segunda-feira, 6 de julho de 2009

E se eu fosse Dolores Aveiro?

Acabei de assistir - televisivamente, claro - à apresentação do CR9 no estádio de Santiago Barnabeo. Eram 80.000 espectadores a aplaudirem o melhor jogador do mundo de futebol.
De repente pensei o que sentiria a mãe do jogador naquele momento. E, vaidade suprema, pensei em mim. Dei uma sonora gargalhada, amarela e bem sem graça.
É que se eu fosse Dolores Aveiro estaria feliz da vida. Primeiro, porque gosto de futebol. Segundo, porque vibro ao ver jogar o puto maravilha. Terceiro, porque não teria de trabalhar até ao fim da minha vida. Quarto, porque mesmo que tivesse dois filhos não poderiam ser os dois igualmente bons jogadores, visto que "melhor do mundo" há só um. Quinto, porque não teria de ter esta magestática gestão familiar. E não avanço mais razões...
Cresci numa família em que o irmão mais velho do meu Pai foi um herói nacional. Fui educada no seu exemplo. Hoje só a familia o relembra e a pátria já o esqueceu. Como esqueceu outros. Na terrinha não gostamos de heróis. Não se parecem connosco. A menos que sejam ídolos da bola.
Eduquei dois filhos para serem cidadãos comuns e conscientes. Longe da política e dos flashes. Decidiram ambos fazer jornais. Já foi difícil.
Depois decidiram ambos abraçar uma carreira que não aprecio e me faz sofrer. Mais difícil ainda, se possivel...
De comum, o amor que têm por mim!
Porque não serei eu Dolores Aveiro, a também amada mãe de Cristiano Ronaldo?!

H.S.C


20 comentários:

Pedro disse...

se fosse mãe do Ronaldo, não escrevia, e não era quem é, e é muito bom que seja quem é :-)

Anónimo disse...

Desculpe-me discordar, mas toda a gente conhece Sacadura Cabral, nem que seja pela Primeira Travessia do Atlântico Sul e a sua importantíssima contribuição para a navegação aérea astronómica (nem sei quantas ruas com o seu nome há espalhadas pelo país).

E, desculpar-me-á também, mas quem me dera que os meus dois filhos viessem a ter, no futuro, as excelentes carreiras dos seus dois.

Num contexto completamente diferente, considere-se uma Dolores Aveiro, salvo seja.

Helena Sacadura Cabral disse...

Oh!Meu caro João, essas ruas têm muitos anos e por isso é que existem e não lhes alteraram o nome. No resto a Travessia do Atlântico Sul, além de quase não ser, já, falada nas escolas, quando é referida leva bem mais o nome de Gago Coutinho do que o do meu tio...
E se ainda temos Camões é porque ele é o símbolo da nacionalidade. Muito poucos leram, de facto, os Lusíadas, ou conhecem a sua vida.
Os mais velhos e cultos sabem. Mas hoje o que importa é ser-se mediático seja lá o que isso seja.

Teresa Santos disse...

Quem me dera ser Helena Sacadura Cabral. E isto sem qualquer tipo de lisonja.
Quem me dera ter dois filhos como os que tem Helena Sacadura Cabral. Quem me dera ter a capacidade de rir que tem Helena Sacadura Cabral, quem me dera...

Fico-me por aqui!

Anónimo disse...

Estimada Helena, meu pai e meus avós relembraram-me sempre aquilo que aprendi na escola, sobre Sacadura Cabral. Cumpriu-me dar o passo seguinte, de fazer o mesmo lá em casa. Mas na verdade, ainda hei-de fazer um teste aos filhos/as de meus irmãos, a ver se aprenderam o mesmo que eu e sabem quem é. Mas sabe Helena, são coisas destas, entre outras, que me fazem repelir tudo o que cheire a futebol (para além de Eusébio, sempre com aquela sobriedade que o distingue e que muito admiro e respeito, só mesmo Figo, talvez, tenha postura idêntica. Tudo o resto, incluindo este novo “astro”, é para esquecer). E este povo hoje, na sua larga maioria, só conhece quem é quem no futebol e o que vem nas revistas do social. Poucos sabem quem são os outros quem, nas Artes, na Literatura, na História, na Música, na Ciência, Filosofia, na Economia, na Política, etc. E os programas de televisão são outra prova daquilo que interessa “à malta”. Mas, voltando ao distinto familiar e grande aviador, vou fazer-lhes o tal teste. Com consideração, P.Rufino

Helena Sacadura Cabral disse...

Estes post´s deram-me um sopro ao ego. Fiquei inchada. Durou pouco porque liguei o noticiário e voltei à triste realidade.
Mas também vos digo que em período eleitoral, no qual a minha família não sai de cena, eu vivo um dia a dia muitas vezes complicado. Salva-me, de facto, o bom humor. Porque ser mãe dos Portas não é um guião fácil. Tem muito enredo!

Anónimo disse...

permita-me acrescentar um s á palavra conciente do seu post. n é preciso publicar este comentario. parabens pelo blog.

Anónimo disse...

Não sendo despiciendo, ter feito um percurso académico algo rigoroso (S. João de Brito, Católica, INSEAD), não sou "velho", nem me considero culto - a cultura vem a par com a idade e as experiências de vida.

Mas tome nota: mesmo ao começar a minha Primária, e estamos por altura do prec em Portugal, já numa escolinha em Ipanema, RJ, estudava-se os feitos de Sacadura Cabral. Gago Coutinho vinha primeiro só por ordem alfabética.

E isto são factos, ninguém aqui quer inflar egos, mesmo por admiração.

Helena Sacadura Cabral disse...

Meu caro João G.
Disse bem! Numa escolinha...em Ipanema, no Rio de Janeiro!
Palpita-me - será? - que a sua geração - anda próxima da dos meus rebentos. Se assim for, será das últimas a falar de heróis.
Felizmente para mim que cultivo "outros heróis". Os da banda desenhada!
Fico-me pelo Corto Maltese e pela Jane Calamity. Destes ninguém esquece e animam avó e netos.
Mas um bem haja pelas suas palavras.

Pan disse...

Permita-me que acrescente que nunca um jogador de futebol conseguirá voar tão alto como o fez o seu tio, tudo o resto são mesquinhices deste infeliz tempo em que se valoriza, apenas, o mediático. Não esqueça, contudo que, quer o seu tio, quer os eus filhos terão SEMPRE, muito mais importância para o país concreto, do que qualquer pontapeador de bolas. Não queira ser Dolores Aveiro, seja Helena Sacadura Cabral, porque assim não é apenas filha, sobrinha ou mãe, é sobretudo uma pessoa que é conhecida por aquilo que é e faz!
Muito boa tarde!
Francisco Sousa

margarida disse...

... li tudinho e concordo com todos, apetecendo-me dizer:" Milady quer é miminhos!"
'Gago-Coutinho-e-Sacadura-Cabral' é UMA palavra. E a memória existe.
Tenho em casa três fotos (semi)originais, do espólio do meu pai (lindas, emocionantes) dessa aventura fantástica.
Quanto aos infantes, bem, Milady sabe bem o que tem e nós vamos tendo uma ideia e tudo somado (mesmo que um fique com brotoeja) acabam nas raias da nobreza, i.e., elite nacional e 'mai'nada'!

Equivaler-se à mãe do miúdo (deuses, que ele é mesmo um garoto ignorante e deslumbrado!) é um orgulho natural, acrescido do facto de todas as (boas) mães serem seres alados.
Luminosos e únicos.

(No fundo, estamos todos felizes pelo sucesso do rapaz.
Eu gostava era que ele se aplicasse a estudar e a dedicar-se também à caridade..., dream on girl...)

Chega de mimo? :))
Beijinhos.

@na disse...

Cara Helena,

costumo lê-la, mas hoje não consigo evitar comentá-la. Eu percebo o que quer dizer com o seu post, mas não consigo deixar de concordar com os restantes comentadores.
Infelizmente, já faço parte das fornadas em que heróis só em banda desenhada, não é graças às aulas de história que sei quem foram Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Quanto a si, cara Helena, é mãe de dois filhos por quem tenho admiração, não pelas cores que defendem, mas pela força e convicção com que defendem os seus ideais, pelos seres humanos que mostram ser e, isso devem-no a quem os criou e a quem lhes deu exemplo. E sim, Helena, tenho uma enorme admiração por si, pelo que conquistou, pela mulher que mostra ser e, até pelo seu sentido de humor.

Sandro disse...

Cara Helena

Depois de ler os comentários tenho que deixar aqui o meu...

Tenho 25 anos e estudei os Lusíadas na Escola Secundária (para grande prazer meu)... e ainda há bem pouco tempo encontrei um album da Amália Rodrigues no qual ela canta versos do nosso maior poeta, o que voltou a acender a chama da curiosidade e levou-me a ir buscar o livro e voltar a ler alguns cantos.
Falando da Amália, os seus dois albums de "Cantigas de Amigos" deixaram-me com vontade de ler o meu livro de Português do 10º ano onde se analisam os poemas e cantos de D. Dinis, entre outros.

Apesar de ter 25 anos tenho curiosidade em saber mais sobre a nossa cultura e literatura... no meio desta era de consumo imediato existem muitos jovens que vão contra esta maré e têm os mais variados interesses... é engraçado conhecer pessoas e com o passar do tempo descobrir que gostam de jazz, budismo ou de poesia.

Ah, antes que me esqueca... "Gago Coutinho e Sacadura Cabral" são uma só "palavra" como disse a Margarida Pereira... eu soube da sua odisseia sobre o Atlântico na escola (não me lembro em que ano), e é impossível dissociar um do outro.

:)

Anónimo disse...

pois fique sabendo que até os meus netos (de 8 e 5 anos) já sabem que Sacadura Cabral foi um dos homens que saíu de Belém em voo até ao Brasil. E a propósito de ligações familiares, tive em Luanda, há trinta e muitos anos, um fantástico - aliás o MELHOR que alguma vez existiu ! - professor de Matemática de nome Dr. Sacadura Cabral.Será certamente seu parente. Poderá dar-me notícias dele?
Margarida

Helena Sacadura Cabral disse...

Margarida
Era meu primo e filho dum tio meu, também ele professor de Matemática e que foi reitor do Pedro Nunes.
Do lado do meu pai eram 12 irmãos e do lado da minha mãe eram 20. Em qualquer dos casos todos filhos do mesmo Pai e da mesma Mãe.
Percebe-se, assim, que eu ame de paixão a família que tenho e a considere o pilar fundamental da minha vida.

Anónimo disse...

Obrigada Helena. Pelo tempo do verbo posso perceber que já partiu...Recordo-o com uma enormissima admiração e respeito. Fui sua aluna quando tinha 17anos. Ele era um homenzarrão enorme e de cenho franzido, voz grossa, sem quaisquer sinais exteriores de afecto. Mas não me esqueço das vezes que me afagou rapidamente a cabeça, em jeito de recompensa, quando o meu raciocícinio acompanhava o seu. Foram muito mais gratificantes que o 18,5 no exame de 7º ano..
M.

margarida disse...

Fico radiante quando descubro 'jóves' como o Sandro!
RADIANTE!
O descrédito nas gerações mais novas é tal, que me maravilho quando demonstram saber raciocinar, escrever o que pensam e revelar o que sentem.
Lindo.
E apaixonante.
(realmetne, a esperança tem de ser mesmo a última coisa a esmorecer...)

Helena Sacadura Cabral disse...

São os Sandros que me fazem manter o ensino universitário e me levaram a fazer um doutoramento quando os outros já gozam as reformas. Por mero gosto pessoal de realizar um sonho que adiei para que o Pai dos meus filhos o pudesse fazer primeiro.
Passaram 40 anos. Todos se riram quando dei conta da minha decisão. Em boa hora o fiz. Já cá canta para meu enorme orgulho!

margarida disse...

You are beautiful.

Vera disse...

Helena, os seus Filhos são uns Senhores! São cultos e são interventivos. Cada um à sua maneira, cada um do seu lado da vida, mas os dois muito bons. Posso dizer aqui, porque não tenho qualquer problema nisso, que alinho pelo Miguel mas gosto da força do Paulo! Não fique triste. A política é complicada, mas ser futebolista é tão ... sem palavras!