã essencial, que é a tolerância e a sua magnífica corporização, no amor do próximo.
Rebelei-me, há dias quando, a propósito de uma criança de nove anos, grávida do familiar mais próximo, a hierarquia decidira excomungar aqueles que, para ela não morrer, haviam praticado o aborto clínico. Deixando, afinal, fora dessa excomunhão o pai, responsável pelo acto. Arrepiei-me só de pensar que aquilo que a comunicação social relatava podia ser verdade.
O Papa visita hoje os Camarões e segue para Angola, na sua primeira viagem a África, o continente minado pelo HIV. À chegada, entre afirmações carregadas de preocupação por justiça e pelos direitos humanos, indiscutivelmente muito importantes, abordou o tema da sida, para condenar, mais uma vez, o uso do preservativo que considera não resolver o drama que se vive ali.
Voltei a rebelar-me. Claro que não é para "resolver" o problema que eles são distribuídos. É para "prevenir" a sua expansão. É para evitar que as crianças que nascem já infectadas possam contaminar futuros parceiros. É para dar a populações que nada têm ao seu alcance, a possibilidade de fruir de algum prazer, sem o custo inexorável do contágio. É, enfim, para permitir alguma vida àqueles cuja única chance é morrer.
Eu sei que a Instituição leva muito tempo a refazer-se e não pode questionar-se sobre certas matérias, sem correr o risco de desagregação. Mas também sei que, hoje, o sacerdócio, as vocações e a práctica religiosa se estreitam cada vez mais, despovoando as Igrejas de fieis. Que se sentem marginalizados e abandonados por ela.
O diálogo impõe tolerância e flexibilidade. A pulsão sexual nos jovens é muito forte e dificilmente compaginável com a castidade pura e dura, num mundo onde as primeiras relações despontam aos 14 anos. Se Deus, materializado em cada um dos párocos que nos acompanham, se não compadecer com os jovens, vai perdê-los. Qual é o Pai que face a isto, se não se solidariza com os filhos? Tenho a certeza que Ele, na sua infinita bondade, compreende todos aqueles que não conseguem ser santos...

H.S.C



O Juizo de Teresa

Não há economista que não tenha ouvido falar de Teresa Ter-Minassian. Sobretudo, se fôr da fornada que, nos anos oitenta, trabalhava no Banco de Portugal ou no Ministério das Finanças.
Conheci-a nessa altura. Sei que Portugal não tem para ela segredos, e que foi o seu pulso no Fundo Monetário Internacional que, naquela época, comandou uma boa parte do destino nacional.
Uns, consideravam-na duríssima pelos imensos sacrifícios a que nos sujeitava. Outros, ao invés, admiravam o seu estilo e a sua imensa capacidade técnica. Filio-me entre os últimos, embora perceba os primeiros.
Teresa está de novo em Portugal, agora para uma reflexão sobre a crise, as suas causas e as suas consequências.
Para esta especialista terá sido a ideia de que as crises financeiras e bancárias se cingiam aos paises emegentes que, conjugada com a exagerada desregulação e com os sucessivos desiquilibrios macro-económicos, terá estado na base da actual crise.
É sua a afirmação de que "teremos trabalho por muitos anos" e a admissão de que o nosso endividamento aliado ao já crónico reduzido crescimento, possam colocar-nos na contingência de vir a precisar de ajuda internacional. Quem garante que tal não acontecerá?

H.S.C

segunda-feira, 16 de março de 2009

Rania da Jordania


A rainha Rania, de origem palestiniana, é casada com o rei Abdullah II da Jordania e está entre nós a acompanhar o marido, na visita oficial ao nosso país. Vem, igualmente, receber um prémio concedido pelo Conselho da Europa, que distingue personalidades que contribuem para estreitar as relações entre os países do Norte e do Sul.
Numa entrevista concedida a um diário, fala do relacionamento entre o Ocidente e o Oriente e, também, da situação das mulheres no mundo árabe. A tónica fundamental da conversa incidiu sobre a necessidade de fortalecer a confiança mútua, de modo a permitir que povos que vivem lado a lado, se possam conhecer melhor. Dá, aliás, particular destaque à mudança, hoje imperiosa, das mentalidades como ferramenta essencial na promoção da paz. No que à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres se refere, revela que o seu reino tem feito grandes progressos. E cita o exemplo de quatro ministras do governo do seu país.
Ao ler a entrevista não pude deixar de me pôr a questão: quantas mulheres portuguesas são ministras deste governo tão preocupado com a paridade de géneros?A resposta é simples, apenas duas!

H.S.C

Nota
Instituído em 1995, o galardão premeia as figuras públicas que mais se tenham destacado na sensibilização da opinião pública em prol dos direitos humanos, do pluralismo e do diálogo entre os países do Norte e do Sul. Entendeu quem de direito que Jorge Sampaio fosse co-vencedor da distinção atribuída à rainha Rania Al- Abdullah.
A entrega realiza-se em Lisboa porque é na nossa capital que está sediado o respectivo Centro.

A 16 de Março

"...Irreflexão dos oficiais que se lançaram na aventura...
...Irreflexão por não considerarem que, em tempo de guerra subversiva, toda a manifestação de indisciplina assume particular gravidade. Irreflexão por não terem em conta que há manobradores políticos, cá dentro e lá fora, prontos a explorar todos os episódios de que possam tirar partido para cavar dissenções internas e minar os alicerces do Estado e fazer beneficiar interesses do estrangeiro"

(Excerto de um discurso do Prof. Marcelo Caetano, em vésperas de ser derrubado)

A 16 de Março dava-se em Portugal um primeiro ensaio do que, depois, viria a surgir com o 25 de Abril. Para quem, como eu, trabalhava, à época, no Banco de Portugal, a rebelião não causou grande surpresa. Há já algum tempo que os mercados financeiros revelavam comportamentos indiciativos de que algo se estava a preparar. Se um dia, alguém decidir fazer a história socio-económica deste período, não poderá deixar de referir estes aspectos, dos quais, aliás, até agora, por estranho que pareça, pouco se tem falado.
O golpe das Caldas, como ficou conhecido, pretendia agrupar diferentes unidades militares espalhadas pelo país. Acabou, contudo, por ficar cingido ao Regimento de Infantaria 5, o RI5, nas Caldas da Rainha. As razões de tal acontecimento estão, para alguns portugueses, ainda hoje, longe de ser claras. Muito se falou de falhas de comunicação. Podem ter sido ou não.
O que me leva a recordar o dia e a transcrever aqui uma parte do discurso do então PM é a noção que tenho de que, em política, as decisões mais importantes pecam, quase sempre, por tardias. Será por autismo? Será por incapacidade de previsão? Ou será, antes, porque o poder torna os governantes irrealistas?
Seja o que for, a verdade é que essas incapacidades têm custos elevadíssimos para todos nós. E que seria bom que, pelo menos em Portugal, elas não voltassem a acontecer...

H.S.C

domingo, 15 de março de 2009

Sábado à noite...

Aqui está o que disse antes. À noite, desafiada pelo meu filho mais novo, fui com ele ver o espectáculo do Casino de Lisboa, chamado Fuego. Fabulosa prova de flamengo, com Carmina Borana à mistura. E aí estava eu, de pé, a aplaudir e a gritar bravo a plenos pulmões, arrastando comigo o político que tinha ao lado, felizmente esquecido da função e apenas impregnado do entusiasmo partilhado. Que bom é quando posso estar com os meus rebentos desta forma!
Mas não será desta minudência familiar, para mim tão gratificante, que vos quero falar.
Quero partilhar convosco duas contradições. Primeiro, a beleza duma exibição na qual a "raça" do país vizinho está presente de forma emocionante durante a cerca de hora e meia. Não escondo de ningúem que, tendo sangue espanhol a correr-me nas veias, o meu iberismo possa ter razões genéticas. É algo que me aproxima do meu filho mais velho e não colhe grandes simpatias do outro, apesar da percentagem ibérica de ambos ser ainda maior do que a minha, acrescida que é, pelo lado paterno, onde também corre"sangre de España".
O que queria, era falar-vos do prazer de ver uma sala completamente cheia de gente, de pé, entusiasmada com a qualidade do que acabara de ver e, por uns momentos, esquecida da crise.
Segundo, e de sentido contrário, a minha tristesa quando, ao vir para casa, obrigada pelas obras no Terreiro do Paço, a circular por zonas velhas da cidade, por volta das três da madrugada - prolonguei o convívio familiar com uma ceia - fui confrontada com jovens adolescentes em magotes, bastante embriagados, ou até já mesmo drogados, que faziam da via pública a sua casa.
Pergunto: como é possível que pais conscientes deixem filhos, que não teriam mais que 12 ou 13 anos, estarem, àquela hora da madrugada fora de casa, dando-lhes, de certo, a chave e a semanada que permitem que tal aconteça? A que horas e em que condições irão aquelas crianças chegar ao lar paterno? Levarão consigo as amigas que poderão aumentar o já elevado número de gravidezes na adolescência? Ajudá-los-ão no eventual aborto que se segue? Haverá alguém que inquira isto, ou encontram-se todos à hora do lanche, felizes e tranquilos, para a primeira refeição do dia? Que vida vão ter estes jovens? Que ideia fazem do seu papel na sociedade actual?
Depois duma noite tão gratificante, esta apoteose final, deu mesmo cabo do meu sono!

H.S.C

sábado, 14 de março de 2009

Tempos de Verão

Já aqui contei que passo longos períodos sem ir ao cinema. Depois "engulo" dois ou três filmes de uma vez. Hoje, quando tudo apontaria para uma tarde ao sol no meu terraço ou na praia, decidi enfiar-me numa sala, convencida que seria uma das pouquíssimas espectadoras. De facto, assim foi.
Costumo fazer as minhas escolhas pelos realizadores. Os actores são a segunda opção. A menos que seja um Javier Bardem, um bocado de mau caminho que elimina, de imediato, qualquer outra consideração.
Não queria ver dramas, mas na selecção feita, nem o realizador nem os actores me diziam muito. Havia uma Juliette Binoche, de quem gosto, mas que me não empolga. A preferência saíu, assim, do desejo de descansar a cabeça, de gozar do silêncio de uma sala quase vazia e das estrelas dadas pelos críticos de quem mais gosto. Arrematei, deste modo, o L' HEURE D´ÉTÉ, realizado por um senhor chamado Olivier Assayas e pessimamente traduzido por TEMPOS DE VERÃO. Melhor seria que tivessem deixado o título no singular...
O filme é tipicamente francês no desenrolar dos planos e da história. Diria, até, simples como "bonjour". Uma mãe que tem 75 anos e quer falar com o mais velho dos três filhos acerca do que se passará após a sua morte.
A mãe morre algum tempo depois. A fita irá contar a história das partilhas. Iguais às de tantas famílias que conhecemos. Mas fala, também, de laços familiares. Entre irmãos, pais , filhos e netos.
Curiosamente, o diálogo não é o mais importante. É apenas o veículo de transmissão de como as gerações vão evoluindo. Termina, como eu teria terminado, se escrevesse aquele guião. Um soco no estômago, não pela violência, mas pelo choque emotivo que provoca.
Atrás, alguém dizia que a fita deprimia. Ao contrário, eu senti que ali poderia estar um bocadinho do futuro de todos nós...

H.S.C

sexta-feira, 13 de março de 2009

Lamentável

Lamentável o que aconteceu entre Manuel Alegre e José Lello. A disputa política não pode e não deve, nunca, deslocar-se para o plano pessoal. Manuel Alegre tem direito a desempenhar a função de deputado, eleito, com dignidade, sem ser julgado como alguém sem carácter. Os partidos democráticos aglutinam pessoas que têm divergências e nisso reside uma boa parte da sua riqueza. Fazer dessas diferenças motivos de julgamento moral é um descrédito para a vida partidária em geral e para o PS em particular.
Lamentável, também, que a visita de José Eduardo dos Santos - sem dúvida útil e desejável do ponto de vista económico - tenha decorrido com excessos inteiramente desnecessários e que são sinal da forma como se vive, ainda, em Angola. Nomeadamente, no que à segurança e à comunicação social se refere. Nem falo, já, do tom de certos discursos.
Ser pobre não implica não ter vergonha e ainda há pobreza envergonhada que merece todo o apreço. Portugal, não sendo rico, deve dar-se ao respeito.
Lamentável, também, a dimensão da comitiva que acompanha o PM na sua visita a Cabo Verde. Metade da governação foi com ele, incluindo, pasme-se, Secretários de Estado. Para completar o quadro lá foram os Magalhães, sobre os quais, agora, até impendem deficiências gramaticais sérias. Um PM, do meu ponto de vista, não deve ser o vendedor de um produto que, como se sabe, nem sequer é nacional. Que dirão, que sentirão, os criadores dos autênticos produtos portugueses?



H.S.C

Será possível?

Leio, angustiada, que um pai levou no carro o seu filho de nove meses, para o entregar na creche que ficava perto do seu local de trabalho. Como a criança dormisse, tranquila, quando chegou ao seu destino, decidiu deixá-la na viatura, por uns momentos, para marcar presença na reunião que o esperava. Entretanto, não mais se lembrou do assunto, embrenhado nas tarefas profissionais.
Na creche, passado algum tempo, decidiram indagar das razões da ausência do petiz. Só nesse momento o pai se lembrou do que acontecera.
Nada a fazer. A criança morrera de desidratação. Numa cidade, num automóvel estacionado ao sol, numa linda manhã de primavera. Porque um pai, preocupado com o trabalho, se "esquecera" do seu filho.
Este caso, passado entre gente dita normal, é paradigmático da forma como alguns de nós vivemos, num frenesim permanente, sem pausas, sem descanso, sem tempo para a família que voluntariamente constituímos.
Que vida vai ter este homem, depois do acontecido? E como sobreviverá a mãe e mulher do autor? Alguém consegue resistir a tamanha dor?
Ignoro se há ou não outros filhos. O que sei é que tem de haver graves perturbações numa sociedade em que tal acontece. O mundo em que vivemos parece não se dar conta de que episódios destes são sinais. Sinais de profunda alteração na escala dos nossos valores.
No fundo a labuta-se diariamente para se manter um emprego que é essencial para manter a família para a qual, afinal, nem sequer se tem tempo. Sérá a isto que se chama viver?!

H.S.C

quinta-feira, 12 de março de 2009

A arte do equilíbrio

A propósito dos comentários enviados e todos publicados, vou-me permitir, hoje, um texto mais pessoal. É do domínio público que tenho dois filhos na política e que teria desejado para qualquer deles um destino profissional bem diferente. Mas amar é respeitar e, por isso, a maior prova que lhes posso dar do meu imenso afecto, é acompanhar empenhada e interessada, a carreira de qualquer deles. E sofrer, silenciosamente, quando algo me magoa nos muitos comentários que se fazem a respeito deles.
Diz "Criativemo-nos", nas suas considerações, "não posso imaginar a arte do equilíbrio no seu mundo familiar". Tem toda a razão. Só porque Alguém lá de cima me protege, é que eu consigo conviver e partilhar destes dois mundos que parecendo tão opostos são, afinal, tão semelhantes.
Sou filha de uma família numerosa tanto do lado paterno como do lado materno, onde as ideologias se agrupavam em dois grandes grupo. De um lado, os anglófilos. Do outro, os germanófilos. Aprendi com a minha avó Joana que o importante era que cada um pudesse pensar livremente. Sem medo. Foi essa sempre a sua práctica. Inclusivé materializada quando comprou duas telefonias para que cada metade familiar pudesse ouvir as notícias que mais lhe interessava sem as impor à outra metade...
Os meus filhos cresceram ambos educados a preocuparem-se com o que consideravam ser melhor para o país em que viviam. Sem constrangimentos ou verdades universais. Depois, depois cada qual escolheu o seu caminho. Umas vezes, concordo com um. Outras, concordo com o outro. Outras, ainda, com nenhum deles. Mas, jamais, algum se sentiu inibido ou constrangido de me dizer o que pensava, porque qualquer deles sabia e sabe, que eu sou a primeira das suas ouvintes. E, se possível, a mais imparcial.
Este é o equilíbrio que tento ter e transmitir, agora, aos meus netos. Fácil? Difícil? Em verdade, não sei responder. Apenas sei que é a forma que encontrei de amar e juntar a família que tenho.

H.S.C

Nota final
Se ao nível do país fosse possivel fazer o mesmo, eu já ficaria muito feliz. O problema é que o maior objectivo partidário não é aceitar a diferença, mas tentar estrangulá-la. Por isso sou tão defensora dos movimentos de cidadania onde se misturam as ideologias na defesa daquilo que são as preocupações comuns.
Em democracia não é esse o caminho escolhido. Por isso nunca fui capaz de me filiar num partido. É que não consigo abdicar da minha liberdade de pensar e de me exprimir para seguir uma diciplina do voto.

quarta-feira, 11 de março de 2009

A Estabilidade

Subitamente a palavra "estabilidade" virou, na política nacional, panaceia para todos os males que se adivinham para o país, caso ela se não verifique. Mas, afinal, qual é o significado dessa expressão de poderes miraculosos?
Para Candido de Figueiredo ela é "a qualidade daquilo que é estável". E, ainda para autor do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, estável significa "firme, sólido, duradouro, inalterável".
Quer isto dizer que quando se pede aos portugueses a maioria absoluta para o PS, porque só ela é o garante da "estabilidade" necessária para vencermos os problemas que se adivinham, o que se pretende, de facto, é que a inalterabilidade se instale. Ora a estabilidade, como objectivo, além de não resolver qualquer questão é, pelo contrário, paralisante das transformações de que Portugal carece.
Já no tempo da "outra senhora" a estabilidade justificou anos seguidos de ignorância e de subdesenvolvimento. O que está por detrás desta inalterabilidade é o silenciamento - eu que o diga - das vozes dissidentes.
A desestabilização do país, tão invocada agora, neste tempo de eleições triplas, só serve para atemorizar os mais fracos, a quem convenceram de que a pátria não tem alternativas políticas.
A democracia não é isto. Nem o 25 de Abril se fez para implantar novos unanimismos.
É bom que aqueles que votam e não são clientes partidários, tenham bem consciência de que há vida para além do PS. Felizmente!

H.S.C

terça-feira, 10 de março de 2009

Medina Carreira

Há verdades duma crueza enorme. Aconteceu, ontem, na entrevista conduzida por Mário Crespo ao antigo Ministro das Finanças, Medina Carreira.
Poderá dizer-se que o entrevistado é um homem desencantado - quantos de nós não somos e quantos o não serão ainda? - e catastrofista. Nenhuma destas características, mesmo a serem verdadeiras, altera a argúcia com que ele se debruçou sobre o "estado da arte" em que vivemos, demonstrando, com numeros, que teríamos voltado a um patamar que se aproxima daquele em que viviamos no princípio da Republica.
Mas o que mais me impressionou no diálogo travado, foi o que Medina Carreira disse sobre a democracia e os seus pilares, que são os partidos. A minha maneira de sentir aproxima-se muito da sua. É que acredito cada vez menos nos ditos e na qualidade do seu funcionamento. Logo, a desmotivação para votar vai num crescendo. Admito fazê-lo, e apenas por amor de mãe, nas europeias... Quanto às restantes, tenho muitas dúvidas!
Para quem tem - felizmente na oposição - membros da família na política, a desilusão é ainda maior, porque se sente que nada do que transmitiu aos seus se espelha na ctividade partidária nacional.
O meu desalento - e eu sou uma privilegiada, que ainda tem trabalho - não será tão grande como o do antigo ministro, mas anda lá muito perto. Correr o país e ver a fome instalada, as diferenças sociais agravadas, os jovens sem trabalho, as empresas a fechar, a violência a aumentar, enfim, ver Portugal a consumir mais do que produz, num caminho inexorável para ter o crédito cortado, dá-me uma imensa mágoa.
Medina Carreira apontou grandes responsabilidades ao sistema partidário nacional, essa imensa empresade colocação de pessoal próprio. E apontou, mais ou menos veladamente, para a hipótese dum sistema presidencialista, do tipo americano, devidamente fiscalizado. Estará errado?

H.S.C

domingo, 8 de março de 2009

Dia da Mulher

As celebrações do género feminino, como, aliás, a imposição das quotas respectivas, estão longe de me causarem qualquer espécie de gáudio. Sempre gostei de ser mulher e de ser diferente do homem.
Sei, é evidente, que muito daquilo de que hoje disfruto, em termos de liberdade pessoal, se ficou a dever ao esforço de muitas irmãs antes de mim. Mas também reconheço que uma parte das dificuldades que enfrentámos, se terá ficado a dever ao tipo de educação que ministrámos aos nossos filhos.
Ao longo da história, as mães sempre detiveram o poder de fazer dos seus filhos os homens e as mulheres de amanhã. É, afinal, nessa atribuição que reside a nossa principal força. Que, diga-se, está longe de ser pequena!
Se a mensagem que passarmos aos descendentes for a de uma sociedade inevitavelmente feita por ambos os sexos, com tudo o que isso implica de igualdade de oportunidades e respeito pela diferença, nem as quotas obrigatórias são necessárias, nem o 8 de Março representa mais do que um mero símbolo do passado.
Sei do que falo. Criei dois filhos homens. Tenho dois netos rapazes. Em nenhuma ocasião terei permitido que algum deles me olhasse senão como uma igual ao pai ou ao avô. E não creio ter feito nada de especial. Só nunca consenti ser vista como alguém dum género menor.

H.S.C

sábado, 7 de março de 2009

Donativos...

Por mais estranho que possa parecer, ninguém consegue saber se os donativos feitos através das declarações de IRS, chegam aos destinatários finais. Surpreendente? De certo. Mas em Portugal é assim.
Como se sabe, nos impressos há um local próprio destinado a increver a instituição de solidaridade social à qual desejamos ver consignada a percentagem de 0,5% do montante de imposto a pagar.
Contudo, poucos sabem que aquela decisão apenas se torna efectiva, se a instituição por nós escolhida pertencer ao grupo das que preenchem os requisitos necessários e se encontram registadas no Ministério das Finanças. Ora aqui começa o primeiro problema: não está publicitada a lista das entidades a quem podemos ajudar. O que se explica, dizem, por força do sigilo fiscal.
O segundo problema decorre do Estado não informar se o donativo, mesmo quando feito a instituição válida foi, ou não, entregue. Ora o que seria justo é que o contribuinte fosse notificado do que acontecera à sua doação.
No meu caso particular costumo escolher a Liga Portuguesa Contra o Cancro. No ano passado quis saber se ela recebera, de facto, a minha contribuição. Por isso telefonei a saber. Pois a resposta foi... que "deveria ter recebido".
Perante a minha insistência, aliás absolutamente inútil, fiquei na dúvida se os meus 0,5% lá teriam chegado. O que me irritou sobremaneira. Assim, e porque se aproxima a época dos impostos, não haverá alguém que queira debruçar-se sobre a matéria e arranjar uma forma de a DGCI nos comunicar o destino da reserva que fizemos, nem que seja quando nos manda a guia para pagamento do imposto, no ano seguinte? Julgo que todos ficariamos contentes e mais descansados!

sexta-feira, 6 de março de 2009

A idade útil

Uma amiga minha que tem 42 anos foi a uma entrevista de trabalho. Tudo correu muito bem e ela saíu bastante entusiasmada. É uma mulher com um excelente curriculum profissional e fora abordada por uma firma de "head hunters".
Alguns dias passados, foi-lhe comunicado que apesar de possuir as melhores habilitações para o cargo, a empresa preferira alguém mais novo. Perante a sua surpresa, foi-lhe explicado que ela já estava fora da "idade útil"! E como ela ousasse perguntar o que a expressão significava, esclareceram-na que ela se aplicava às profissionais com mais de 35 anos. Face ao espanto clarificaram, ainda, que nos homens aquele limite se estendia até aos 45 anos...
Contudo, sentindo necessidade de tornar a decisão mais clara, acrescentaram "sabe na sua idade ainda não se é velho, mas também já não se é novo".
A Marta, é dela que se trata, contou-me isto com um misto de humor e de vexame. Mas por uma qualquer razão, eu que tenho bem mais do que aquelas quatro décadas, dei comigo a pensar depois daquela conversa, no nome que darão às mulheres da minha geração que, como esta vossa bloguista, ainda fazem um horário laboral que, em muitos dias, ultrapassa as oito horas?
Acho que dirão que atravesso a "idade utilitária"!


H.S.C

terça-feira, 3 de março de 2009

Guiné

A vida política da Guiné, nos últimos trinta e cinco anos, nunca foi estável. Com efeito, desde 1973, ano em que o PAIGC declara unilateralmente a independência do país e em que Luis Cabral se torna presidente, os acontecimentos violentos foram-se sucedendo.
Em 1980, o golpe de Vieira derruba Cabral e em 1994 aquele torna-se Presidente, nas primeiras eleições livres ali realizadas. Cinco anos mais tarde, será o chefe do Estado Maior Ansumane Mané, que irá derrubar Nino. Um ano depois aquele é assassinado e Kumba Ialá será feito Presidente. Em 2003 o novo Chefe de Estado Maior, Veríssimo Seabra, irá destitui-lo para, um ano depois, ser ele próprio assassinado por militares. Em 2005 Vieira sairá do exílio em Portugal para vencer as eleições. Três anos depois, em 2008, sobrevive a uma tentativa de golpe militar. E ontém, quer Nino quer o chefe de Estado Maior, Tagmé Na Waié, serão mortos. Basta a descrição destas três décadas e meia, para se ter a idéia do que terá sido a violência na ex colónia. Com um PIB per capita de 200 dolares e uma meia dúzia de etnias, o território tornou-se a placa giratória do narcotráfico e os seus problemas estão muito longe de ter solução à vista.
A pergunta que me ocorre é se a morte destas duas figuras, num quadro como o que acabo de descrever, não poderá ser, afinal, uma oportunidade para a reparação de um Estado de direito. Não falo em democracia porque, entendida esta em termos ocidentais, vejo difícil a sua aplicação num país africano como a Guiné.

H.S.C

domingo, 1 de março de 2009

Sempre iguais

Parece que nada têm de comum. Refiro-me ao restaurante Gambrinus e ao bairro de Campo de Ourique. Nutro pelos dois um carinho especial que, só por si, já bastava para os ligar no mundo dos meus afectos. Mas têm, ambos, outra característica: a de se manterem iguais nestas útimas quatro décadas de vida.
No Gambrinus encontro sempre a mesma atenção, a mesma qualidade e a mesma ementa. Posso ir de tarde ou à noite, sozinha ou acompanhada, que o carinho na saudação é o mesmo. Direi, até, que se esmeram em me resguardar quando apareço em solitário.
Viveram a revolução sem revoluções internas e, talvez por saberem que isso só aconteceu porque os clientes amigos não fugiram, tratam-nos como se fizessemos parte da casa.
Campo de Ourique também. Podem abrir lojas novas mas a maneira de existir não se alterou. Continuam a co-existir novos e velhos, ricos e remediados. E nas suas ruas planas há tudo o que o cidadão normal precisa: cafés, pastelarias, drogarias, retrosarias, ourivesrias, quiosques de jornais.
Ao contrário do bairro onde vivo, que morre todos os dias um pouco, Campo de Ourique mantém-se vivo e é uma lufada de ar fresco que não dispenso. Ambos mostram, afinal, que em Portugal nos podemos manter iguais, sem que isso signifique qualquer perda de qualidade.

H.S.C